Existe uma certa hipocrisia nessa pregação de que a base aliada do governo Rui Costa (PT) tem que se unir em torno da concorrida sucessão municipal de Itabuna.
O discurso da unidade é inerente a todo começo de campanha. Passa para o eleitorado a impressão de que o pré-candidato é desprovido de vaidade, da busca desenfreada pelo poder, que só pensa na cidade, que quer todos juntos lutando contra os desmandos administrativos.
Precisamos se unir, essa é a tônica. No caso de Itabuna, o discurso de “um por todos, todos por um”, vem sendo protagonizado pelos prefeituráveis Geraldo Simões, do PT, e o ex-tucano Augusto Castro, hoje no PSD do senador Otto Alencar, presidente estadual da legenda.
Já comentei aqui que a candidatura de Geraldo só depende dele mesmo. O ex-presidente Lula, na sua peculiar e encrustada soberba, já avisou que o PT não é partido de apoio e que não abre mão de ter nome próprio na eleição de 2020. Ou seja, conversar tudo bem, mas na condição de postulante ao cargo de vice-prefeito.
Em nome dessa unidade, o ex-deputado estadual Augusto Castro toparia ser vice de Geraldo Simões? Seria um bom exemplo, a prova inconteste de que o discurso da união é verdadeiro, não é fingimento e, muito menos, demagogia.
Ora, se a candidatura de GS é irreversível, presume-se que toda reunião entre os partidos que dão sustentação política ao governador Rui Costa é para discutir quem vai compor a chapa majoritária e, consequentemente, os critérios para definir o vice, se do PSD, PCdoB, PP ou PSB.
Em comum entre os prefeituráveis da base aliada, contrariando o morador mais ilustre do Palácio de Ondina, as críticas ao governo Fernando Gomes. “Com Fernando não tem aliança”, disse Castro no ato de lançamento da sua pré-candidatura.
O engraçado é que passaram um bom tempo hibernados, em estado de entorpecimento, escondidinhos no cinema, como diria Rita Lee. Agora, somente agora, empolgados com o alto índice de rejeição do atual alcaide, começam a dizer cobras e largatos do governo Fernando Gomes, hoje neoaliado do chefe do Poder Executivo estadual.
Que coisa, hein! Lembro que o PSD andou paparicando FG, disputando sua filiação com o PP do vice-governador João Leão. Em toda entrevista do senador Otto Alencar, um ingrediente não poderia faltar: elogiar o “amigo” Fernando. Dando a batalha como perdida, o PSD abriu as portas para Augusto Castro, outrora ferrenho crítico do petismo e do governo Rui Costa.
É evidente que o discurso da unidade não conta com o médico Antônio Mangabeira, prefeiturável do PDT, que vem fazendo oposição a Fernando Gomes desde a última sucessão, quando obteve quase 20 mil votos, ficando na segunda colocação.
Mangabeira, assim como qualquer outro pré-candidato ao centro administrativo Firmino Alves, tem seus erros políticos. Mas tem uma virtude gigantesca: a sinceridade. Não existe enrolação, dupla conversa, coisa errada e toma-lá-dá-cá com o pedetista. Esse seu comportamento é tido como ingênuo pelos “profissionais” do movediço e traiçoeiro mundo da política, acostumados com o lado pecuniário e sujo do processo eleitoral.
A sucessão de 2020 caminha para dois pontos inevitáveis: uma polarização com Mangabeira e um forte sentimento de mudança. Uma fatia considerável do eleitorado, pouco mais de 70%, pretende votar em quem nunca administrou a cidade, o que é ruim para Fernando Gomes, Geraldo Simões, Capitão Azevedo e Claudevane Leite, o Vane do Renascer.
Pois é. Enquanto Fernando Gomes sonha com a quebra do tabu do segundo mandato consecutivo, já que nenhum gestor conseguiu permanecer no cargo pelo instituto da reeleição, os outros três só pensam em voltar a ser prefeito por mais quatro anos.