“Tirar a vida de alguém no trânsito e na outra semana já estar dirigindo é uma vergonha”



Numa semana em que o trânsito foi tema de mais uma Semana Nacional, cuja tônica é a conscientização em nome de uma maior segurança nas rodovias e na zona urbana, o Diário Bahia ouviu o inspetor Marcus Vinícius Rodrigues. Ele está à frente das ações da Polícia Rodoviária Federal em Itabuna e região. Entre os assuntos da conversa, o comportamento dos motoristas após nove anos da “Lei Seca”; a necessidade de mudanças, para punição efetiva aos infratores, e também críticas veementes ao trânsito de Itabuna.

 

Tantos anos após a Lei Seca, ainda é alto o número de acidentes – e de mortes – por causa da associação álcool e volante. Como o senhor avalia esse cenário?

É complicado esse trânsito nosso, principalmente com motoristas que dirigem sob influência de álcool. Ainda é alto, sim, o número de acidentes que envolvem motoristas embriagados. Lembrando que em todos os acidentes aqui o condutor é submetido ao teste do bafômetro pela Polícia Rodoviária Federal. Se for um veículo, é um motorista, se forem dois, os dois motoristas. Mas, muitas vezes, quando chegamos ao local, o condutor já foi socorrido por alguém e já foi conduzido ao hospital. E no hospital não tem jeito de fazer o teste, porque ele já tomando medicamento, soro, alguma coisa. Aqui na região, nós temos muitas festas que acontecem às margens das rodovias e também nas praias. Muitas vezes, o condutor volta dirigindo sob influência de álcool. Exemplo: nós temos o Bar do Memel, praias de Ilhéus, aquele “Inferninho” próximo à Uesc e várias cidades que têm festas e condutores voltando.

Como é feito o trabalho de fiscalização nesses casos?

Nós, da Polícia Rodoviária Federal, apesar de termos um efetivo pequeno, sempre que tem festa, como teve em Buerarema no último final de semana, deslocamos a equipe para ficar no trecho, para fazer teste do bafômetro e tentar coibir os acidentes.

Qual seria uma forma mais incisiva de coibir essas práticas que resultam em infrações e todas as consequências já conhecidas disso?

Para coibir, nós precisamos de mais efetivo – da PRF, da Polícia Rodoviária Estadual, dos Settrans … O povo só se educa quando ele é multado, quando mexe no seu bolso, com os valores altos das multas, e essa pontuação. Acredito que falta divulgação, propaganda para educação no trânsito por parte dos governos municipal, estadual e federal. A gente não vê mais uma propaganda na televisão sobre ultrapassagem, dirigir sob influência de álcool… O governo não investe nisso.

E sobre a punição aos infratores…

Temos que penalizar mais os infratores. A Justiça deveria suspender imediatamente a Carteira Nacional de Habilitação do condutor que cometer um crime de trânsito com morte. Infelizmente, hoje o condutor é flagrado dirigindo bêbado, vai lá, paga a fiança e responde em liberdade. No outro dia, ele pode pegar a Carteira dele e dirigir, enquanto o Detran não suspender a Habilitação. Mas demora demais; acredito que deveria ser imediato: se prendeu a Carteira porque estava bêbado, está suspenso seis meses. Seria o ideal para a pessoa aprender. Infelizmente, o condutor infrator ainda não é penalizado do jeito que merecia. Eu acredito nisso: tirar a vida de alguém no trânsito e na outra semana já estar dirigindo é uma vergonha. Gostaria muito que mudasse essas leis, porque estamos aqui para salvar vidas.

Após uma experiência de anos na Polícia Rodoviária Federal, qual sua impressão sobre o trânsito de Itabuna e das rodovias da região?

O trânsito em Itabuna precisa melhorar muito, mas muito mesmo! Precisa de mais agentes de trânsito, para coordenar as ruas. Hoje você pega, nas principais ruas, motorista para no meio da pista; você não acha vaga pra idoso, pra deficiente… Naquela praça do Banco do Brasil mesmo, é difícil achar vaga para idoso, pra deficiente… Qualquer um para, porque está na porta. Ao invés de facilitar para o deficiente, está é complicando. Precisamos de muito mais agentes, precisamos de sinalização nas ruas, uma organização, um novo engenheiro de trânsito, muitas coisas precisam mudar. Precisamos, principalmente, de faixas de pedestre; nós não temos, as faixas estão todas apagadas no Centro de Itabuna. Atravessa quem quer, onde quer. O secretário da Sestran [Secretaria de Segurança, Transporte e Trânsito], Cláudio Dourado, está fazendo um belo trabalho, está lutando pra melhorar o trânsito na nossa cidade; tenho conversado muito com ele. Itabuna precisa de trevos, de entradas decentes, melhorar as entradas da cidade, precisa duplicar as vias de acesso à cidade – como a chegada, para quem vem de Ilhéus; o perímetro urbano da BR-101 precisava todo ser duplicado, com iluminação boa, e não temos nada disso. Hoje, não vemos nenhuma campanha do governo; o que a gente vê são as polícias, os agentes de trânsito que fazem palestras nas escolas, nas empresas, mas só isso aí não dá resultado, não reflete no motorista lá fora, que comete os crimes de trânsito. As BRs-415 e 101 estão bem sinalizadas, não têm buracos, o que provoca os acidentes são os motoristas imprudentes, nos excessos de velocidade, nas ultrapassagens em local proibido ou mesmo a falta de atenção.

A Semana Nacional do Trânsito tem um caráter educativo muito forte. Qual foi o foco nesse momento?

Estamos junto com a Sesttran, Polícia Rodoviária Estadual, Sest/Senat, Corpo de Bombeiros, Samu e vários outros órgãos, até trabalhando na praça durante essa semana toda, para tentar conscientizar as crianças e adolescentes. Porque eles que vão ser os nossos multiplicadores, que vão cobrar dos seus pais, irmãos, avós a direção defensiva, o uso do cinto de segurança, não correr, não beber. Tudo isso é passado pra eles na praça essa semana.