Foi realizada na tarde desta segunda-feira (13), a audiência pública Controle Fitossanitário da Monilíase do Cacaueiro. Transmitida a partir da Câmara dos Deputados, em Brasília, a audiência teve participações presenciais e também virtuais, sendo que os trabalhos foram transmitidos ao vivo pelo site da casa legislativa. A audiência foi solicitada pela deputada federal baiana Lídice da Mata, que presidiu os trabalhos a partir de Brasília.
A monilíase ataca principalmente frutos de cacau e cupuaçu. Atualmente, a praga está presente em todos os países produtores de cacau da América Latina, mas o Brasil não possuía histórico da doença, apesar dela ser monitorada no território desde pelo menos o ano de 2005. Agora, as preocupações se redobraram por conta da descoberta de um foco nas cidades de Cruzeiro do Sul e Mâncio Lima, ambas localizadas no Acre.
Na audiência foram apresentados o histórico da doença pelo mundo e a situação do foco encontrado no Acre, como também as diversas ações que vêm sendo realizadas, por diferentes órgãos e entidades, para o combate a uma possível disseminação do fungo por outros territórios do Brasil.
Participaram das exposições e debates técnicos e pesquisadores do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Acre (Idaf), da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab) e da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura da Bahia (SEAGRI), dentre outros órgãos e instituições. A audiência foi acompanhada, virtualmente, pelo Secretário da Agricultura da Bahia, João Carlos Oliveira, e pelo diretor-geral da Adab, Oziel Oliveira, dentre outras autoridades baianas ligadas ao setor agropecuário.
Lídice da Mata chamou a atenção para a necessidade de um combate rápido e forte à monilíase em território brasileiro, “e isso tendo a pesquisa como destaque, pois sem a ciência não temos como ir à frente nessa batalha”.
Outras ações também foram defendidas pelos técnicos em suas exposições, como os controles cultural, biológico e químico, além da implantação de um manejo adequado. Chamou-se a atenção para a necessidade de toda uma campanha educacional e informativa sobre o tema, bem como foi destacada a necessidade de criação de material que referencie as ações nos estados, a exemplo da Nota Técnica emitida na Bahia pela Adab (ao final desta matéria a nota técnica fica disponibilizada à leitura).
Foco no Acre – No dia 22 de junho, a proprietária de uma casa com amplo terreno, localizada na área urbana da cidade de Cruzeiro do Sul, no Acre, emitiu fotografias, ao Mapa, registrando frutos de cacau contaminados. Já no dia 28 de junho foi iniciada a fase investigativa de coleta de amostras por toda a região. A investigação, até agora, detectou frutos contaminados em dois terrenos de casas de Cruzeiro do Sul e em outros dois terrenos da cidade de Mâncio Lima, todos pertencentes a integrantes de uma mesma família, daí o Mapa estar considerando esses quatro casos como um foco único.
Nesse instante, há barreiras fitossanitárias nas fronteiras do Brasil com os países vizinhos ao Norte e também existem barreiras nas fronteiras do Acre com outros estados brasileiros. Auditores e técnicos da área agropecuária, oriundos de 14 unidades da federação, já estão convocados para atuarem no combate à praga em ações que compõem um planejamento já realizado e que, nesse primeiro momento, vai até dezembro de 2021. Porém, como chamaram a atenção os expositores durante a audiência, esses combate e monitoramento serão estendidos, em caráter reforçado, por pelo menos dois anos.
Ao final da audiência, a deputada Lídice da Mata destacou a importância dos trabalhos que vêm sendo realizados para o combate à monilíase no Brasil, e ressaltou a importância da cadeia produtiva do cacau. “É preciso destacar que a cultura do cacau na Bahia, durante a vassoura-de-bruxa, teve um impacto devastador na economia do estado e também na economia dos produtores. É preciso que o Ministério da Agricultura busque manter um olhar igualitário entre as diversas culturas e seus impactos nos diversos territórios deste país. Quando falamos de cacau, falamos do chocolate, que tem crescimento de consumo em todo o mundo, o que faz com que essa cultura, a cultura do cacau, tenha ainda maior importância. É necessário que a produção de chocolate no Brasil seja vista e estimulada, pois gera emprego e renda para o país”.
Durante a audiência, as principais exposições técnicas foram realizadas por Graciane Castro (Mapa), Rafael Moyses Alves (Embrapa); José Francisco Thum (IDAF/Acre); Maciel Silva (CNA); e Catarina Cotrim de Mattos Sobrinho (Adab).
Repercussão – Após acompanhar a transmissão, João Carlos Oliveira comentou que a SEAGRI “participa dessa grande força tarefa que inclui diversos órgãos e entidades ligados à agropecuária do Brasil, sob o comando do Mapa, no esforço por impedir que a monilíase se dissemine pelo Brasil”. O secretário da Agricultura da Bahia também frisou que não poupará esforços nesse combate. “Munidos da melhor técnica e direcionados pela ciência, seguimos nesse enfrentamento e também estimulamos o desenvolvimento de clones de cacau que sejam resistentes ao fungo. Temos que agir em várias frentes e é o que estamos fazendo”.
O diretor-geral da Adab, Oziel Oliveira, lembrou a importância social e econômica do cacau e ressaltou que “a defesa fitossanitária da Bahia entende que o enfrentamento à monilíase vem da prevenção e da proatividade. Isso inclui não apenas a fiscalização, mas também a educação sanitária, a pesquisa e a orientação de produtores e comunidades”.
Já o superintendente federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento na Bahia (SFA/BA), Nilo Ferreira de Azevedo, destacou que “o dano social causado por essa doença é bem superior ao econômico, haja vista que a maioria dos produtores são familiares, então, dependem da produção das propriedades para o sustento das famílias. Não medimos esforços para o controle dessa doença, tanto que os órgãos fiscalizadores da Bahia e nós, que somos ministério, recrutamos profissionais também da Adab para agirem no Acre, onde está o foco. E estamos fortalecendo mais esse vínculo SEAGRI, Adab e SFA/BA para combatermos a doença”.
Sobre a união de forças no combate à monilíase, o chefe da Divisão de Defesa Agropecuária da SFA/BA, Cássio Peixoto, disse ser de extrema importância essa “ação estratégica que vem acontecendo, de forma conjugada, entre a parte de pesquisa e a defesa agropecuária. E isso, sobretudo, tratando o tema como uma política de Estado. O cacau gera renda, gera divisas, postos de trabalho, e essa cultura se encontra ameaçada pela monilíase. Mas hoje foi demonstrado que o Ministério da Agricultura, a Secretaria da Agricultura do Estado da Bahia e a Adab estão unidos e com plataformas extremamente solidas para o combate à monilíase”.