Como os olhos do mundo voltam-se para pacientes com câncer de mama devido à campanha “Outubro Rosa”, é hora de reforçar “a importância da detecção precoce e tratamento no menor tempo possível”. Mas e depois? Esta é a interrogação do momento em Itabuna, já que são vários os relatos de interrupção, pela falta de medicamentos, de passos cruciais para vencer a labuta contra tumores malignos.
Por causa do mês, a principal voz ouvida pelo Diário Bahia é a de Sueli Dias, presidente do Grupo Se Toque, instalado há 14 anos na cidade. Ela foi vítima de um tumor na mama, pôde passar por um tratamento, tornou-se ativista em nome da cura e, com 58 anos, comove ao dizer: “Me dói pensar que eu tive toda chance de me tratar e alguém mais jovem que eu não tem a mesma possibilidade”, diz, sobre relatos levados ao setor de acompanhamento psicológico e à terapia, ambos gratuitos e semanais, no referido grupo.
As primeiras queixas, recorda, vieram em maio, com a ausência do medicamento oral Anastrozol, usado como hormonioterapia, após a quimioterapia. Trata-se de um remédio complementar, para evitar que hormônios alimentem novos tumores. “Na rede particular, o valor mínimo de uma caixa para 30 dias é 300 reais. Faltou de 24 de maio a 12 de junho”, comenta, acrescentando que outras faltas ocorreram em julho e agosto. “A cada mês, um grupo fica sem receber”, pontua.
Rede de atendimento
Também em julho, faltou um medicamento para quimioterapia venosa. A situação continuava até o final de setembro, como mostrou uma paciente da zona rural de Iguaí. “Ela voltou pra casa, sem previsão [de continuidade do tratamento]. Sueli lembrou, ainda, que as pessoas com sintomas como mal-estar, dor e vômito estão sendo orientadas a procurar a UPA ou Hospital de Base. “Isso não é o correto; esses locais não foram feitos para atender a pacientes oncológicos. A gente vê a necessidade de uma rede de atendimento estruturada; o paciente está ficando perdido, desassistido em qualquer intercorrência”, completa a presidente do “Se Toque”.
Especificamente sobre o “Outubro Rosa” em Itabuna, Sueli Dias informou que ao longo deste mês, a entidade programa atividades diárias na sede (Rua Monsenhor Moisés, 181, bairro Pontalzinho) e em locais como escolas, igrejas, além das reuniões de mães.
“Câncer não espera”
A presidente do Grupo Se Toque também mencionou outras dificuldades apontadas por pacientes do SUS. Entre elas, o número insuficiente de cotas para exames de imagem, punções e biópsias. “Quando são disponibilizados poucos exames, vai formando uma fila de espera e o câncer não espera. O paciente termina pagando por alguns exames”, constata.
Lembrou, por fim, que a entidade promove encontros em comunidades ao longo do ano, sempre para desmistificar a ideia de que câncer é uma sentença de morte e, também, chamar a atenção para a responsabilidade com o próprio corpo. “Se olhar e se tocar; assim descobre [qualquer diferença na mama]”, frisa.
Em tempo: ainda na quinta, quando a edição impressa do Diário Bahia era editada, veio a notícia de que haviam chegado medicamentos em falta e a máquina de radioterapia, que estava quebrada, fora consertada.
Outro lado
Diante da repercussão das notícias referentes ao setor de oncologia, a Santa Casa encaminhou à imprensa a nota que segue abaixo:
A Santa Casa de Misericórdia de Itabuna vem a público esclarecer fatos que acirraram a histórica crise econômico financeira vivenciada pela instituição, com fortes repercussões na manutenção do Serviço de Oncologia, representado pelas Unidades de Quimioterapia, Radioterapia, Ambulatório e Cirurgias Oncológicas.
Na condição de prestador de serviço de alta complexidade contratado pelo Gestor Municipal de Saúde, a Santa Casa de Misericórdia de Itabuna acumula um déficit histórico de mais de R$27.372.000,00 (VINTE E SETE MILHÕES, TREZENTOS E SETENTA E DOIS MIL REAIS) em atendimentos prestados e não pagos, equivalente ao período histórico de 2008 a 2016. Todo o acumulado encontra-se em tramitação, ajuizado em três diferentes ações na Vara da Fazenda Pública – Comarca de Itabuna, sob os números 0014890-03.2008.8.05.0113; 302207-16.2012.8.05.0113; 0964757-90.2015.8.05.0113.
Somado a tanto, na atual gestão, o déficit é de R$ 3.965.595,43 (Três milhões novecentos e sessenta e cinco mil quinhentos e noventa e cinco reais e quarenta e três centavos), referente ao funcionamento de alguns serviços, entre os quais o Hospital São Lucas, inadimplência que contribuiu sobremaneira para a suspensão do atendimento daquela Unidade Hospitalar em 2018.
Todos os esforços estão sendo envidados para solucionar o problema ora instalado. De imediato, para sobre a manutenção do Serviço de Oncologia, a Santa Casa de Itabuna aguarda desde o dia 30 de agosto o repasse da Emenda de Custeio no valor de R$1,5 milhão.
Sobre a suspensão temporária e parcial do atendimento na Unidade de Radioterapia, informamos que uma das máquinas encontra-se em manutenção e que o serviço será normalizado tão logo a equipe de técnicos solucione o problema.