Vereador eleito aos 23 anos; liderança oriunda do movimento jovem; em plenas 27 primaveras vividas, já empossado vice-prefeito em um município com mais de 213 mil habitantes; estudante do 5º semestre no curso de Direito. Eis um breve histórico da trajetória de Enderson Bruno dos Santos, politicamente chamado de “Guinho”.
Aos 28 anos, com uma voz grave que inspira seriedade, ele demonstra não se render, digamos, aos tais meandros da política. Aquela que o sociólogo Max Weber classificou como amoral (ou seja, nem moral nem imoral, não é?).
O representante do Executivo concedeu entrevista ao Diário Bahia, tratando de projetos na carreira, papel como vice-prefeito, secretário de Esportes (agora licenciado), pré-candidato a deputado federal, presidência do diretório local do partido União Brasil, além de revelações sobre a relação com o prefeito Augusto Castro (PSD). Abaixo, para vossa apreciação!
De vereador a vice-prefeito, em busca de vaga na Câmara Federal. Sua ambição política já encontrou alguma barreira às claras? Qual?
As barreiras que eu encontrei na minha caminhada política sempre foi o fato de eu ser muito jovem, não é? Isso geralmente é avaliado por grande parte das pessoas como a falta de experiência. Mas a gente vem demonstrando, embora pouca idade, que a gente reúne condições. Para executar da melhor forma os mandatos, tanto como vereador como vice-prefeito, gestor na Secretaria de Esportes. Mas eu tenho entendimento que também vai contribuir é a falta de poder aquisitivo [em relação] às pessoas que geralmente estão inseridas na política. Quando você é jovem e rico, tudo facilita, as portas se abrem; a gente visualiza aí muitos jovens que são apadrinhados por outros políticos ou herdaram de políticos os seus cargos e conseguem ter apoio. Muitos deles até sem competência para execução, mas recebe o apoio simplesmente por existir ali uma perspectiva de poder ou até mesmo de atender interesses pessoais daqueles que buscam se locupletar do poder público.
O senhor conduz um partido por anos presidido por Maria Alice Pereira, a “dama-de-ferro” da política itabunense. Já podemos ver Enderson Guinho como cavaleiro de aço?
Eu não sei por qual motivo Maria Alice recebeu esse título de ‘Dama de Ferro’, esse apelido. Acredito que talvez pelo seu posicionamento firme diante das decisões que cabiam a ela – seja pelo partido ou nas secretarias que ocupou. Mas, da minha parte, eu busco fazer à frente do partido aquilo que o novo tempo da política tem exigido por parte da população. Claro que comprometimento, com seriedade acima de tudo, e tentando contribuir através do município com a moralização da política brasileira.
Porque nós vivemos um momento muito desgastante na política e eu preciso estar na contramão daquilo que as pessoas estão desgastadas, cansadas realmente de enfrentar. Então como gestor, como dirigente de um partido eu busco claro ter o meu posicionamento, defender os meus princípios, não abro mão, de forma alguma, dos meus valores, daquilo que eu acredito, defendo e como dirigente do partido, para que a política a partir de Itabuna, a partir do sul da Bahia e da Bahia, a gente contribua um pouquinho para a moralização da política. Que é tão importante para o desenvolvimento da vida das pessoas.
Há no Brasil um histórico de vice-prefeitos que rompem com prefeitos. Sua relação com Augusto Castro está na fase de encanto, desencanto ou apenas diplomacia?
Celina, hoje exercendo a função de vice-prefeito – na minha opinião, essa é uma questão particular minha, eu acredito que numa reforma política já deveria até começar a sinalizar a extinção desse cargo –. Eu digo, tranquilamente, que é uma função que a gente observa desde o Brasil [esfera federal]. O vice-presidente Hamilton Mourão ele tem pouca participação nas decisões de governo do presidente Bolsonaro. No governo do estado, da mesma forma a gente viu que o vice-governador João leão foi colocado de escanteio até mesmo de decisões ou participação de decisões políticas e administrativas, que acabou rompendo com o governador Rui Costa e se aliando ao ACM Neto. E aqui no município da mesma forma; eu não tenho participação nenhuma nas decisões de governo, no planejamento estratégico do prefeito. Digo pra você de coração isso; se eu lhe disser que eu sei, por exemplo, qual é o planejamento mediante o empréstimo dos milhões para acontecer em Itabuna, eu não sei. Aquilo que o prefeito busca em Brasília, para onde vai ser destinado eu também não sei. Não tenho participação direta, embora tenha tentado.
Mas eu visualizo que no Brasil poucos são os prefeitos, gestores que dão essa participação aos seus vice-prefeitos, vice-governadores e acredito que muitas vezes pelo fato do gestor enxergar no seu vice ou uma sombra ou seu possível concorrente. Então, talvez dentro de uma reforma já deveria ser analisada a necessidade de extinção desse cargo. Já que, muitas vezes, pouco contribui para o andamento da gestão e acabam tendo desavença; a gente vê, em vários municípios, prefeitos brigados com vice-prefeitos.
Na nossa realidade, eu não quero que as coisas sejam tratadas a meu respeito, não quero que seja sobre mim. Quero que seja sobre essa cidade, sobre as pessoas de Itabuna, sobre o desenvolvimento dessa cidade. Acho que a população apostou numa mudança e espera que essa mudança aconteça; foram mais de quarenta mil votos, fiz parte dessa chapa com muita expectativa, com muito desejo de mudança e eu espero que isso possa acontecer.
O senhor teve, até o prazo permitido pela legislação eleitoral, um papel como secretário de Esportes. Como analisa esse trabalho?
Dentro da minha participação como gestor da secretaria de Esportes, durante esse um ano e três meses, eu tentei fazer com que o esporte de Itabuna desenvolvesse, voltasse a ser referência e tenho tido a secretaria como até mesmo o meu prêmio de consolação. Porque talvez, se eu estivesse apenas como vice-prefeito, não sei se eu estaria até mesmo no cargo; porque não é fácil vir de um mandato ativo, participativo, tentando colaborar e se tornar um vice-prefeito que faz parte apenas de uma composição, mas não contribui, não participa das discussões, daquilo que é decidido …
Visualizamos que a gente tem enfrentado muitos problemas e a gente tem falado com o prefeito e esses problemas a gente precisa o quanto antes buscar solucionar, para que a gente não tenha um projeto político acabando antes mesmo daquilo que é planejado.
Visualizamos, por exemplo, com relação ao transporte público, tem que melhorar muito! O prefeito precisa chamar essas empresas pra conversar, dialogar, o cidadão itabunense tem passado dias muito ruins com a qualidade do transporte público de Itabuna; é ruim e precisa melhorar o quanto antes. E pra isso o prefeito precisa chamar a empresa Atlântico, dialogar, porque criou-se uma expectativa dos usuários, dos munícipes e essa esse serviço precisa de uma melhoria com urgência..
A minha relação com o prefeito [Augusto Castro] a gente tem mantido a diplomacia, eu o respeito enquanto prefeito eleito dessa cidade, sugiro, cobro, sei para qual cargo eu fui eleito e preciso estar dentro dos limites do que está previsto na Constituição Federal deste país.
Caso eleito, qual será a primeira emenda que o deputado federal Enderson Guinho pretende trazer para Itabuna?
Dentro das minhas defesas, das minhas bandeiras, dessas discussões, estará o fortalecimento do cacau, que ainda é a grande força econômica da região. Nós exportamos noventa por cento daquilo que plantamos e ele precisa voltar a ser uma discussão central.
Mas se tratando de emenda de imediato, entendendo a necessidade, a questão da urgência e emergência, eu destinaria pra a saúde, pra que a gente pudesse modernizar, não é? Contribuir pra a modernização do nosso Hospital de Base, que ele tem um atendimento amplo no que se diz respeito aos municípios pactuados, nós somos cortados por duas BRs e o nosso hospital acaba muitas vezes sendo sufocado. Então, como forma de ajudar nossa região, seria concentrado de imediato um fortalecimento dentro da saúde pra que o nosso Hospital de Base pudesse atender com mais qualidade.
Aparentemente, os pré-candidatos ACM Neto e Lula preparam um acordo de cavalheiros para a campanha. Sua posição nesse cenário é…
Eu acredito que cada um está de um lado; eu optei pelo palanque contrário ao palanque do ex-presidente Lula. Mesmo entendendo que hoje ele está muito bem nas pesquisas na Bahia, que uma grande maioria dos baianos tem optado pelo nome dele como opção para este país. Mas tenho as minhas convicções, os meus eleitores, as pessoas que me acompanham sabem aquilo que eu defendo e acredito. E eu escolhi estar num palanque diferente do dele. Então, na minha opinião, não existe um alinhamento dentro dessas ideias, já que cada um defende um campo, cada uma ideologia, estão totalmente em campos diferentes. Por isso, eu optei por estar num palanque diferente daquele que governa a Bahia há dezesseis anos.