Moradores da região da Lagoa do Abaeté, em Itapuã, na capital baiana, vivem dias de pavor. A área, eternizada em músicas de Dorival Caymmi e Vinícius de Moraes, está sendo invadida por interesses particulares.
Vídeos gravados recentemente mostram máquinas dando outra face à área. O Diário Bahia teve acesso ao Fórum Permanente de Itapuã, através da representante Clara Domingas.
Direto de Salvador, via WhatsApp, ela tratou da situação enfrentada há anos.
“Acabamos de fazer a primeira caminhada patrimonial em defesa do Abaité (com “i”, porque honramos a ancestralidade indígena Tupinambá do lugar. Exploramos esse trecho aqui, que está no centro dos debates”, explicou.
Citando um projeto da prefeitura que traria fortes impactos ambientais, ela detalhou: “Algumas igrejas tomaram conta de uma duna que chamava ‘Duna do campo’ quando eu era criança, porque tinha esse pessoal do futebol na base. E eles começaram, de cinco anos pra cá, a usar a duna como ‘Monte Santo’. Aí veio um vereador e criou um projeto pra mudar o nome da duna pra ‘Monte Santo Deus Proverá’ Isso a gente conseguiu derrubar. E esse projeto de lei estava associado a esse projeto de urbanização”, recordou.
Indo além, ela acrescentou: “A prefeitura, junto com a ONG Cristã Restaura Verde, que é do pastor e policial Civil Roque, gerem a Unidunas, uma gestão privada dentro de um parque público municipal dentro da APA Estadual do Abaeté”.
“Fizeram um conluio”
Ela explica que a “manobra” foi providenciar um mapa falso, para viabilizar o uso da área em questão pela iniciativa privada.
“Fizeram um conluio, estão falseando como se a área inteira fosse Parque das Dunas, pra justificar uma intervenção aqui desse lado”, lamentou a ativista.
Ela disse que, tempos atrás, havia uma placa escrito “Monte Santo, com estacionamento, nome da prefeitura, Parque das Dunas e Restaura Verde. Isso a gente vinha investigando, está vindo alguma coisa aí. De repente, esse ano apareceu já a ordem de serviço sendo assinada, eles fracionaram o licenciamento, fizeram A, B e C do projeto de urbanização”.
Sendo assim, a fase A é no num morro na base da duna onde ocorre a obra e haverá um receptivo para o público evangélico. “Eles pretendem subir uma escadaria numa zona de proteção visual que já é a APA (Área de Preservação Ambiental e afetaria totalmente a estética, além de interromper a circulação de pessoas, a subida de ambulância, vamos perder o controle (da área). Eles pretendem fazer um mirante no topo do morro”.
Já na fase B, informa Clara, mudaram o local para a prática de futebol. “Querem fazer quadra com grama sintética, parque, restaurantes, banheiro, tirolesa, uma urbanização que vai desmatar, vai comprometer muito o sistema todo. Inclusive, aqui tem um corpo d’água…”
A entrevistada expõe, por fim, sobre a fase C, que liga as duas anteriores. “É bem gigante a dimensão do que eles pretendem e ameaça assim de maneira múltipla a região”, arrematou, retratando o verdadeiro desespero vivenciado no entorno da “lagoa escura” tão forte no imaginário de todos nós.