Costumo dizer que o mundo da política é movediço e traiçoeiro, cheio de ingratidões, surpresas e sobressaltos. O aliado de hoje, tido como confiável e acima de qualquer suspeita, pode ser o adversário de amanhã. Até mesmo um ferrenho inimigo, de um não olhar para o outro nem disfarçadamente.
Como não bastasse a gigantesca dor de cabeça que o governador Rui Costa vem tendo com a PEC 158, que provoca mudanças nas regras da previdência dos servidores públicos estaduais, o chefe do Palácio de Ondina tem pela frente uma articulação para deixá-lo de fora da eleição de 2022, mais especificamente na disputa pelo Senado da República.
O senador Jaques Wagner, que já governou a Bahia por duas vezes, é o protagonista maior da sua própria missão, cujo objetivo é a permanência de Rui Costa até o último dia de mandato, ficando assim impedido de concorrer a qualquer cargo eletivo no pleito de 2022.
Wagner não abre mão de ser o postulante do PT ao governo do Estado na próxima sucessão. É da opinião de que a desincompatibilização de Rui pode provocar graves fissuras na base aliada e fortalecer a oposição, a pré-candidatura de ACM Neto (DEM) ao comando do Poder Executivo estadual.
Correligionários mais próximos de Rui, que não anda bem com a cúpula nacional do PT, que já sinalizou que não leva a sério sua pretensão de ser o presidenciável da legenda na sucessão de Bolsonaro, obviamente com o aval do ex-presidente Lula, desconfiam de uma “dobradinha” entre Wagner e o vice-governador João Leão, presidente estadual do PP, que quer ser novamente candidato a vice, agora de Wagner.
Ora, até as freiras do convento das Carmelitas sabem que Leão não será candidato com Wagner disputando. Nessa situação sua chance é zero, mesmo com o argumento de que o PP tem 96 prefeituras comandadas pela sigla e conquistando várias lideranças políticas no interior.
A declaração do vice-governador, de que deve disputar a reeleição para o governo se assumir o lugar de Rui, foi interpretada, por boa parte do PT ligado a Rui, como um forte indício de que Leão e Wagner estão unidos, que se juntaram para deixar o governador fora da eleição de 2022. Uma traição, digamos, doméstica, dentro da própria casa.
É por essas e outras que uma possível saída de Rui do PT é cada vez mais comentada, principalmente nos bastidores, longe dos holofotes e do povão de Deus. A verdade, que no dia a dia fica mais consistente, é que o governador e o PT caminham em estradas diferentes. A cada bifurcação, Rui vai para um lado, o petismo para o outro.
As perguntas pertinentes e intrigantes, nesse emaranhado jogo político, são para o também senador Otto Alencar, comandante-mor do PSD da Bahia, que disputa com o PP o troféu de quem mais filia prefeitos e vereadores. 1) Como fica Otto diante dessa aliança de Leão com Wagner? 2) Será que Otto desistiu da sua pré-candidatura ao governo da Bahia? 3) Existe algum acordo entre Rui Costa e Otto Alencar? 4) Otto vai aceitar passivelmente as manobras para enfraquecer seu legítimo sonho de voltar a governar a Bahia?
Concluo dizendo que o menos esperto nessa busca desenfreada pelo poder, onde a tônica é seguir os mandamentos de Maquiavel, com os fins justificando os meios, consegue, sem nenhuma dificuldade, dar beliscão em azulejo.
Rui Costa nunca esteve politicamente tão longe de Jaques Wagner. A sorte do morador mais ilustre do Palácio de Ondina é que ele conquistou luz própria e pode andar com suas próprias pernas. Sua saída do PT já é vista como o melhor caminho a ser tomado. Antes que seja tarde.