A condenação de Lula



Depois do julgamento do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, o PT tem que repensar seu caminho, deixando de lado esse enfrentamento com a Justiça.

Enfrentar a Justiça, sim. Mas com a lei. Ou seja, via recursos. O Partido dos Trabalhadores precisa entender que vivemos em um Estado democrático de direito.

Essa posição do PT, desafiando os tribunais, termina criando um efeito contra si próprio, fortalecendo o corporativismo do Judiciário na defesa de seus membros.

Quem vai dizer se Lula será candidato ou não na sucessão presidencial, disputando o terceiro mandato, não é o PT, é a Justiça. Do contrário, o caos, a desordem institucional.

Qualquer atitude que não seja a de buscar a elegibilidade dentro do campo legal, como se o Partido dos Trabalhadores fosse a própria lei, é desaconselhável.

Se alguém acha que foi prejudicado, injustiçado por uma decisão judicial, a solução reparadora está na Justiça e não fora dela.

No caso específico, o PT tem o Superior Tribunal de Justiça (STJ), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, por último, a instância máxima, o Supremo Tribunal Federal (STF).

Em qualquer um desses Tribunais, a Lei da Ficha Limpa, que preceitua que uma pessoa fica inelegível com a condenação por um órgão colegiado, será o ponto central.

Concluo dizendo que o PT tem que deixar de lado essa ineficaz tentativa de intimidar a Justiça. A discussão sobre o chamado plano B, com Lula fora da disputa, passa a ser imprescindível.

Rui e a chapa majoritária

Rui Costa na reeleição, João Leão na vice e as duas vagas do Senado com Jaques Wagner e o indicado pelo PSD do senador Otto Alencar, provavelmente Ângelo Coronel.

Essa é a composição da chapa governista, se não houver nenhum acidente de percurso ou uma desistência voluntária de um dos postulantes.

Os argumentos que sustentam essa formação são consistentes: 1) Como não ceder uma vaga para Jaques Wagner, do PT e duas vezes chefe do Palácio de Ondina? 2) Vai mexer com o PP do vice Leão? 3) Vai procurar problemas com Otto, PSD e o presidente da Assembleia Legislativa do Estado?

E aí cabe uma pergunta pertinente do atento leitor: também não é problema deixar o PCdoB, PSB e o PDT de fora? A resposta é não. Essas legendas dificilmente iriam para o lado de ACM Neto.

PP, PR e PSD, caso fiquem de fora da majoritária, estarão na oposição no outro dia. Como a articulação política de Rui sabe que comunistas, socialistas e pedetistas não têm outro caminho que não seja o de apoiar o segundo mandato, aí são tratados como coadjuvantes.

Ora, o próprio Rui Costa afirmou, de público e sem meias palavras, que o PP, PSD e, obviamente, o PT “terão prioridade na sua chapa”.

O governador sabe que qualquer mudança na composição da majoritária vai ser em consequência de manobras lá de Brasília. Ou seja, se depender de Rui a composição com Leão, Wagner e Ângelo Coronel é “imexível”. Favas contadas.

Quando Rui diz que a sucessão estadual “vai se compatibilizar com o arranjo nacional”, o petista está prevendo que partidos como PP e o PR, que integram a base aliada do governo Temer, podem passar para o campo oposicionista.

Mesmo com tantas evidências, comportamentos, declarações, fortes indícios, explícitas articulações, conversas de bastidores, o PSB de Lídice da Mata, o PCdoB de Alice Portugal e o PDT de Félix Júnior continuam sonhando com uma vaga na chapa da reeleição.

Lídice, Alice e Félix estão assentados na máxima de que na “política tudo é possível”. O exemplo do prefeito de Itabuna, Fernando Gomes, hoje aliado do PT, serve como esperança.

O Leão provou que é um leão

O vice-governador da Bahia, João Leão, que pertence ao Partido Progressista (PP), legenda da base aliada do governo Temer, provou que é um “leão”.

Leão “rugiu” forte diante das pressões do Palácio do Planalto para aproximá-lo do prefeito ACM Neto. Até o cobiçado ministério da Saúde foi oferecido ao pepista.

Depois de passar pelo teste de fidelidade, Leão ficou mais próximo do governador Rui Costa. Pode escolher continuar como vice ou ser candidato a senador na chapa majoritária.

O passo agora é convencer o filho, deputado federal Cacá Leão, também do PP, a declarar publicamente o apoio à reeleição de Rui, já que o parlamentar emite sinais de que pode apoiar ACM Neto.

A curiosidade, desta modesta coluna, fica por conta da declaração do Leão-pai em relação ao Leão-filho: “Se ficarmos juntos com Lula, Cacá fica junto também”.

Esse “se” é que deixou muitas dúvidas pairando no ar. Leão ainda estaria indeciso em apoiar Lula? O que ele quis dizer com esse “ficarmos”?

Será que lá na frente Leão vai apoiar o candidato indicado pela cúpula nacional do PP, dando um chega pra lá em Rui e no petismo baiano?

E por falar no PP, o vice-prefeito soteropolitano, Bruno Reis, não descartou a possibilidade de deixar o MDB e ir para o Partido Progressista.

Nos bastidores, o que se comenta é que Bruno pode assumir o comando estadual do PP, levando a legenda para apoiar a candidatura de ACM Neto ao governo da Bahia.

Seria mais uma oportunidade de João Leão mostrar que é um leão, afastando as manobras palacianas com seu “rugido”.

Lula e a sucessão estadual

Por mais que se esforce, o presidente estadual do PT, Everaldo Anunciação, ex-vereador de Itabuna, não consegue disfarçar a preocupação com a segunda condenação de Lula.

Everaldo integrava o grupo do partido que apostava em um placar de 2×1 no Tribunal Regional Federal da 4ª Região. O resultado foi 3×0.

A decisão dos três desembargadores permite um só recurso no próprio TRF-4, o instrumento jurídico do embargo de declaração, sem nenhuma importância diante do desfecho condenatório.

Até as freiras do Convento das Carmelitas sabem que essa indefinição sobre a inelegibilidade do petista-mor pode provocar significativas alterações no andamento das alianças partidárias.

Anunciação sabe que o apoio do PP e do PR à reeleição do governador Rui Costa é 100% pragmático. O comando nacional dessas duas legendas apoia o governo Temer, do MDB de Cunha, Calheiros, Cabral, Geddel e companhia Ltda.

No dia que sair uma pesquisa mostrando que o prefeito ACM Neto tem chances reais de derrotar Rui Costa na disputa pelo Palácio de Ondina, no outro dia PP e PR vão para a oposição.

Aliás, nos bastidores de Brasília, em conversas reservadas, dão como favas contadas uma aproximação do PP e do PR com o alcaide soteropolitano.

A condenação de Lula, com a possibilidade cada vez mais forte do ex-mandatário ficar de fora da disputa presidencial, aumentou o interesse das cúpulas do PP e do PR em uma aliança com ACM Neto.

Everaldo Anunciação tenta camuflar essa inquietação com o desmoronamento na base aliada do governismo, que já começa a entender que não pode fechar os olhos para o PSB, PCdoB e PDT.

Tem muita água para passar sob a ponte. Quem não souber nadar, vai morrer afogado. Ainda bem que politicamente falando.

A Bahia dos presidenciáveis

Além de ser a Bahia de todos os santos e orixás, é a Bahia dos políticos que são citados no plano de emergência das agremiações partidárias.

Falo da eleição para o Palácio do Planalto e de duas legendas: o PT e o DEM, que estão de olho na Bahia caso seus postulantes fiquem de fora da sucessão presidencial.

O PT sempre colocou o nome do ex-governador Jaques Wagner como substituto de Lula em uma eventual inelegibilidade do líder maior.

Agora cita o governador Rui Costa, já que o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico (SDE) pode ter sua imagem afetada em decorrência de denúncias da Lava Jato.

O Partido dos Democratas, por sua vez, tem o prefeito ACM Neto como uma espécie de reserva de luxo, pronto para entrar em campo se a legenda assim desejar.

O DEM ensaia a candidatura de Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados. O próprio Maia, no entanto, reconhece suas limitações para uma disputa dessa envergadura.

Petistas e demistas baianos, governistas e oposicionistas, podem comemorar o reconhecimento nacional de suas principais lideranças.

Rui Costa faz um bom governo e ACM Neto também. Não sei qual é o maior problema do alcaide soteropolitano, mas o do governador é, sem nenhuma dúvida, a segurança pública.

Rui Costa versus ACM Neto, uma disputa acirrada e imprevisível.

Neto, Maia e o Bolsa família

O prefeito de Salvador, ACM Neto, precisa dizer para Rodrigo Maia, colega de partido (DEM) e presidente da Câmara dos Deputados, que tome mais cuidado com algumas declarações.

Maia andou falando que o Bolsa Família “escraviza as pessoas”. Acha que o melhor caminho é o governo dá condições para que a pessoa consiga um emprego com suas “próprias pernas”.

O problema é que se não fosse o programa social, muitos já estariam em um lugar chamado de eternidade, como diria o saudoso jornalista Eduardo Anunciação.

Que o emprego é a melhor solução para devolver a dignidade e a autoestima do ser humano, não se tem a menor dúvida. Mas o governo, pelo andar da carruagem, não pensa assim.

Já basta para ACM Neto a difícil missão de fugir de Michel Temer como o diabo da cruz. Aliás, a mesma dificuldade que vai ter Lula para explicar sua reaproximação com Renan Calheiros e Eunício Oliveira, ambos do MDB e protagonistas do “golpe”.

Se Maia continuar fazendo críticas ao Bolsa Família, que é o programa, digamos, xodó dos descamisados, vai terminar prejudicando uma eventual candidatura de Neto ao Palácio de Ondina.

E qual a expressão popular que poderia servir de conselho para Rodrigo Maia? Sem nenhuma dúvida, “em boca fechada não entra mosquito”.

Mangabeira

O médico Antônio Mangabeira, ex-prefeiturável do PDT na sucessão de 2016, o segundo mais votado, com quase 19 mil votos, está empolgado com sua candidatura a deputado federal. Recente pesquisa aponta o pedetista em primeiro lugar no eleitorado de Itabuna, com uma boa diferença em relação ao segundo.