É muito comum na Bahia, principalmente no universo do Carnaval, bater palma quando alguém desce até o chão ao comando de uma boa batucada. Se a pessoa consegue fazer o movimento completo, está mesmo com o molejo no lugar! E nós encontramos um homem que prova, com quase 75 anos, ter o requebrado bastante preservado, ora. É José Ribeiro de Souza, conhecido como Zé Retratista.
Já que chegamos, mais uma vez, na época da “Lavagem do Beco do Fuxico”, fomos em busca deste personagem ilustre do bairro Banco Raso, em Itabuna. Acompanhada do ator e amigo Lucas Oliveira, batemos à porta de seu Zé, que chegou de bicicleta a nossa entrevista. Naquele domingo, ele participava desde cedo de um mutirão no São Caetano, para ajudar a erguer a casa de uma mulher cujo barraco literalmente desabou.
Eu já via ali um traço do folião solidário, um pouco apressado para voltar à labuta. Mas nossa conversa foi suficiente para ele contar que, por cerca de 20 anos, saiu com as “Cocotas do Banco Raso” para a Lavagem do Beco e, também, para os outros dias do Carnaval de Itabuna. Quando o bloco deixou de participar da festa, ele passou a desfilar com o afoxé “Ylê Odara – Casa Bela”, vindo de Ilhéus.
Percebemos que o segredo para tanta vitalidade (ele completará 75 anos em junho) é mesmo uma rotina temperada com atividade física a vida inteira. Além de curvar bons quilômetros sempre de bicicleta, brinca movendo a rótula do joelho e enumera: “Sou capoeirista; dentro da minha idade, corro maratona; gosto de tênis; sou bom de bola…”.
Ele aposentou-se após trabalhar na Ceplac, no IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), entre outras experienciais profissionais.
Parceria de décadas
Por falar em Ilhéus, José Ribeiro de Souza nasceu lá, em uma família de cinco irmãos. “Minha mãe trabalhou com Gabriela”, recorda. O nativo da cidade vizinha, no entanto, veio de mudança para Itabuna quando se casou com dona Nilda Souza, de 69 anos. Juntos há quase 50, tiveram sete filhos, hoje todos formados e independentes. São unidos e, inclusive, dispostos a servir um ao outro, bem como aos pais, em todas as horas.
Dona de um sorriso largo e um olhar perspicaz, a esposa é pintora autodidata, exibe os quadros na parede e reencontrou os estudos na fase adulta. Para completar o clima de alegria visível em toda a família, também compõe e canta. Hoje, no casamento, ela tenta dar certo freio ao marido tão ativo. Seu Zé não tem limitações na alimentação; “ele come de tudo”, conta dona Nilda. Mas por recomendação médica, precisou parar de beber – embora dê uma escapadinha de vez em quando.
Diante da digníssima, por sinal, nosso folião-mor é todo derretido. “Ela é tudo em minha vida, é minha escora; se não fosse essa mulher, eu não tava vivo. Sempre falo que eu sou a agulha e ela é a linha. Aqui tudo é dela”, afirma, diante do olhar brilhante da esposa.
Um convite!
Seu Zé Ribeiro recorda que o gosto pela folia vem de família. Desde a infância, a mãe inseria todos os filhos no mundo de momo. Saíam com máscaras de careta e ali tomaram gosto pela brincadeira. “Eu amo Carnaval!”, resume o ilheense/itabunense. Se me permitem, como a trajetória dele foi marcada pelas duas cidades sul-baianas, podemos considerá-lo filho de ambas.
Uma ligeira ressalva: seu Zé fez questão de dizer que não é um mero “retratista”. “Tenho mais de 50 anos de fotografia. Sou fotógrafo profissional, faço eventos de casamento, aniversário, jornal… não é ‘lambe-lambe’”. Ok! Com esta história merecedora de todos os aplausos, acrescento um convite. Como é tempo de mais uma “Lavagem do Beco do Fuxico”, nosso sábado de Carnaval, podemos copiar o exemplo de Zé Ribeiro. Vambora descer até o chão???