Através do Projeto Encantarte, o músico-percussionista Egnaldo França desenvolve oficinas gratuitas na Escola Municipal Margarida Pereira, bairro Pedro Jerônimo, em Itabuna, às segundas e quartas-feiras, a partir das 17 horas. O objetivo é proporcionar para a comunidade o acesso a conhecimentos específicos sobre a Cultura Afro Brasileira.
França que, além de percussionista é Historiador, Especialista em Gestão Cultural e Mestrando em Educação e Relações Étnico-Raciais, diz que “estas oficinas também proporcionam a autoafirmação e fortalecimento da identidade, em especial da comunidade negra e periférica, porque aprendemos a respeitar nossas origens.”
Nas aulas acontecem rodas de conversa, estudos específicos de toques dos orixás, e técnicas para o samba-reggae, axé, merengue, samba de roda e maculelê. “é uma verdadeira imersão na sonoridade negra baiana”, afirma ele, que destaca a Direção da escola como parceiros fundamentais para os trabalhos do Encantrate.
Egnaldo França, conhecido na comunidade como Gui-Guí, começou aprender percussão ainda adolescente no fim da década de 1980 e início de 1990 e sua principal escola foram as fitas K7 do Olodum. Auto-didata por não ter frequentado escola de música, França recorria às fitas K7 por não ter na época oportunidade. “Por isso, hoje, procuro compartilhar destes conhecimentos com outras pessoas”, acrescenta.
Origem do grupo
No ano 2000, idealizou e fundou o Projeto Encantarte no bairro Maria Pinheiro, onde começou como professor de percussão. Passou, então, a desenvolver oficinas em escolas, universidades, IFBA, assentamentos rurais, grupos sociais e vários bairros da periferia de Itabuna. Trabalhou no Programa ArteEducação Bahia da Tim-Maxitel, Projeto de Extensão Teatro Popular e Interculturalidade da UESC, Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania – FICC, Programa Casa das Artes/FICC, fez intercâmbios na Suécia com a Universidade Wick, Salvador com o Grupo Bagunçaço, Ituberá com o Grupo Boca de Lata, Ubatã com o Grupo Ubatambor, entre outros. Traz como principal característica os instrumentos reciclados.
Tocou em bandas como Mormaço, Manzuá, Colheita Viva, Sons Geledés com Ronara Criola e fez participação especial em incontáveis bandas, a exemplo da Banda Ifá Ayá. Fundou a Banda Percussiva Encantarte, o Bloco Afro Encantarte e faz, atualmente, a Produção da Banda Percussiva Negras Perfumadas, criou arranjos percussivos para a Orquestra da Universidade Wick na Suécia, para o CD da Banda Manzuá, para o Espetáculo Teatral Miguelzinho e o círculo de giz, dirigido pela Sueca Bim de Verdier e faz a Direção Musical dos Espetáculos de Dança Afro do Encantarte. São trinta anos de acúmulo de experiências.
Semente multiplicada
Como o Encantarte trabalha em parceria com a escola, hoje tem em torno de 20 integrantes na percussão. Com o retorno das aulas, este número duplica ou triplica. Segundo França, cada pessoa tem um tempo específico no processo ensino-aprendizagem. Uns com um mês ou menos já tocam com determinada segurança, outros demoram mais.
Para chegar ao nível profissional com qualidade, mesmo com orientação, vai depender de cada pessoa. Quatro anos podem ser suficientes ou não. Depende do empenho de cada um. “Sempre aconselho minhas turmas a cursar universidade de música para quem quer seguir carreira para não passar pelas dificuldades que eu passei até ser reconhecido como músico”, revela.
O Encantarte faz 20 anos em 2020 e já profissionalizou vários artistas que hoje vivem da música. “Percussão pra mim é vida, tal qual a batida do coração, a percussão embala o meu ser…”, define, emocionado.