O aumento significativo de alunos matriculados em cursos de graduação a distância no Brasil entre 2005 e 2015, passando de 1,1 milhão para mais de 5 milhões de estudantes – um aumento de 354% – esbarra na concentração regional.
Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), só o Sudeste possui 47% de todos os alunos de cursos presenciais. Depois está o Nordeste, com 20%. Apenas a Bahia, o principal estado nordestino no ranking, tem 4,7% dos estudantes.
A situação das instituições que oferecem cursos a distância não é diferente: 42% delas estão sediadas no Sudeste, outras 21% no Sul e, enfim, 18% no Nordeste. A região Norte é a pior colocada, com apenas 6% das faculdades de ensino a distância em seu território. Em números, isso significa que, das 339 entidades que oferecem esse modelo de ensino, 75 estão em São Paulo, 36 no Rio de Janeiro e 32 em Minas Gerais.
Segundo analistas, o problema da concentração se expressa nas taxas de emprego: com menos mão de obra qualificada, as empresas procuram funcionários nas regiões onde é mais fácil encontrar pessoas habilitadas, principalmente nas grandes cidades.
“A Região Nordeste consegue ficar ainda pior que a já ruim média nacional. Após um feliz período de prosperidade, onde as taxas de desemprego aqui se tornaram, depois de décadas, similares as do resto do país, perdemos tudo em pouco mais de três anos. Voltamos à estaca zero no emprego enquanto não avançamos um passo na convergência da renda.”, escreveu o colunista Fernando Dias, do Diário de Pernambuco.
Segundo os últimos dados do IBGE, há uma redução na taxa de emprego no Nordeste desde 2012. Os economistas dizem que os resultados da indústria de construção civil e da agricultura não foram compensados pelos ganhos no comércio, serviço e administração pública. “Estamos perdendo emprego na agricultura e compensando com administração pública no século XXI”, escreveu Fernando em referência ao anúncio de um concurso no PE para este ano que mobilizou as redes sociais.
“A indústria de transformação, a grande vedete das políticas públicas da União e dos Estados, vem encolhendo, enquanto o comércio e os serviços buscam vantagens competitivas e locacionais para crescer”, completou.
O primeiro estado nordestino a sediar instituições de ensino a distância é a Bahia, na oitava colocação, com 13 universidades. A Paraíba é a 14ª, com seis. Para as entidades que controlam o tipo de ensino não presencial, é importante observar que o aumento de faculdades, mesmo em outros estados, permite que haja expansão para regiões pouco assistidas.
“A existência de instituições que têm a possibilidade de oferecer EAD em estados diferentes de sua sede demonstra o quanto a modalidade de educação a distância lhes permite ampliar seu alcance”, diz um trecho de uma pesquisa publicada no ano passado pela Associação Brasileira de Ensino a Distância (Abed).
De fato, cursos a distância podem ser a saída para estados com poucas ofertas de cursos. Em 2013, por exemplo, a Paraíba tinha 117 mil estudantes em universidades presenciais – a maioria deles matriculados em instituições públicas. Neste mesmo ano, o Ceará tinha 202 mil universitários, Pernambuco tinha 222 mil e o Rio Grande do Norte, 111 mil, apesar da população menor.
Segundo o Inep, o Nordeste proporcionou um aumento significativo no número de matrículas em cursos EAD: a Bahia, por exemplo, tinha 93 mil alunos nesse modelo em 2013. Pernambuco tinha 25 mil, o Ceará tinha 26 mil e, no caso da Paraíba, esse dado era de 14 mil.
“Se tem pouca faculdade presencial disponível, e o MEC reconhece o mesmo diploma para cursos a distância, que são, de fato, muito bons, chega a não ter sentido prender os alunos na ideia tradicional de graduação presencial”, explica o advogado Silas Henrique, que é professor na paulistana Cruzeiro do Sul, cujas atuações abrangem outros estados.
“O setor privado vai aonde tem demanda e maior capacidade de pagamento”, finaliza o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Paulo Corbucci.