Eu sei, meu amado leitor, parece redundante, já que somos seres humanos – ora pois! – mas ser incompleto, imperfeito, precisar da ajuda do outro, quebrar essa imagem autoimposta de deus do Olimpo é um grande desafio para muitos de nós. E eu aposto que talvez seja o seu também.
Há algum tempo eu falei, aqui nesta coluna, sobre a importância da gente descer do Olimpo. E o que isso significa, Mari? Repare bem, significa, nada mais nada menos, se perceber e se reconhecer humano. Descer desse pedestal de perfeição, de se cobrar ser perfeito o tempo todo, de acreditar que é autossuficiente porque ninguém faz melhor que você, que não expressa sua verdade porque ela pode desagradar e fazer cair por terra essa imagem de ser enviado pelos anjos para nos salvar aqui na Terra.
Mas acompanhe aqui meu raciocínio, meu amado ser que lê estas linhas atenciosamente: qual a outra face desta moeda? Repare que se manter no Olimpo é uma prisão! É altamente desconcertante e desconfortável não se enxergar na própria casca, não se reconhecer no seu lugar, não sentir a emoção desta pele que habito, sabe? A outra faceta de querer manter a imagem de perfeição é a de agradar custe o que custar, de ser o bonzinho que nunca diz não, de ser o que não coloca limites para não incomodar ou frustrar o outro, o que não expressa sua espontaneidade porque ela pode desfazer a imagem de perfeito. Quando a gente alimenta essa imagem de perfeição, não nos permitimos ser mal vistos. De jeito nenhum!
Consegue perceber o dispêndio de energia emocional e psíquica nesse movimento? Estamos sempre nos policiando, nos medindo, pisando em ovos. Não nos permitimos ser quem somos e nos entristecemos com a ideia de sermos imperfeitos.
Nos entristecemos porque precisamos nos confrontar com as nossas imperfeições. Repare que paradoxo! Nos reconhecer imperfeitos requer que a gente descortine as nossas sombras e, em alguma instância, vamos nos deparar com alguma miséria que nos habita. Reconhecer, lidar, tratar, equilibrar as nossas fraquezas requer aceitar a existência delas e identificar qual o ganho secundário que temos ao insistir em mantê-las.
E, ao reconhecer as nossas falhas, quedas, imperfeições e humanidade, temos duas opções: agir e pagar o preço de trabalhar as nossas virtudes, ter a disciplina e constância na mudança dos nossos hábitos; ou se manter na tristeza, lamúria e lamentação do quanto o mundo é injusto, remoendo e remoendo as suas dificuldades sem sair do lugar.
Qual é a sua postura?
A humanidade é uma virtude. Nos coloca no patamar da ordinariedade da vida e é na ordinariedade, no comum que a gente cumpre as nossas tarefas, nossos compromissos, que a gente faz o que precisa ser feito, que a gente adquire a grandeza de ser real.