No editorial de ontem (5), de número 532, comentei sobre o mais novo aliado do presidente Bolsonaro: o chamado Centrão. Um agrupamento de partidos cuja política é assentada no toma lá, dá cá.
Disse que o Centrão, depois de um forte e intenso namoro com os ex-mandatários Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer, vai exigir cargos e mais cargos para combater um eventual pedido de impeachment no Congresso Nacional. Lembrei que o então candidato Jair Messias Bolsonaro fez sua campanha prometendo acabar com a “velha política”.
O Centrão, caro e atento leitor, é ousado. Seus quase 200 parlamentares não dormem no ponto e não se satisfazem por qualquer coisa. A conversa nos bastidores é que o alvo principal é a articulação política do governo, mais especificamente o comando da Casa Civil, o lugar do general Walter Braga Netto.
Matéria do site Política Livre diz que um deputado baiano integrante do famigerado movimento, sob a condição de não ter seu nome revelado, fez a seguinte declaração: “Se o impeachment for deflagrado você acha que Braga Neto vai dar conta de conter a fome do Centrão por mais cargos para impedir a deposição do presidente?”.
O Política Livre diz também que a precípua alegação deles, se referindo aos componentes do Centrão, para justificar a tomada da cobiçada Casa Civil, é que não se sentiriam à vontade para negociar com um militar.
E onde entra o ex-presidente Lula nesse toma lá, dá cá, ao modo bolsonariano? A maior liderança do PT disse, na sua última entrevista concedida ao jornalista Leonardo Sakamoto, da UOL Notícias, que “o toma lá, dá cá, faz parte da democracia no mundo todo”.
A opinião de Lula foi motivada pela pergunta de Sakamoto, que questionou sobre o toma-lá-dá-cá do seu governo, lembrando do escândalo do mensalão. O jornalista lembrou que o Centrão criou muitos problemas para os governos petistas.
Lula, ao sentir que sua resposta poderia criar constrangimento para o Partido dos Trabalhadores, principalmente quando se referiu ao governador Rui Costa, insinuando que o morador mais ilustre do Palácio de Ondina montou seu governo na base do toma lá, dá cá, argumentou que “é a cultura política brasileira, é a cultura do beija-mão. Lamentavelmente é isso. Eu gostaria que não fosse assim, mas é assim”.
Lula disse que para se colocar alguém no governo tem que buscar o histórico das pessoas, o currículo, como se a vida pregressa dos políticos que ocuparam cargos nas suas duas gestões tenha sido o ponto principal, o “conditio sine qua non” para ocupar espaço no governo. O que se viu foi dezenas de correligionários de “bons” currículos respondendo por crimes, principalmente por corrupção.
Esse posicionamento de Lula, achando que o toma lá, dá cá, faz parte do processo democrático, que é imprescindível para a governabilidade, impede que o PT faça qualquer crítica à aproximação de Bolsonaro com o Centrão. O PT fica sem credibilidade para tocar no assunto.
Pois é. Lula continua criando dificuldades para o PT. É o PT versus PT. Como não bastasse a desastrosa declaração de que a legenda adora apoio mas não gosta de apoiar, dada assim que deixou a prisão, onde passou uma alongada “quarentena”, diz agora que o toma lá, dá cá, faz parte da democracia.