O famoso carpete azul dá lugar a uma cerâmica branca; saem as poltronas acolchoadas e entram cadeiras de madeira; adeus ao tradicional terno e gravata, porque até mesmo a boa e velha bermuda é vestimenta livre. Estamos falando do ”Senado” instalado no Café Pomar, na avenida do Cinquentenário, no coração de Itabuna.
Por falar em coração, as emoções correm soltas durante a troca de ideias no local. Estivemos lá para ver de perto a fama dos senadores legitimados pelo Ministério da Política Grapiúna (permitam-me chamar assim. Risos).
Fui ciceroneada pelo jornalista e orador-mor Paulo Lima, junto com o articulista político e advogado Marco Wense, frequentadores assíduos do estabelecimento, fundado em 1943. Ao longo dos anos, teve diferentes proprietários. Atualmente, é Danilo Pitombo.
Paulo contou que entrou pela primeira vez no Café Pomar quando tinha 10 anos e desde então segue como presença constante. “Aqui é uma rua para poesia, eventos culturais”, afirmou, sobre a travessa lateral ao Café.
Wense, que já compartilha seus pensamentos com os leitores em sites, blogs e por muito tempo neste Diário Bahia, definiu: “Aqui não tem preconceito, não tem discriminação; tem fazendeiro, pode vir membro do MST, comunista, bolsonarista, cada um dá sua opinião; é o espaço mais democrático de Itabuna hoje”.
Ponto de encontro
Servidor da Ceplac como segurança há 49 anos, José Santana foi poético quando pedi uma classificação para quem participa dos encontros. “Os Sábios do Pomar”, respondeu. “Aqui encontro acolhimento, amizade, um ambiente sadio”, acrescentou.
O professor, escritor e ativista cultural Antônio Oliveira, conhecido como Ton Poesia, comparou o Café Pomar às praças gregas (Ágoras) na Antiguidade Clássica, onde os filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles dividiam suas inquietações com o mundo. Alusão bem chique, hein?
“Tem o cara de esquerda, de direita, o homossexual, o poeta, tá todo mundo lá; agora, todo mundo com capacidade de falar”, elaborou. Na mesma linha, o advogado Rui Corrêa completou: “Itabuna é muito carente de pontos de encontro, para as pessoas produzirem ideias, cultura, política”.
Já o também advogado Rommel Vasconcelos, considera que o Café Pomar é um lugar para encontrar amigos e correligionários. Com isso, perguntamos se é filiado a algum partido. Ele lembrou ter se filiado ao PSB anos atrás, mas hoje entende que seu posicionamento político o classifica como “de direita”.
Também habitante fiel do Pomar, o empresário Zito Sergal resumiu: “O melhor de tudo é a presença de Deus aqui e esses amigos, que juntos falam a mesma linguagem. Aqui virou um ponto de encontro nosso, onde a gente fala muito de política”.
Eleitor, pra quê te quero?
Como estamos em um ano pré-eleitoral, uma legião de pré-candidatos busca mostrar o brilho do olhar em toda parte. Por isso, o Senado do Pomar já iniciou uma sabatina com os pretendentes a se sentar à cadeira de prefeito de Itabuna. É sempre às segundas-feiras. Mas Wense já escreveu, para preservar a honra dos colegas: “o toma lá é a pergunta; o dá cá é a resposta”.
Ah! Devo acrescentar que nossos “senadores” são servidos pelas funcionárias Fabiana Santos, Cristiana Santos e Alexiene Maciel. Elas preferiram não ser fotografadas, mas disseram gostar de trabalhar ali. Mesmo quando alguns debates são um pouco alterados. “É bom que a gente aprende”, disse Cristiana.