Eduarda Anunciação, filha do saudoso Eduardo Anunciação, vai me presentear com o arquivo do inesquecível, polêmico e inquieto jornalista.
Rascunhos dos seus escritos, crônicas, fotos, enfim, todo o acervo jornalístico guardado com carinho pelo papai, que ela tanto amava.
Eduardo era meu primo preferido. Conversava com ele quase todos os dias e o assunto não poderia ser outro: política, política e política.
Chegamos até a ter um blog com o mesmo nome da sua conceituada coluna no Diário Bahia, do amigo Valdenor Ferreira: Política, Gente, Poder.
Eduardo foi o primeiro jornalista da Bahia a criar uma instituição que visava dar ao cidadão uma consciência política, fundando o Centro Popular de Formação Política de Itabuna.
Outra passagem que não esqueço, e foi Eduardo que também criou, foi a famosa “Turma da Jaca”, que acontecia todos os sábados no bar Braseirão. Tive a honra de ser o secretário.
Era um encontro para discutir a política de Itabuna. No final, lá pelas tantas da noite, tinha o discurso com um cabo de vassoura. Na mesa, além das cervejas e dos petiscos, uma enorme jaca.
Os convidados também discursavam. Por lá passaram Ubaldo Dantas, Renato Costa, Geraldo Simões, João Henrique (ex-prefeito de Salvador), vereadores e muitos outros.
Vou publicar no blog O Busílis (obusilis.com.br) seus melhores artigos. Eduardo tinha uma inominável paixão pelo jornalismo político.
Um grande presente, um presentão. Obrigado, Eduardinha. Eu também amava seu pai.
Otto, Lídice e a sucessão presidencial
Toda vez que faço um comentário sobre as decisões que vêm de cima para baixo, lembro do meu afastamento da presidência da comissão provisória do PDT de Itabuna.
Esqueci até o ano que aconteceu, mas o motivo foi a posição que tomei, junto com outros companheiros, em não apoiar a então candidatura de Fernando Gomes à prefeitura.
Colocaram no meu lugar o advogado Dinailton Oliveira, filho do saudoso Daniel Gomes e sobrinho de Fernando Gomes, atual prefeito do município.
O manda quem pode, obedece quem tem juízo, como gostam de dizer os dirigentes partidários, já começa a mostrar suas afiadas unhas.
Em relação à sucessão presidencial, o comando nacional das legendas não vai permitir que as executivas estaduais tomem um caminho diferente da cúpula.
Quem não apoiar o candidato a presidente da República definido pela instância maior da agremiação partidária pode perder o controle do partido no Estado.
Citando apenas dois exemplos da Bahia, os senadores Otto Alencar e Lídice da Mata, respectivamente do PSD e PSB, estão nesta situação.
Se o ex-ministro Joaquim Barbosa, que foi presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), for o candidato do PSB ao Palácio do Planalto, Lídice terá que apoiá-lo.
O mesmo raciocínio vale para Henrique Meirelles, ministro da Fazenda do governo Temer e do mesmo partido de Otto Alencar, o PSD.
É evidente que as executivas nacionais do PSB e PSD não vão permitir que um dirigente estadual suba no palanque do adversário. No caso em tela, Lídice e Otto apoiando Lula (PT).
Quem vai receber esses presidenciáveis na Bahia? Vão ficar a ver navios, desamparados? E o instituto da fidelidade partidária, o compromisso com a legenda?
Lídice da Mata e Otto Alencar vão ter que se explicar diante do comando maior do PSB e do PSD. Não tem cabimento um partido lançar um candidato à presidência da República e não contar com o apoio do dirigente estadual.
Como os partidos de hoje fazem política na base do salve-se quem puder e do vale-tudo, estão “modernos”, esse comentário talvez não passe de uma imperdoável ingenuidade política.
Caça aos infiéis
O PMDB resolveu usar o instrumento da fidelidade partidária para expulsar os “rebeldes”. A primeira vítima foi a senadora Kátia Abreu, que votou contra o impeachment de Dilma Rousseff (PT).
O próximo “peixe” a ser fisgado pelo anzol da infidelidade é o também senador Roberto Requião, lá do peemedebismo paranaense.
Se a moda pegar, vamos ter uma enxurrada de expulsões. Não é à toa que muitos parlamentares estão de olho na janela partidária para mudar de partido.
Aqui na Bahia, por exemplo, a composição da chapa majoritária do governismo caminha para ter dois integrantes de legendas que fazem parte do “centrão”.
O chamado “centrão” é um grupo de parlamentares que apoia o governo Temer na base do toma-lá-dá-cá, da farinha pouca, meu pirão primeiro.
Os três partidos que disputam as duas vagas restantes na majoritária são do centrão: PP de João Leão, PR de Carletto e o PSD do senador Otto Alencar.
Até as freiras do Convento das Carmelitas sabem que as chances do PDT de Félix Júnior, PCdoB de Davidson Magalhães e do PSB de Lídice da Mata são remotíssimas, quase inexistentes.
Participando da majoritária vão ter que subir no palanque de Lula e fazer campanha para o petista-mor, que vai ser candidato sob a proteção de uma liminar do STF. Uma candidatura sub-judice.
O candidato do governo Michel Temer, para contrapor as outras candidaturas de esquerda, centro-esquerda e centro-direita, sairá do centrão, que além do PR, PP e PSD, tem o PMDB e o DEM. O PSDB é um enigma. É o partido do vai-não-vai.
Mais cedo ou mais tarde, o comando nacional das legendas que integram o centrão, sob pena de perder os cargos federais, mais especificamente os ministérios, irá enquadrar os desobedientes.
Se o candidato do presidente Temer e do centrão for Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, que é do PSD, o senador Otto Alencar fica em uma situação desconfortável.
O mínimo que pode acontecer com Otto é perder o comando estadual do partido na Bahia. Esse apoio do PSD à reeleição do governador Rui Costa já está sendo questionado nos bastidores.
Com a proximidade da eleição de 2018, principalmente para a presidência da República, a disputa tende a ficar mais acirrada. O manda quem pode, obedece quem tem juízo, entra em cena.
As pesquisas e os políticos
Chega a ser engraçada a maneira como os políticos de todos os partidos – disse todos; portanto, sem exceção – usam as pesquisas eleitorais de acordo com seus interesses e conveniências.
Quando os resultados são bons, aí o instituto tem credibilidade, competência, não foi manipulado pelo contratante e é merecedor de confiança.
Um exemplo bem recente desse “morde e assopra”, do xingar e depois elogiar, ocorreu com o instituto Paraná na consulta para o governo da Bahia e o senado da República.
Ao sair o resultado apontando uma frente de ACM Neto (DEM) sobre o governador Rui Costa (PT-reeleição), os petistas ficaram furiosos, esculhambaram com a empresa.
Agora é a vez dos demistas, já que a Paraná Pesquisas coloca José Ronaldo, prefeito de Feira de Santana, atrás da comunista Alice Portugal (PCdoB) na disputa pelo Senado. Wagner é o primeiro.
Em relação às pesquisas de intenções de voto, os políticos são como bandas da mesma laranja, farinhas do mesmo saco ou, então, se o caro leitor preferir, bananas do mesmo cacho.
Continua o mistério
O instituto Paraná Pesquisas não deu nenhuma explicação sobre a ausência do nome de Lídice da Mata na recente enquete para a disputa das duas vagas para o Senado da República.
Lídice é senadora e busca a reeleição. Como detentora de mandato, sua candidatura, na chapa governista, deveria ser a segunda da fila, já que a do ex-governador Jaques Wagner é favas contadas.
O comando estadual da legenda, sob a batuta da própria Lídice da Mata, deve pedir um esclarecimento sobre a estranha exclusão da parlamentar.
Ora, não tem cabimento uma pesquisa de intenções de voto sem citar Lídice, salvo se ela desse uma declaração de que não seria mais candidata.
E aí fica a pergunta: Por que a Paraná Pesquisas excluiu Lídice da consulta?