A fundadora e presidente do Grupo Se Toque, Sueli Dias, traz uma reflexão sobre a incidência de câncer de mama entre mulheres cada vez mais jovens. “Itabuna é cidade polo para diagnóstico e tratamento e aqui temos visto mulheres jovens enfrentando tratamento de câncer de mama, algumas poucas na faixa etária dos 20 anos e um número crescente de casos em mulheres de 30 a 50 anos, público que não tem acesso a exames de rastreamento”, alerta, em entrevista ao Diário Bahia.
Ela citou dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), que estima para este ano 66.280 novos registros da doença no Brasil. Para acolher as já acometidas ou em nome da prevenção no sul da Bahia, o “Se Toque” segue preparando mais ações. No próximo dia 24, inclusive, haverá o Pedal Outubro Rosa.
“Em razão dos cuidados com a Covid-19, estamos realizando eventos com pequenos grupos, priorizando ambientes abertos e ventilados. São rodas de conversa e ações de sensibilização, além da participação em eventos com entidades parceiras como o Seminário de Direitos do Paciente e o Pedal”, informa.
“Enfrentar obstáculos”
Sueli lembra que os últimos anos mostraram uma crescente no relato de casos de mulheres com câncer de mama. Já 2020, foi atípico. “Devido ao acesso a consultas e exames dificultado pela interrupção dos transportes, fechamento temporário de estabelecimentos de saúde e pelo medo de sair de casa”.
Num comparativo, ela sinaliza dificuldades e defende: “No ano atual estamos vivendo o grande desafio de recuperar o tempo perdido. Sabemos, no entanto, que nem sempre o paciente consegue realizar o diagnóstico e tratamento com a agilidade que se espera. Mas cabe a cada um de nós insistir, resistir e enfrentar os obstáculos que surgem”.
E trouxe dados da FEMAMA (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama), a partir do DataSUS: mais de 1 milhão de mulheres deixaram de fazer a mamografia no SUS em 2020, comparando os dados de 2018 e 2019.
“A interrupção de consultas e exames durante a pandemia é uma realidade e Itabuna não foge à regra. As consequências dessa situação, infelizmente, serão vistas lamentavelmente num futuro próximo, com diagnósticos em estágios avançados e tratamentos mais onerosos para o paciente e para o serviço público. É uma situação generalizada que se repete em várias cidades do País.”, pontua.
À espera da mamografia
Sueli Dias alerta que a mamografia é mais acessível em períodos como o “Outubro Rosa”. Mas, para a faixa etária de 40 a 49 anos, esse exame não é ofertado pelo Ministério da Saúde como medida de rastreamento, apesar da recomendação da Sociedade Brasileira de Mastologia.
“Mulheres nessa idade terão acesso à mamografia se houver uma alteração física para justificar o pedido. Registramos ainda que para o acompanhamento da saúde da mama muitas vezes se faz necessária a realização de ultrassonografia mamária, que, infelizmente, possui uma oferta em quantidade insuficiente. Não é uma escassez temporária, de responsabilidade de uma gestão local, num determinado tempo, mas, uma questão estrutural”, pondera.
Questionada sobre o tipo de atendimentos que o grupo Se Toque mantém nesta pandemia, citou a interação mais intensa através das redes sociais e, em especial, através do WhatsApp para esclarecer dúvidas, auxiliar na marcação de consultas e exames, orientar quanto a direitos sociais e auxiliar na viabilização desses direitos.
“A partir dessas comunicações informais, identificou situações de vulnerabilidade social de alguns pacientes que precisaram do fornecimento eventual de medicamentos, suplementos, alimentos, material de higiene, dentre outros”.
Tais necessidades despertaram, ainda, para o amparo psicológico. “Algumas vezes somos o ombro amigo daquela que aguarda a autorização para a realização da cirurgia para a retirada do tumor e que a espera é angustiante e imprevisível. Ou ainda o coração que acolhe as incertezas daquela que espera ansiosamente pelo dia em que terá marcada a sua primeira consulta para iniciar tratamento e passa a fazer parte de uma fila de espera. É um universo paralelo e esquecido daqueles que perderam temporariamente o rótulo de saudável num grande grupo nem sempre visibilizado e acolhido”.
Acesso e colaboração
O Grupo Se Toque realiza um trabalho de educação popular em saúde voltado para a prevenção, acolhimento a partir do diagnóstico, durante o tratamento e na reinserção das pacientes na sociedade. O acompanhamento ocorre na sede da entidade (Rua Monsenhor Moisés, 181 – Pontalzinho), através de visitas domiciliares, ou através das redes sociais [WhatsApp (73) 98819-1344].
“Normalmente o trabalho é mais intenso no período do tratamento e à medida que a mulher se recompõe, muitas vezes deixa de participar em razão, por exemplo, da inserção no mercado de trabalho. Atualmente temos pacientes assistidas também no pós-tratamento, quando a nossa maior atenção é para que não abandonem as revisões periódicas e perseverem na adoção de hábitos saudáveis de vida”, explica Sueli.
Ela ressalta, também, que a missão do Grupo Se Toque é realizada através da dedicação de seus voluntários e do apoio de pessoas que conhecem o trabalho. “Atualmente o Grupo necessita de mais pessoas para fazer parte das ações, bem como da doação de fraldas geriátricas tamanho G para auxílio a pacientes acamados”.