O PT não está em condição de se achar superior. Suas principais lideranças estão sendo denunciadas no âmbito da Operação Lava Jato.
Mas parece que certos petistas ainda não atentaram para a gravidade do momento por que passa o partido, com sua imagem cada vez mais arranhada.
Ninguém, pelo menos em sã consciência, pode negar a importância histórica do PT, principalmente na luta pela redemocratização do Brasil.
Era uma agremiação partidária do discurso da ética e do respeito ao dinheiro público. E assim foi conquistando milhares e milhares de filiados e simpatizantes.
Ao chegar ao topo do poder, no comando da Presidência da República, muitos petistas ficaram embevecidos e deixaram de calçar as “sandálias da humildade”.
O PT precisa é de uma profunda e urgente reflexão, de um pedido de desculpas ao povo brasileiro e a sua aguerrida militância.
Alguns petistas, no entanto, achando que a estrela não perdeu nenhum ponto de luminosidade, continuam arrogantes. Não perdem a oportunidade de dizer que o PT está acima das outras legendas.
Veja, por exemplo, o que diz Marcelo Zero, colunista do Brasil 247: “Sem o PT e a liderança popular de Lula não haverá democracia real no Brasil. Sem Lula e o PT, o povo brasileiro será forçado a escolher entre a direita “apolítica” e a extrema direita caricata”.
Portanto, na opinião de Zero, só o PT e Lula podem restabelecer a “democracia real”, como se os outros partidos fossem insignificantes, incluindo aí o PCdoB, PSB, PDT, Rede e o PSOL.
Outra soberba foi dizer que o eleitor não terá outra opção que não seja Lula, e que será forçado a escolher entre um candidato da direita “apolítica” e da extrema direita “caricata”, se referindo, respectivamente, a João Doria e a Jair Bolsonaro.
Para Zero, candidaturas como a de Ciro Gomes pelo PDT e Marina Silva pela Rede, só para ficar em dois exemplos, são irrelevantes, desprezíveis e sem importância.
Quando o pragmático Lula se aproxima de Renan Calheiros, responsável direto pelo impeachment de Dilma Rousseff, o silêncio é ensurdecedor. Ficam caladinhos e se escondem debaixo do cobertor do constrangimento.
O PT continua se achando. Se Lula ficar inelegível, o petismo não terá candidato, já que Haddad e Jaques Wagner são estrelinhas. O único “estrelão” é Lula.
O comentário de Zero foi extremamente preconceituoso, ao modo Bolsonaro. Coincidentemente, a nota que eu daria para Zero é zero. Esse Zero é um zero à esquerda.
A Polícia Federal e os governos
A Polícia Federal tem demonstrado que não se deixa levar pelos governantes de plantão. Sua atuação é a prova inconteste de que vem se comportando com independência e firmeza.
A PF é vinculada ao ministério da Justiça. Muitos operadores do Direito, incluindo aí juristas renomados, comungam com a opinião de que a instituição deve ser autônoma.
O órgão já efetuou várias prisões de políticos de diversos partidos, até de parlamentares próximos do presidente da República. Fez isso nos governos de Lula, Dilma e agora no de Temer.
Até que tentam acabar com essa ousada “autonomia” da Polícia Federal. Só não fizeram ainda porque sabem do conceito que a instituição tem na sociedade, deixando o Congresso Nacional e o Executivo lá atrás, tomando poeira.
O atual ministro da Justiça, Torquato Jardim, andou ensaiando uma mudança na estrutura da PF, inclusive querendo substituir Leandro Daiello, diretor-geral.
Torquato Jardim teve que recuar. A exoneração de Daiello seria interpretada como uma interferência no âmbito da Operação Lava Jato, principalmente depois que a PF apontou o presidente Michel Temer como figura maior do “quadrilhão” do PMDB na Câmara dos Deputados.
O recuo de Torquato se deu em decorrência de que sua decisão seria vista como uma represália. Mas a vontade de “enquadrar” a Polícia Federal continua acesa. A desforra também.
Dodge, o MP e a política
Como vai se comportar Raquel Dodge, sucessora de Rodrigo Janot, no comando da Procuradoria-Geral da República?
O presidente Michel Temer (PMDB) quebrou a tradição de indicar o mais votado para chefiar o Ministério Público Federal, que foi Nicolau Dino, com 621 votos.
Na lista tríplice elaborada pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), Dodge ficou com 587 votos. O chefe do Executivo, no entanto, optou por nomeá-la.
A PGR, sob a batuta de Dodge, não vai se deixar levar por outro caminho que não seja o da lei, seguindo à risca a nossa Carta Magna.
Dodge deixou bem claro, no seu discurso de posse, que o povo brasileiro detesta corrupção, criando um grande constrangimento em algumas autoridades presentes.
O ministro Luís Roberto Barroso, do STF, instância máxima do Judiciário, tem razão quando diz que “ninguém deve favor quando chega a um cargo desse”.
Barroso finaliza dizendo que “quem é alçado a um cargo desse, é claro que pode ter reconhecimento, mas o compromisso é com o País, e não com a autoridade”.
Vamos torcer para que tudo ocorra dentro da normalidade esperada, com as instituições se respeitando mutuamente, sem a descabida intromissão de um Poder em outro.
Que os larápios dos cofres públicos, os gatunos e os ratos engravatados sejam exemplarmente punidos, fortalecendo o maior e mais significativo princípio constitucional: o de que todos são iguais perante a lei.
O PCdoB e a eleição de 2018
Uma eventual decisão do PCdoB de lançar candidatura própria à presidência da República – se Lula ficar inelegível – pode ser analisada sobre quatro pontos.
O primeiro é que o partido blefa. Ameaça disputar o pleito para ser convidado a indicar o vice na chapa do PT, independente do candidato ser Lula ou não.
A legenda comunista sempre sonhou em ter um filiado na condição de candidato a vice-presidente de Lula, mas nunca obteve êxito. Insistiu também com Dilma Rousseff.
O segundo ponto é que o PCdoB procura uma maneira de se afastar do PT, cortar o cordão umbilical que liga os dois partidos em eleições presidenciais.
O terceiro ponto é o pragmático, que envolve a sobrevivência política da legenda. Ou seja, sem Lula o PT não vai nem para o segundo turno, então vamos atrás de outra opção.
E, por último, o item, digamos, da vontade legítima de ter uma candidatura própria, como se fosse um teste, uma avaliação de como anda o PCdoB perante o eleitorado.
O problema do Partido Comunista do Brasil é a falta de um nome com viabilidade eleitoral, que possa disputar sem correr o risco de ter uma votação pífia.
Se eu fosse apostar, ficaria com o primeiro ponto: que o PCdoB quer indicar o vice do PT, seja com Lula, Jaques Wagner ou Fernando Haddad.
Com efeito, vale ressaltar que os comunistas são bons nessa estratégia. Não à toa que indicaram o vice do petista Geraldo Simões em duas sucessões municipais.
No frigir dos ovos, vão terminar sendo novamente preteridos pelo PT, que anda atrás de um companheiro de chapa longe do staff esquerdista.
Esqueceram da corrupção
Em um tempo não muito distante, o discurso do combate à corrupção era indispensável. Conquistava-se a empatia do eleitor e, como consequência, o voto.
Hoje, como a maioria dos partidos e suas principais lideranças estão chafurdadas no lamaçal, a pregação do respeito ao dinheiro público definhou.
Duas citações populares se encaixam perfeitamente no parágrafo acima: 1) quem tem telhado de vidro não joga pedra no do vizinho. 2) o sujo não pode falar do mal lavado.
É triste ver um presidente da República se manifestando na ONU sem poder falar das medidas que o governo vem tomando para combater a roubalheira. Ou seja, nenhuma.
O governo passa a ser conivente quando deixa um Moreira Franco e um Eliseu Padilha como ministros, como homens de inteira confiança do chefe do Executivo. Personas gratas da republiqueta.
É lamentável ver um presidente da República torcendo, pedindo pelo amor de Deus, para que os jornalistas não façam perguntas sobre a corrupção que toma conta do país.
Agora vem o PT, com seus sete eixos temáticos, em uma iniciativa batizada de ‘Brasil Que o Povo Quer”, e esquece da corrupção, como se o assunto não tivesse importância.
O Partido dos Trabalhadores diz em nota que a proposta é construir “um novo programa para o Brasil debatendo com os brasileiros e as brasileiras”.
Debater tudo, menos a corrupção. A impunidade agradece e promete votar no candidato do PT na próxima sucessão do Palácio do Planalto.