Jornal GGN – Declarando-se “indignado” com as acusações de que seria receptor de propina, o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB) roubou a cena nesta sexta-feira (17) ao disparar ferozmente contra a atuação da força-tarefa da Lava Jato. Isoladamente, elevou o tom contra o Planalto e vestiu-se oficialmente de opositor à Dilma Rousseff (PT). Essa noite, porém, ele vai à cadeia nacional de rádio e televisão vender a imagem de presidente de uma Câmara “forte e independente”, mas não necessariamente opositora.
Contra ele, um barulhaço pelas redes sociais foi organizado. Na contramão, a página oficial de Eduardo Cunha no Facebook convoca seguidores do peemedebista a participarem de um “aplausaço” para o início do pronunciamento do deputado, que fará um balanço de sua gestão, às 20h25.
A expectativa é de que assuntos polêmicos como a redução maioridade penal e o financiamento empresarial de campanha sejam debatidos. Nenhum será capaz de superar, entretanto, a reação de Cunha à delação premiada do lobista Julio Camargo, que representava a Samsung em negócios com a Petrobras. Em depoimento a Sergio Moro, Camargo disse que Cunha cobrou pessoalmente cerca de 5 milhões de dólares em propina, em 2011, e afirmou que o dinheiro seria usado em campanhas eleitorais.
Segundo relato da jornalista Natuza Nery (Folha), a fala de Camargo – que endossa acusações feitas anteriormente pelo doleiro Alberto Youssef – pesou sobre os ombros de Cunha. Pela primeira vez, ele abandonou o ar de intocável e concedeu uma entrevista coletiva na qual “literalmente espumava diante da imprensa”.
“Um político que escuta a voz das ruas e busca por em prática a vontade do povo acaba incomodando aqueles que colocam interesses próprios acima das demais vozes”, sustentou a equipe de comunicação de Cunha na internet, em convocação para o “aplausaço”.
Analistas e desafetos de Cunha avaliaram, contudo, que a estratégia do presidente da Câmara é arriscada, e ele pode acabar radicalizando demais e perdendo o apoio de seus fiéis seguidores no Parlamento. Hoje, ficou evidente em seu discurso de vítima de perseguição política do governo que Cunha vai usar a Câmara como um escudo, enquanto puder. Isso porque há informações de que o PGR Rodrigo Janot deverá pedir seu afastamento da Mesa Direitora.