JOGANDO A TOALHA


Na opinião de Marco Wense, a tendência de Bolsonaro é mudar a postura


O grande desafio do presidente Jair Messias Bolsonaro é mudar de comportamento sem perder a militância da ala radical e intransigente do bolsonarismo, sem contrariar os chamados bolsomínios de raiz.

Esse segmento ultra-ideológico do bolsonarismo é o que rotula todos que criticam o governo – e muitas vezes fazendo críticas construtivas – de camuflados comunistas, como aconteceu com Mandetta e Moro, só para ficar em dois simbólicos exemplos.

Agora, depois do leite derramado, com ataques sem precedentes na história da República às instituições, principalmente ao Supremo Tribunal Federal (STF), instância máxima do Poder Judiciário, os moderados do staff palaciano querem que Bolsonaro não seja mais Bolsonaro.

O saudoso jornalista Eduardo Anunciação, com sua polemicidade, inquietude e sabedoria, dizia na sua conceituada coluna Política, Gente, Poder, no Diário Bahia, que “ninguém muda depois dos 40 anos”. Pode até disfarçar, mas mudar de verdade é ledo engano. Pura tapeação.

Pois é. Vendo a fogueira da instabilidade cada vez mais com lenha, com pedidos de impeachment por todos os lados, com a possibilidade de ser julgado e responsabilizado pelos tribunais internacionais por desdenhar a gravíssima crise sanitária, chamando a Covid-19 de “gripezinha”, a maior autoridade do Executivo começa a dar os primeiros sinais de recuo, que quer uma trégua.

O ministro Alexandre de Moraes, relator das fake news na Alta Corte, que também conduz as investigações sobre as ameaças ao tribunal, até mesmo com “bombardeio” de fogos de artifício, foi procurado por um grupo do primeiro escalão do governo de plantão, entre eles Jorge de Oliveira, André Mendonça e José Levi do Amaral, respectivamente da Secretaria-Geral, Justiça e Advocacia Geral da União. Cada um com uma toalha na mão.

Como não bastasse, já que o estrago institucional é grande e, como consequência, o afloramento da ingovernabilidade, o que termina abrindo as portas da presidência para o toma-lá-dá-cá protagonizado pelo Centrão, o próprio Bolsonaro, depois de criticar publicamente Luiz Fux, do STF, parece querer hastear a bandeira branca. Vale lembrar que Fux vai assumir o comando da Alta Corte no lugar de Dias Toffoli.

A pergunta oportuna e pertinente, que encaixa perfeitamente no editorial de hoje, não poderia ser outra: Como vão se comportar os bolsomínios radicais diante de um presidente Bolsonaro jogando a toalha?