DURA  VIDA  DAS FILANTRÓPICAS


Nos últimosltimos 6 anos, cerca de  315  hospitais fecharam ou deixaram de atender  pacientes do  SUS.


                    Trabalhando há  mais  de 50 anos em hospitais da Santa  Casa de Misericórdia ou nos chamados hospitais  filantrópicos, pude  aquilatar como é difícil  a vida  dessas  instituições, no que  se  refere  à saúde  financeira. Já tendo escrito  três  livros sobre a  Santa  Casa de Misericórdia de Itabuna  e dezenas  de artigos  abordando o  tema, tudo isso me permitiu uma visão panorâmica  da  assistência  médico-hospitalar em nosso país  e  as dificuldades  constantes por que passam, principalmente, os  hospitais das  Santas  Casas  e a rede  filantrópica.
                  Na  semana passada, dirigentes de algumas dessas  entidades, fincaram cruzes  brancas  em frente aos prédios do Congresso Nacional, como  forma de protesto contra a situação  vexatória dos  cerca de 1.824 hospitais que  atendem principalmente  pacientes  do Sistema Único de  Saúde (SUS) e que não têm sido aquinhoados com os  reajustes   a  que têm direito.  Desde o  plano  real esses  hospitais receberam um  reajuste de apenas  93,77 % enquanto o INPC  aumentou 638,07 % e o  salario-mínimo foi  reajustado em 1.597,79 %; nesse mesmo  período, só para  fazer algumas comparações, o  gás  de cozinha aumentou em 2.415,94 %; se  formos  comparar  outros ítens, vamos observar  que o  reajuste oferecido aos hospitais filantrópicos e das  santas  casas, perde  para  todos  eles; esse prejuízo  constante levou tais nosocômios a um  endividamento de 20  bilhões de reais; nos  últimos 6 anos,  cerca de  315  hospitais fecharam ou deixaram de atender  pacientes do  SUS.
            Para  complicar, ainda mais, a vida desses hospitais, encontra-se  no parlamento a discussão do Projeto de Lei 2.584/2020, fixando o piso salarial  da enfermagem e isso  levará , para os hospitais, um  gasto de 6,3  bilhões de reais, apenas no primeiro  ano; há, ainda, em discussão , outros 53  projetos de aumento nos gastos da saúde; evidente que somos  a favor  que o pessoal que  atua na área da saúde  deve  ser bem remunerado mas o  governo deve  fornecer os  mecanismos    necessários para que esse aumento não asfixiie ou acabe, de vez, com a  existência  de dezenas de hospitais..
            Vale  ressaltar que, em 824 municípios  deste  imenso  Brasil, os  hospitais  das santas casas e  a rede filantrópica são os que  atendem à sua população  e, para o  SUS, as  santas casas representam  70 % da alta complexidade e   51 % da médica  complexidade. Mais de 3  milhões de pessoas dependem, economicamente, direta ou indiretamente,do funcionamento desses  hospitais.
           Ao  ler esses relatórios e, ao  redigir  estas notas, lembrei-me da década de 80, quando  escrevi o primeiro livro sobre a  Santa Casa de Misericórdia de Itabuna  e  relatei as  imensas  dificuldades encontradas pelo Monsenhor Moysés  Gonçalves do Couro e seus pares para  arrecadar  recursos para  construir  o primeiro hospital em Itabuna, o então Hospital Santa Cruz, hoje  Hospital Calixto Midlej Filho. Uma vez inaugurado, em 1922, nova  luta  para  recursos necessários  à sua manutenção e isso perdura até nossos  dias, não  somente  com esse hospitais como todos  aqueles que dependem    exclusivamente do SUS para se manter e não dispõem de renda extra-hospitalar para  se livrar do sufoco.
        Há alguns hospitais   que não   passam por  essas dificuldades e isso ocorre quando o governo, quer  federal, quer estadual ou mesmo municipal  complementa o que o SUS paga, dando um desafogo que permite aos seus dirigentes renovar os  equipamentos,  caríssimos  e  manter o  padrão que  se imagina e se  deseja numa área tão importante como a saúde das  pessoas.