De início, a pergunta chave do comentário de hoje: Quais as consequências políticas do PP ter como seu mais ilustre filiado o presidente Jair Messias Bolsonaro?
Antes da análise, vale lembrar que o chefe do Palácio do Planalto quer um partido que seja 100% obediente, inteiramente submisso aos seus desejos. É o próprio Bolsonaro que declara que quer uma legenda sob seu total controle : “Estou tentando um partido que eu possa chamar de meu e possa, realmente, se for disputar a Presidência, ter o domínio do partido”, disse Bolsonaro sem nenhum tipo de constrangimento e cerimônia.
O Partido Progressista, comandado nacionalmente pelo senador Ciro Nogueira, do Piauí, líder do Centrão, convidado para assumir um dos mais importantes ministério, o da Casa Civil, por onde passam as articulações políticas, não vai permitir que o vice-governador João Leão, presidente estadual da sigla, faça qualquer gesto ou tome qualquer atitude que possa prejudicar o projeto de reeleição de Bolsonaro.
Leão tem a prioridade do bolsonarismo de ser o candidato a governador pelo PP. Se não aceitar as imposições de cima para baixo, terá como melhor conselho, caso queira continuar na base aliada do lulopetismo baiano, procurar outro abrigo partidário.
Antes de tomar a decisão de se filiar ao PP, a maior autoridade do Poder Executivo vai se interar sobre a posição do partido nos Estados, nas sucessões estaduais. E a Bahia, por ter a sigla dando sustentação política a um governador petista, será a primeira unidade da Federação a ser questionada.
Outra opção bolsonariana para a disputa do Palácio de Ondina é o ministro João Roma. O problema é que o Republicanos, partido do ex-netista, segundo sua liderança maior, o deputado federal e bispo Márcio Marinho, da Igreja Universal do Reino de Deus, já deu várias demonstrações que vai apoiar ACM Neto na sucessão de Rui Costa (PT). Marinho quer a vaga de senador na chapa majoritária encabeçada pelo ex-prefeito de Salvador.
Se o Republicanos manter a decisão de apoiar o ex-alcaide soteropolitano, que está rompido com Bolsonaro, só restará a João Roma procurar outra agremiação partidária. Nos bastidores, se comenta que esse partido pode ser o PTB de Roberto Jefferson.
Como a prioridade do bolsonarismo é João Leão, o outro João, o Roma, seria candidato a senador ou a vice. Sendo vice, a majoritária seria logo batizada de “Chapa dos Joões”.
A filiação de Bolsonaro ao PP é o que faltava para que o governador Rui Costa tome a decisão de permanecer no Palácio de Ondina até o último dia do mandato, abrindo mão de disputar o Senado da República.
Ora, deixar o comando do Estado nas mãos de um vice do mesmo partido do presidente Bolsonaro, que quer o PP sob seu total domínio, é muito arriscado e politicamente de uma ingenuidade inominável. O mesmo que colocar uma raposa para tomar conta do galinheiro, como diz a sabedoria popular.
No mais, esperar o desenrolar dos fatos, já que o processo político é movido por um intenso cinetismo e sobressaltos.
O óbvio ululante é dizer que ainda tem muita água para passar sob a ponte da sucessão estadual. Águas limpas e sujas.
PS (1) – Quando alguém me pergunta por que ACM Neto se afastou de Bolsonaro, a resposta vem de pronto: a alta rejeição do presidente na Bahia. Ora, Neto não iria romper com Bolsonaro se ele estivesse bem nas enquetes. Se lá na frente ele resolver fazer as pazes com Bolsonaro é porque as coisas mudaram, a alta rejeição diminuiu. Ninguém quer ser contaminado pela impopularidade. Vale lembrar que a CPI da Covid-19 foi prorrogada para mais 90 dias.
PS (2) – Essa instabilidade política de ACM Neto (DEM) serve como sinal para que o PDT fique atento e comece a pensar em candidatura própria ou outro caminho político, como, por exemplo, se aproximar do senador Otto Alencar (PSD), cujo sonho de voltar a governar a Bahia continua vivo. Assim como no direito, a política também não costuma perdoar os que dormem.