Inocentes são mortos durante “duelo” entre facções rivais; criança está entre as vítimas



 

 

O menino David foi uma das vítimas da violência desenfreada em Itabuna
O menino David foi uma das vítimas da violência desenfreada em Itabuna

Um “duelo” frio e sangrento entre facções criminosas que mata inocentes e desencadeia uma nova “guerra”, dessa vez proclamada por uma população que grita por paz e mais segurança. Itabuna viveu um feriado de Proclamação da República acuada por uma onda de violência, que tem desafiado a polícia.

Três pessoas foram mortas em possíveis confrontos, cujos ataques de uma das partes, supostamente o Raio B, teriam partido de dentro do presídio da cidade. Entre as vítimas, uma criança de 11 anos, atingida por uma bala perdida na manhã de terça-feira (15), no bairro Corbiniano Freire, durante uma dessas trocas de tiros entre integrantes de facções rivais. David Santos Lima, segundo familiares, tinha ido até a porta de casa, atraído pelo barulho dos tiros, quando foi alvejado no rosto. O menino ainda foi socorrido com vida, mas acabou morrendo horas depois no Hospital de Base.

A morte precoce e trágica do garoto provocou revolta e moradores da comunidade chegaram a atear fogo em uma casa no bairro Novo Horizonte, de onde teriam partido os ataques. Também promoveram um protesto, fechando a rua onde David morava. Na tarde do mesmo dia, um adolescente de 16 anos era executado quando soltava pipa na Rua G, no bairro Novo São Caetano.

Cleiton Batista dos Santos foi atingido por três disparos – pescoço, perna esquerda e costas. Ele morreu no local. Os criminosos, de acordo com relatos de testemunhas, estavam dentro de um táxi, de dados não anotados. A motivação ainda é desconhecida.

 

Morto enquanto lanchava

Ainda na terça-feira (15), só que a noite, mais um homicídio era registrado, dessa vez na Rua Vitória, bairro São Caetano. A vítima, ao que tudo indica, não fazia parte do mundo “sombrio” do tráfico. Jadson Teixeira Aquino, mais conhecido como “Peti”, tinha 18 anos. Ele estava lanchando numa barraca de salgados, quando foi surpreendido pelos assassinos. Vários tiros foram disparados, alvejando o jovem nas costas.

Parentes informaram que Jadson vendia temperos na feira livre do São Caetano e não era envolvido com o mundo do crime. A execução sumária do rapaz revoltou os moradores, que realizaram um protesto logo após o crime. Os manifestantes fecharam a rua, ateando fogo em pneus e pedaços de madeiras, enquanto clamavam por justiça.

Outras três pessoas ficaram feridas durante o ataque, que matou Jadson. Uma delas foi a dona da barraca, onde o jovem lanchava. Jocilene Souza Santos, mais conhecida como “Branca”, de 36 anos, foi baleada nas costas. O segundo sobrevivente foi identificado como Edvaldo Ferreira Santos, conhecido como “Dedê”, 34, que levou um tiro no abdômen. E o terceiro ferido foi Pedro Cruz de Jesus, de 41 anos. Todas as vítimas foram socorridas para o hospital de Base. Jocilene e Edvaldo, inclusive, já tiveram alta. Apenas Pedro continua internado. O tiro fraturou um dos braços e ele será submetido a uma cirurgia.

 

“Matemática da morte”

A essa altura, a “matemática da morte” já soma oito assassinatos na primeira quinzena de novembro em Itabuna e 111 ao longo do ano. Além do menino David, morto no feriado do dia 15, outras duas pessoas inocentes acabaram morrendo em meio à truculência protagonizada por bandidos cruéis, entre as quais a idosa Rosenilda Pereira, de 62 anos.

“Dona Neném”, como era mais conhecida, foi brutalmente assassinada na madrugada do dia 05, quando um bando de aproximadamente oito homens armados invadirem a casa dela, na Rua Belo Horizonte, bairro Mangabinha. Dona Neném tentou segurar a porta, na tentativa de proteger a família, mas foi vencida pela tirania dos criminosos. Ela conseguiu impedir um massacre, mas morreu, alvejada com vários tiros de pistola ponto 40. Dois protestos já foram realizados desde a morte da idosa que, apesar da idade, ainda vendia acarajé. Ela era muito querida na comunidade.

 

“Sair da cidade”

Porque também não lembrar de Lenildo Pinto de Oliveira, morto aos 31 anos, quando desceu do carro para urinar, às margens da BR-101, próximo ao bairro Manoel Leão? O rapaz e a esposa estavam como caronas no veículo Prisma, dirigido por um amigo. Eles seguiam para a casa da vítima, no bairro Urbis IV. No momento em que Lenildo urinava, ouviu o barulho de tiros, disparados do alto de um morro. Ele ainda chegou a correr cerca de 50 quilômetros, mas foi atingido nas costas. A esposa e o amigo dele conseguiram escapar ilesos.

Ao Diário Bahia, familiares informaram que Lenildo era caminhoneiro e uma pessoa de bem, querida por todos. A família está assustada e pensa até em sair da cidade. “É muita violência. Muitas pessoas inocentes. Lenildo ajudava todo mundo, era muito apegado à família. Não tinha nenhum vício. A angústia que a gente está sentindo é muito grande”, disse um parente, que preferiu não se identificar.

Lenildo estava no lugar e hora errados. Morreu, provavelmente, em mais um capítulo da guerra entre traficantes rivais. Esta é uma das suspeitas da polícia que, até o fechamento dessa matéria não havia conseguido identificar os acusados.

4 – Lenildo foi assassinato durante um confronto de bandidos no Manoel Leal
Lenildo foi assassinato durante um confronto de bandidos no Manoel Leal