A ONG Iniciativa de Ciência Cidadã Coração de Tartaruga chama atenção das autoridades e sociedade regional para um grave crime ambiental registrado na Praia de Saquaíra, na Penísula de Maraú, na quarta-feira (19 de outubro), onde foram encontradas 16 tartarugas-marinhas mortas em menos de um quilômetro de litoral. Os animais estavam bastante mutilados e provavelmente foram vítimas das redes de pescadores de camarões ancorados nas redondezas, conforme relata o veterinário Rodrigo Grilo, que faz o monitoramento diário das áreas de desova das tartarugas.
O fato foi comunicado imediatamente ao Inema, que recolheu os animais mortos e os encaminhou para necropsia. “Essa ocorrência coincide com uma embarcação que encostou junto às bancadas de corais recentemente. Pescadores locais disseram que o barco colocou rede de espera, que foi a provável causa da morte das tartarugas. Estamos todos revoltados e tristes”, conta Rodrigo. A ONG atuou em conjunto com o Inema no trabalho de remoção, contagem e identificação dos animais.
Segundo dados levantados pela organização ambientalista, quatro das cinco espécies de tartarugas-marinhas encontradas no Brasil encontram-se em algum grau de ameaça de extinção. Os riscos estão por toda a parte: ingestão de plásticos, destruição de habitat para desenvolvimento urbano, iluminação artificial nas praias que desorientam filhotes em nascimento e afugentam fêmeas em desova, trânsito de veículos nas praias, além da captura incidental que é considerada atualmente a principal ameaça às populações desses animais em todo o mundo.
*Turismo ecológico*
“Nós trabalhamos com a conservação das tartarugas-marinhas na Península de Maraú, onde quatro das cinco espécies brasileiras fazem seus ninhos, sendo as espécies cabeçuda e de-pente com o maior número de ninhos. São, em média, 230 ninhos e aproximadamente 20 mil filhotes por temporada. Parece muito, mas não é. Com as constantes ameaças, de cada mil filhotes que nascem, apenas um ou dois chegam à fase reprodutiva. Esses animais atingem a maturidade reprodutiva entre 20 e 30 anos, dependendo da espécie”, esclarece Monica Panachão, coordenadora da ONG.
As tartarugas encalhadas na Praia de Saquaíra eram das espécies verde e oliva, que desovam na Penísula de Maraú esporadicamente. “Nossas águas costeiras são uma importante zona de alimentação e descanso para essas espécies. A tartaruga-verde saiu recentemente da lista de espécies ameaçadas e passou para a categoria quase ameaçada, como resultado das ações desenvolvidas, há mais de 40 anos, pelo Projeto Tamar, juntamente com outras instituições, como nós, da Iniciativa Coração de Tartaruga. Esse status dependente de ações de conservação para permanecer nessa condição”, enfatiza Monica Panachão.
Os ativistas destacam que a Península de Maraú é um crescente destino turístico e que as tartarugas-marinhas enriquecem mais ainda esse paraíso de praias lindas e natureza exuberante. Podem gerar empregos e fonte de renda com um turismo preocupado com o planeta e mais responsável. Monica Panachão ressalta que as ameaças da pesca predatória podem ser minimizadas com ações de fiscalização das embarcações por órgãos ambientais federais e estaduais, além de programas para a redução da pesca incidental que incluam educação ambiental e orientação para os pescadores.