Sem recursos, grupo Se Toque mostra força do trabalho voluntário



Sueli Santos - Grupo Se Toque
Sueli Santos

Por Celina Santos

 

O grupo Se Toque chega aos 12 anos, fazendo um trabalho de verdadeira resistência no acompanhamento a mulheres com câncer em Itabuna. Apesar de ter certificados de Utilidade Pública Municipal e Estadual, a entidade não recebe recursos e conta apenas com a ação voluntária. Sob a coordenação de Sueli Santos Dias, reuniões semanais ocorrem na sede (rua Monsenhor Moisés, nº 181, bairro Pontalzinho – próximo ao hospital Calixto Midlej Filho). Quem se interessar em colaborar, até mesmo fazendo refeições do “Café com Amor”, pode ligar para (73) 98819-1344. Sobre o assunto, Sueli discute na entrevista a seguir.

 

Como está o trabalho de orientação às mulheres que têm câncer de mama?

Olha, o trabalho do grupo Se Toque é pequeno, o campo exige muito mais. Era necessário que nós tivéssemos condições e recursos, material humano e financeiro para fazer mais. Nós temos dois grandes desafios: o apoio ao paciente em tratamento, que encontra uma série de dificuldades: de como a família se portar durante o tratamento, como cuidar, como compreender, vêm as condições de saúde, higiene, financeiras, os desafios do paciente SUS. Ao lado disso, temos também a questão das mulheres saudáveis em relação à prevenção.

Então vocês atendem tanto a mulheres que já têm o câncer como atuam na prevenção, para que outras não venham a ter.

Exatamente.

Quantas são acompanhadas hoje?

Temos em torno de uma dúzia de pacientes que acompanhamos de perto. Fazemos visita domiciliar, orientação, apoio material quando necessário e temos outras que fazemos acompanhamento mensal. Temos alguns profissionais que voluntariamente nos ajudam, como psicólogos, nutricionistas. Temos uma nutricionista e três psicólogas, mas precisamos de mais. Temos pacientes que visitamos no serviço de quimioterapia, temos o ‘Café com Amor’, que levamos lanche e fazemos uma acolhida para os pacientes do SUS toda semana. Quando possível, a gente faz um trabalho de orientação em saúde nas comunidades. No Dia da Mulher, por exemplo, fizemos uma manhã de orientação, com uma equipe multidisciplinar focando na importância da prevenção. Porque ainda vemos pessoas que descuidam muito em relação à alimentação, sedentarismo, uso de álcool e fumo, fatores de risco que podem ser evitados.

Com que apoios vocês contam no momento?

Temos o apoio de profissionais liberais, que nos ajudam com seus serviços. Não dispomos de recursos financeiros e esse é um limitador. Aliado a isso, precisamos ampliar o trabalho para as mulheres entenderem a responsabilidade que têm com seu corpo e sua saúde. Ainda encontramos mulheres que detectam alterações em seu corpo e, por medo, não procuram um serviço médico para investigar e se tratar. Só vão procurar quando a situação já se agravou. Muitas vezes, o diagnóstico inicial, que era tratável, passa a ser apenas de cuidados paliativos, o que é muito ruim.

A entidade tem certificados de Utilidade Pública Municipal e Estadual. Isso não garante nada em recursos?

Nossa meta é conseguir o certificado de Utilidade Pública Federal, para poder fazer um trabalho maior. [Quanto aos] certificados em nível estadual e municipal, até hoje o poder público não nos ofereceu nenhuma possibilidade de contribuição. Ao contrário, quando nos procuram, é para que a gente forneça alguma coisa.

O grupo Se Toque é sempre associado ao acompanhamento das mulheres com câncer de mama. Mas vocês assistem vítimas de câncer em geral…

É um grupo de apoio a pacientes com câncer, não importa qual. Não temos um acompanhamento maior com homens. Eles se sentem inibidos, porque o grupo é basicamente de mulheres; esporadicamente, a gente tem um ou outro paciente carente homem.