Com voz grave e olhar de quem examina as pessoas ao redor, o presidente da Câmara de Itabuna, Erasmo Ávila (PSD) – foto, parece criterioso para tomar decisões. À frente do Legislativo, abriu esta semana os trabalhos da Casa encarregada de elaborar e/ou apreciar as leis que dizem respeito à vida dos mais de 213 mil itabunenses.
Ele frisa, na esfera da gestão, a experiência de 12 anos como secretário em São José da Vitória e, décadas antes, o movimento pela emancipação daquele município. Mas deixa claro que a “praia” onde surfou a vida inteira é a iniciativa privada. Por isso, acredita ser possível aliar alguns dos conhecimentos como empresário à empreitada na presidência da Câmara.
E demonstra estar convicto de que será bem-sucedida a caminhada com os demais 20 vereadores – a maior parte em primeiro mandato. Durante sessão na última quarta-feira (03), diante de uma plateia heterogênea e expressiva, disse, no púlpito: “Esta será a melhor Câmara dos últimos 20 anos, com todo respeito aos que vieram antes de nós”.
Na semana anterior, dia 26 de janeiro, quando reuniu entidades do comércio local para anunciar um Workshop, o edil mencionou o movimento conjunto com o Legislativo de Ilhéus, para reforçar a luta pela Região Metropolitana – anseio antigo no sul da Bahia e que, até aqui, não foi concretizado. Em entrevista ao Diário Bahia, tratou desse assunto e de como pretende conduzir as ações na liderança da Câmara. Acompanhe!
Como o senhor busca aliar a experiência da iniciativa privada ao poder público?
A iniciativa privada consegue ser mais organizada, ela faz conta. Muitas vezes a iniciativa pública, por conta da irresponsabilidade de alguns gestores, não pensa desta forma. Então, qual a nossa ideia? Não queremos imaginar a privatização do serviço, mas a gente entende que se tiver todo cuidado com o dinheiro público, com o erário, com certeza vai fazer diferença. Imagine que o comércio de Itabuna não tem nenhum apoio da iniciativa pública. Então, precisamos fortalecer o comércio de forma a capacitar os comerciantes – desde pequeno, médio, microempresa – pra que eles possam entender como funciona esse processo de ser cedente à iniciativa pública. Nesse momento, estamos promovendo para o comércio, com iniciativa de alguns servidores da Casa, a capacitação dos comerciantes para possam participar ativamente dos processos licitatórios da Prefeitura, dos processos de compra. Muita gente reclama na rua que nunca vendeu para a Prefeitura. Não é só chegar, bater na porta e oferecer. Temos que entender que todos os órgãos têm uma tramitação de compra e a gente deve capacitar as pessoas para que possam participar.
É oferecer instrumentos para pular a etapa das limitação geográficas …
Na verdade, não existe limitação física, geográfica; existe limitação na capacidade de atender com serviços licitados. Aqui na Câmara tem empresa de Curitiba que é fornecedora; tem empresa de Salvador que é cliente da Casa. Essas mesmas empresas existem aqui na região com a mesma capacidade, mas elas não participaram do processo licitatório. Imagine se tivesse uma lei federal para possibilitasse ao município comprar ou ser atendido pelo próprio município. A economia seria muito mais pujante. Como não existe isso, queremos que os empresários da região participem de forma mais efetiva dos processos. Porque é bom entender que existe muita transparência nisso. Só se entende que existe transparência quando está dentro do processo.
Esta fala lembra bem o antigo anseio pela Região Metropolitana. Recentemente, as Câmaras de Itabuna e Ilhéus já esboçaram uma retomada desse movimento. O senhor, que está no início do mandato, como avalia a questão?
Temos o exemplo de cidades como Lauro de Freitas que, dentro de Salvador, tornou-se uma cidade muito próspera. Às vezes, as pessoas vão pro aeroporto de Lauro de Freitas e estão pousando no aeroporto de Salvador. Itabuna e Ilhéus são 25 km que dividem as duas maiores cidades do sul da Bahia, mas perdeu-se o desenvolvimento, o tato político ao longo do tempo. Então, eu e vários, a Câmara de Vereadores, o prefeito, acho que as duas Câmaras. A gente está fazendo neste momento o bairrismo regional, fazendo com que todas as cidades que servem ao sul da Bahia… Estou falando Ilhéus e Itabuna porque são as duas maiores cidades, mas claro que com o crescimento delas vai beneficiar Camacan, São José da Vitória, Buerarema, Itajuípe, Coaraci, Almadina, Itacaré … todas as cidades circunvizinhas. Observe que temos um dos maiores turismos do Brasil aqui ao nosso lado, que é Ilhéus, Itacaré, Porto Seguro. Então, temos uma região forte talvez com mentes fracas; uma região rica com mente pobre. Temos que melhorar esse conceito.
A ideia é que prevaleça uma mentalidade forte, com visão regional, e não apenas o “quadradinho” de cada cidade…
É, uma visão regional! A gente tem que fortalecer o sul da Bahia. Olhe como estamos perdendo demais pro oeste. Vitória da Conquista crescendo, Brumado, Guanambi, Barreiras, Luís Eduardo [Magalhães]… E Itabuna e Ilhéus??? Não está na mesma velocidade, porque precisamos de pessoas sérias que lutem por isso.
No dia da posse, o senhor disse: ‘Oficialmente, tem um presidente; mas tem esse e mais 20 presidentes. Todos trabalharão juntos em prol da cidade’. Um mês depois, essa imagem continua?
Continua a mesma imagem! Todo processo que a gente inicia na vida é planejado. Minha fala continua a mesma: se eu tiver 20 vereadores com os mesmos objetivos de crescer, desenvolver um projeto junto ao Legislativo, junto à presidência desta Casa que for pro crescimento da cidade, a gente vai estar colado. Cada um que entrar neste gabinete com ideias, propostas que sejam de verdade boas pro município e sejam possíveis a gente vai apoiar. Então, não tem essa coisa; na minha concepção, a responsabilidade da Casa está sobre 21. A ideia é essa.