A figura sensível e dedicada do cantor Letto Nicolau, de 60 anos, saiu fisicamente de cena, mas deixou a presença marcante na cultura baiana. Fundador da Sociedade Filarmônica Capitania dos Ilhéos, compositor e regente, sofreu um infarto na noite de quarta-feira (11) e foi sepultado na quinta.
Ele foi também o primeiro presidente do FAEG-Sul (Fórum de Agentes, Empreendedores e Gestores Culturais do Território Litoral Sul da Bahia). De forma parceira, contribuiu com a escrita e execução de projetos, além da formação musical de inúmeros artistas da região.
A atriz e produtora Eva Lima, atual diretora de Cultura do município de Santa Luz, lamentou a morte do cantor e lembrou as experiências com ele compartilhadas. “Pra você, tiro meu chapéu e deixo o estandarte da cultura de hoje. Quantos trabalhos juntos, desde a Banda Massa Real, nos idos dos anos 80”, recordou.
Amiga do artista, a intérprete de Libras Roberta Brandão lembrou o quanto ele ensinava as pessoas a se ouvir. “Letto dizia que a escuta é algo mais importante que a gente pode fazer com o outro, uma escuta ativa o tempo inteiro. Durante muitos anos, ajudou muitos adolescentes, acolheu com a sabedoria que tinha de cuidar do outro”, pontuou.
Homenagem da Estação Orgânica
Polivalente, era também um apicultor que amava cuidar das abelhas e a elas dedicar toda observação e paciência. Recebeu homenagem no Instagram da Estação Orgânica Grapiúna, que tem à frente o também artista Cláudio Lírio. A seguir, reverência prestada através de texto da poetisa Neuzamaria Kerner (outra amiga do saudoso cantor ilheense).
LETTO
Finito é quem erra
nos caminhos sem luz
sem música das abelhas
nas colmeias douradas de mel
Finito é quem não deixa
o som de sua vida
para os ouvidos atentos.
Sem fim é quem parte
e deixa delicadezas
tatuadas na alma de quem fica.
Fica tudo de quem doou:
O som da viola
O som da voz
O som do amor…