Eu não sei se você já percebeu como estamos vivendo de forma acelerada, meu amado leitor. Até mesmo os áudios de WhatsApp a gente não ouve mais no ritmo normal, precisa avançar e ouvir rápido e não tem paciência e não para e faz quinze coisas ao mesmo tempo. Uma simples pausa para ouvir uma mensagem. Não paramos mais! É uma correria, uma onda de velocidade que, sinceramente, só nos afasta da reflexão sobre o que estamos fazendo aqui, estamos correndo para onde, estamos fugindo de quê, essa pressa vai nos levar onde?
Ocupamos demais o nosso tempo, parece que o dia não tem mais vinte e quatro horas, não é? O tempo está curto para as tantas coisas que queremos fazer. Mas, repare bem, me acompanhe aqui no raciocínio: quanto mais a gente preenche o tempo e se acelera, menos a gente tem a oportunidade de se conectar com o que sente.
Não estamos acostumados a sentir o que sentimos. Não fomos educados para identificar, compreender, observar as nossas emoções, sentimentos, frustrações, dores, medos. Passamos por cima disso tudo absorvidos por uma rotina exaustiva, desgastante, irritadiça; no final do dia, da semana estamos literalmente esgotados, com o corpo clamando para ser ouvido – o emocional tem seus artifícios para chamar a nossa atenção.
Estamos fugindo de nós mesmos. E onde isso vai nos levar? Até quando aguentaremos equilibrar esses pratos? Até quando conseguiremos continuar engolindo nossas emoções? E para onde elas vão quando são engolidas? Uma hora o tsunami vem com tudo, meu tão amado ser que lê estas linhas aí do outro lado. Isso eu garanto!
“Mas Mari, quem em sã consciência quer encarar seus medos e dores e emoções e sentimentos que foram engolidos ao longo de tantos anos?”, você pode estar pensando exatamente isso neste momento. Mas aí eu te retorno com mais algumas perguntas: está bom do jeito que está agora? Aí, dentro do seu peito, está gostoso sentir esse aperto? Está sendo legal sentir esse sufoco, parecendo que às vezes falta o ar porque você simplesmente não consegue desacelerar? Responda sinceramente. Não para mim, mas para você mesmo.
E sim, é muito desconcertante, desconfortável, desafiador, doloroso ter esse encontro com as nossas sombras, dores; puxar uma cadeira e bater um dedo de prosa enquanto toma um chá com as nossas emoções. A vontade é de fugir mesmo, afinal fizemos isso uma vida inteira! Fugir é mais fácil, é mais cômodo, é mais conhecido. Mas dói muito mais do que buscar outro caminho. É como se uma peça de cristal se quebrasse em nossas mãos e a gente ficasse tentando segurar aquilo que já não tem mais forma, não tem mais razão de ser, sangra as nossas mãos e nós insistimos em segurar porque temos um apego àquele objeto, ele é conhecido por nós e fez parte de nossas vidas. Mas está lá furando e sangrando as nossas mãos; a gente só precisa soltar os pedaços. Guardar na memória os momentos bons que aquele cristal esteve presente em nossas vidas, curar as feridas das nossas mãos e partir em busca de um novo cristal para embelezar a nossa prateleira. Passar remédio nas feridas das mãos vai doer, trocar o curativo vai doer; mas é o cuidado constante que vai cicatrizar essas feridas.
E assim é com as nossas feridas emocionais também, meu amado leitor. Precisamos soltar o que nos machuca, tratar e cicatrizar a ferida para irmos em busca de algo novo, que se adapte muito melhor à nossa realidade.
Respire fundo e acredite: é seguro sentir!
Você está fugindo de quê?
* Psicanalista, terapeuta e especialista em Marketing
Instagram: @maribenedito