O livro digital (e-book) “Primavera Literária” é um dos resultados do Festival Literário Sul Bahia (Flisba), realizado entre os dias 24 e 26, exclusivamente de forma virtual. Disponível na próxima semana, é um compilado das tantas poesias declamadas no evento, composto por mesas-redondas, oficinas, lançamentos, exposição de telas, documentário, sarau, peça de teatro. Além de shows da dupla Carla e Silvano e banda Negras Perfumadas.
Aquela verdadeira festa da palavra, com interação de leitores de várias partes do país e até do exterior, colocou em evidência a pujança da literatura – inclusive nos canais abertos pelas novas mídias. Ao mesmo tempo, sem deixar de valorizar nomes tradicionais, presentes no imaginário de tantos brasileiros.
O coletivo responsável pela organização reuniu a poetisa Luh Oliveira, professor e advogado Efson Lima, 18 escritores e artistas, juntamente com as Academias de Letras de Itabuna, Ilhéus e Canavieiras. Um grupo que deixou claro o quanto foram satisfatórios os resultados desde quando começou, em julho, o projeto do Festival.
“Um frescor na cultura”
A Alita (Academia de Letras de Itabuna), por exemplo, foi representada na programação, através da presidente, professora Silmara Oliveira; a confreira Raquel Rocha (comunicóloga e psicanalista), os confrades Gideon Rosa (diretor teatral) e Ruy Póvoas (escritor e poeta).
“O Flisba chegou num momento em que a região está, como todo o país, sem movimentos culturais, deu uma demonstração de força do coletivo, pensado, criado, discutido pelos seus elaboradores, utilizando como principal meio, para encontros, ajustes e afinações, o WhatsApp, e-mail, as plataformas de reunião zoom, e endereços virtuais com realização das mesas e no YouTube. São tempos em que a palavra ‘moderno’ soa insuficiente para traduzir a solução comunicativa e racional dos presentes dias. O Festival deu um cheiro, uma leveza, um frescor na cultura da região e veio para ficar. Salve! A Literatura tomando assento e apresentando gente nova”, argumentou Silmara Oliveira.
Efson Lima, morando em Salvador, mas sempre alimentando as raízes herdadas de Itapé e Ilhéus, destaca a importância do evento, pela “semente” que plantou. “O Flisba deixou uma enorme saudade, mas plantou uma primavera literária de esperança. Foram mais de 20 horas de atividades diversificadas; ele se transforma agora em um movimento em defesa da literatura e do acesso à leitura, com foco na promoção de uma mediação literária. Confirmamos a segunda edição do Flisba para 2021, mas até lá diversas ações serão efetivadas pelo Coletivo, inclusive, o lançamento de um manifesto”, adiantou.
Tradição e modernidade juntas
Uma das mesas-redondas tratou exatamente do uso das plataformas digitais como instrumento para novos escritores darem vazão a seus poemas e, quiçá, futuros livros. A psicóloga e psicanalista Indy Ribeiro chamou a avó Zezé, de 89 anos, para declamar ao vivo uma poesia.
Ela contou o quanto a octogenária mulher está inserida no mundo digital, inclusive com WhatsApp. Em parte da explanação, a jovem trouxe um vídeo com verdadeiros mantras que valem para todos: “A alma não envelhece; então, sonha cada vez mais!”; “A vida não tem hora; a vida é agora!”.
Mediada pelo professor Ramayana Vargens, da Academia de Letras de Ilhéus, uma mesa exaltou o centenário dos escritores Clarice Lispector e João Cabral de Melo Neto. Presente à discussão, Gideon Rosa lembrou a importância da literatura como fonte para textos de teatro e para estimular – de forma lúdica – a leitura entre os estudantes.
Ele citou como exemplos a peça “A Hora da Estrela” (a partir do livro de Clarice) e o Auto de Natal realizado em Buerarema, com textos de João Cabral. “Minha grande expectativa é que as pessoas se voltem para a literatura, para a gente ser mais feliz e mais cordato”, assinalou Gideon.
Já Raquel Rocha, que começou a debruçar-se sobre a obra da escritora aos 12 anos, falou do intimismo de Clarice e o quanto é possível o leitor se identificar com os escritos por ela deixados. “Clarice revela o inconsciente, nosso lado selvagem; é uma literatura que revela a alma humana. Não é só uma leitura; é uma experiência, uma catarse”, observou.
Silmara Oliveira, sob mediação do professor André Rosa (da Academia de Letras de Ilhéus), tratou da trajetória de Adonias Filho e o quanto ainda é inexplorado o potencial turístico a partir das contribuições que a literatura dele deixou. Por sua vez, o jornalista Daniel Thame narrou sobre a obra de Jorge Amado e a inspiração que encontrou no escritor para enveredar também pelo caminho de escrever livros.
O neto do escritor Sá Barreto, Raymundo Sá Barreto, relatou sobre as cartas que mostram a amizade do avô com Jorge Amado e de como ele tornou-se uma espécie de embaixador do famoso amigo em Ilhéus. Os livros dele, nunca é demais dizer, despertaram – e continuam despertando – o interesse pela “terra da Gabriela” em diversos pedaços Brasil e mundo afora. Um exemplo in-dis-cu-tí-vel do quão mágica é a literatura.
Ah! Para quem não pôde conferir, basta buscar no YouTube “Festival Literário Sul Bahia 2020”.