Uma voz sempre buscada quando se pensa em bolsa de sangue em Itabuna é do coordenador de captação do Banco de Sangue da Santa Casa de Misericórdia, Rosildo Ribeiro. Ouvido pelo Diário Bahia, ele contou de onde vem o envolvimento com a causa. Consideramos bem apropriada esta história logo após o 25 de novembro, Dia Nacional do Doador de Sangue.
Aos 55 anos, o profissional tem cerca de duas décadas envolvido com o cenário de uma matemática delicada no setor. Ou seja, a oferta de bolsas é sempre menor do que a necessidade. E a situação tornou-se ainda mais complicada com as naturais recomendações de isolamento na pandemia.
“As doações caíram em torno de setenta por cento. Chegávamos a colher três, quatro unidades de sangue por dia. No outro dia, para poder compensar, a gente colhia 10, 12. Porque nós precisamos colher em torno de 50 a 54 unidades por dia e raramente colhia 21, 15, 16 unidades. Mas fechando as contas, chegamos a uma queda de setenta por cento no pico”, computa.
Ele falou, ainda, do aumento na demanda em paralelo à diminuição de doações nesse período. “Nessa época foi onde mais aumentou o consumo porque muitas pessoas que foram vitimadas pela covid precisaram tomar sangue. Tem alguns pacientes que ainda estão internados que ainda estão tomando sangue”, informa.
Aos tipos sanguíneos
O Banco de Sangue de Itabuna atende a pacientes de 126 municípios pactuados, mas acaba prestando serviço a mais cidades, a depender da demanda. Dos oito grupos, os tipos sanguíneos com fator RH negativo são os mais raros. “O” negativo, doador universal, é uma espécie de “coringa”; por outro lado, só recebe de mesmo tipo.
Segundo o coordenador, geralmente o tipo mais encontrado em estoque é o A positivo (tipo mais comum) e o AB positivo (receptor universal).
Saídas e recordações
Apesar da carência de bolsas ainda maior, ele é otimista com o resultado do trabalho dentro das possibilidades reais. “Para se ter uma ideia, parentes das vítimas não iam doar sangue com medo de ser mais uma vítima. Mas, com toda a dificuldade, nós conseguimos salvar vidas e não morreu ninguém por falta de sangue porque vieram pessoas de outras cidades. Botei ônibus, criei um projeto “Caravana itinerante pela vida”, aí busquei doadores em vários municípios aqui da região”, exemplifica.
Sereno e de olhar atento, Rosildo recorda ter se tornado doador aos 18 anos, quando serviu ao Tiro de Guerra. Ali, foi orientado pelo Sargento Raimundo, então superior dele na instituição. “Ele nos orientava pra que nós pudéssemos fazer alguma coisa de bem pela população, pela cidade, pelas pessoas que você não sabe quem é; e essa forma mais prática é doando sangue”, recorda.
Questionado sobre ao menos uma das histórias mais marcantes na trajetória nesse setor, citou uma madrugada chuvosa em que uma mãe bateu à porta dele, na ânsia de salvar uma vida. “Ela estava chorando, porque estava com uma criancinha internada no Hospital Manoel Novaes, na época que tivemos aquela situação complicada com relação à dengue. A filha dela, de três anos, estava com dengue hemorrágica, precisava de plaquetas. (…) Graças a Deus, ajudamos e a filhinha dela está viva para contar a história”, detalha.
Outro episódio, recente e igualmente marcante, foi quando uma senhora o abordou no Hospital de Base e pediu para dar um abraço. Manifestou gratidão porque uma bolsa de sangue ajudou a socorrer a vida da filha dela. “Essa menininha aqui foi que você ajudou a salvar a vida; aí nos emocionamos ela, a filha e eu”.