Sabe quando a linha do tempo (timeline, para não fugir da toada contemporânea de “americanizar” a linguagem) segue uma trilha que para muitos era improvável? O menino do distrito de Banco Central, em Ilhéus, não nega ter enfrentado a temida fome, as mais diversas formas de pré-conceito e mostra muito mais do que os tão buscados títulos da universidade.
Estamos falando do hoje professor e escritor Gabriel Nascimento, docente na UFSB (Universidade Federal do Sul da Bahia). Doutor em Letras pela cobiçada USP (Universidade de São Paulo) e mestre em Linguística Aplicada, pela UNB (Universidade de Brasília), o educador lançou o livro “O rio do sangue dos meninos pretos” – o quarto da carreira literária dele.
A obra, publicada pela Editora Letramento, é um romance ambientado entre Itabuna e Ilhéus, que relaciona temas delicados, como racismo e violência. O objetivo, é claro, é provocar reflexão.
Gabriel considera que a publicação busca recuperar formas de resistência, nas mais diferentes esferas, contra um racismo que considera “endêmico” no Brasil. “O livro traz um entendimento da noção de violência, como o amplo armamentismo, o racismo institucional, toda essa situação em um país em que a cada 23 minutos morre um jovem negro (segundo o relatório da CPI do Genocídio da Juventude Negra)”, declara.
Para ele, a contribuição do livro neste momento do país é crucial, uma vez que resgata temas efervescentes e necessários. “É importante questionar sobre essa ‘indústria da morte’”, observa o autor, em entrevista ao Diário Bahia.
Do berço à resistência
Numa autoapresentação, Gabriel Nascimento define-se assim: “Professor desde sempre, poeta às vezes, músico de família. Sobrevivente da fome, seguido por seguranças em lojas de elite, descobri na universidade, esse paradoxo institucional conservador, um lugar para resistir”.
O jovem, nascido em Itabuna, no Hospital Manoel Novaes, por uma questão logística, faz questão de mencionar a mãe, dona Sônia. Olhando além das raízes, frisa sobre “a busca por fazer com que alunos e orientandos negros enxerguem como passado os quase quatro séculos de escravização negreira”. Autodidata desde a infância, ele é professor de inglês e revela escrever compulsivamente.
Mais informações sobre o escritor sul-baiano podem ser obtidas no site http://www.gabrielnascimento.com/?m=1. Vale lembrar, por fim, que deverão ser programados lançamentos presenciais, em Itabuna e/ou Ilhéus, do livro aqui tratado.