A morte do professor ateu
O professor de História, Geraldo Azevedo, agoniza em seu leito, aos 76 anos de idade. Os corredores do Hospital Santa Cruz, às 2h da madrugada, estão desertos. Geraldo, sozinho em seu quarto, teme o pior. Sua carreira de homem de ciência fora dedicada a desmoralizar os deuses das religiões. Agora sentia-os todos, como uma energia poderosa e ameaçadora, rondando seu leito. Amon-Ra e Ísis, deuses egípcios, foram os primeiros a se materializarem, terríveis, dentro do quarto. Em suas aulas, o prof. Geraldo chamava-os de “lendas supersticiosas da plebe”. Com sua cabeça de touro, Amon-Ra esperava agora apenas o desenlace de sua alma, para torturá-la com os chifres. Ao seu lado foram se tornando visíveis, os deuses assírios, sumérios e da Babilônia, todos acusados, nas aulas do professor, de serem “deuses bárbaros”, que exigiam sacrifícios humanos. Finalmente o deus Hades, guardião das sombras do Inferno, entrou pela porta do quarto, seguido de um numeroso séqüito de deuses gregos e romanos: Netuno, com seu tridente, Vulcano, com seus olhos de fogo, e muitos outros. A estes últimos deuses, o prof. Geraldo, em suas aulas, chamara-os de meras “cópias idealizadas dos homens”. Finalmente, os olhos apavorados do incrédulo viram adentrar o terrível Javé, o deus vingativo do Antigo Testamento. O prof. Geraldo acusara-o muitas vezes, em suas aulas, de ser um deus genocida, um deus-bomba, capaz exterminar, com uma única explosão de fogo, as cidades de Sodoma e Gomorra. Geraldo sentiu chegada a sua hora. Um grito horrível ecoou por todos os corredores do hospital…
Ficção