Lula arrasta multidão e marca novo prazo para entregar Ferrovia Oeste Leste


Presidente tratou de política e contou segredos na rodovia Ilhéus/Uruçuca


O presidente Lula encurtou o prazo: quer entregar a Fiol até dezembro de 2026 (Fotos: Ricardo Stuckert)

Por Celina Santos/Diário Bahia

Dono de um indiscutível carisma – aquela característica crucial, que marqueteiro político nenhum consegue fabricar. Este é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no sexto mês do terceiro mandato. Ele veio ao sul da Bahia na segunda-feira (03), para autorizar a retomada de obra da Ferrovia de Integração Oeste Leste (Fiol).

É o trecho 1, do Lote 1F, com 127 km (percurso entre Ilhéus, Uruçuca, Ubaitaba, Gongogi, Itagibá, Aurelino Leal e Aiquara). Sedutor com os pares e os representantes da Bamin (empresa responsável pela obra), ele conclamou em nome da antecipação.

“Eu quero estar vivo e na Presidência, para voltar aqui e entregar essa obra até 31 de dezembro de 2026! Vocês trabalham no fim de semana, nos feriados, mas vamos entregar em 2026, ao invés de 2027?”, propôs, sob efusivos aplausos. Para além do transporte de grãos (objetivo principal), Lula citou os ganhos econômicos para a população em geral.

Novamente, mexeu nos anseios de uma massa carente de renda. “É uma obra que vai gerar emprego, desenvolvimento; todo mundo quer seu salário, para comer melhor, vestir melhor, se divertir no final de semana”, elaborou, num tom que o aproximava da multidão.

Água com (e sem) passarinho

O presidente aproveitou para alfinetar o antecessor, quando disse que lançou a obra da Fiol em 2010, seguiu por um trecho considerável, mas tudo foi interrompido pelo representante anterior do Governo Federal. “Já era pra ter sido entregue, mas ficou parada nos últimos quatro anos. Chegou a hora da retomada”, arrematou, para delírio da multidão.

Falando absolutamente de improviso (sem discurso escrito), ele tratou de reforçar a tônica da gestão, com reinício e ampliação de motes da última gestão dele. É o caso da ampliação de programas como “Minha Casa, Minha Vida”, “Luz Para Todos”, “Água para Todos”. Ações, por sinal, previstas para começar este mês.

Trata-se de iniciativas com forte apelo popular, por atender a expectativas de todo adulto: morar numa residência própria; enxergar em volta e locomover-se, inclusive à noite; ter a tão fundamental água potável, para beber e suprir necessidades básicas.

Cheio de humor (ao lado da já famosa esposa Janja da Silva), o presidente Lula esboçou uma leve tosse ao falar. Aí, ele confessou: “Antes, quando tossia, eu tomava a ‘água que passarinho não bebe’; agora, eu só tomo água mesmo … pelo menos na frente de vocês” (risos e mais risos dele e da plateia).

Do “Galego” ao “Filho do vaqueiro”

A fala de Lula, sempre sábia e com ar de naturalidade, mexe com o senso de pertencimento, tão comum a todas as pessoas. Ele se disse orgulhoso por ver uma sequência de governos bem-sucedidos na Bahia, exercidos por correligionários.

E mencionou os três governadores do Partido dos Trabalhadores, destacando o trabalho relevante que realizaram no sul da Bahia. “Começou com o ‘Galego’ [Jaques Wagner], veio o funcionário da fábrica [hoje ministro da Casa Civil, Rui Costa] e agora o filho do vaqueiro [Jerônimo Rodrigues], natural do município de Aiquara”, pontuou.

Assim, demonstrou orgulho da carreira construída por integrantes históricos do partido fundado por ele, então metalúrgico, na década de 1980.

Autoridades políticas de diferentes esferas acompanharam a retomada das obras da Fiol, interrompidas na gestão anterior

Pop é ele!

Após o discurso, sempre ressaltando o papel de cada ator político envolvido naquele contexto, o mandatário desceu do palco, para entregar-se aos braços da calorosa plateia. Enquanto ele caminhava pelo espaço, ouvia gritos apaixonados, pedidos de fotos, recebia abraços, manifestações de carinho.

“Jerônimo, tira foto com Lula!”; “Lula, você é o melhor do mundo”; “Lula, eu te amo”; “Lula, você é o melhor”… Enquanto circulou por uns breves minutos em volta daquela massa encantada, o presidente marcou presença e saiu rapidamente. Porque às 14 horas seguiria para Brasília.

Conforme a agenda, viajaria para a Argentina em seguida. O Brasil assumiu a liderança do Mercosul, bloco de países cujo objetivo é zelar pelos interesses comuns ao lado sul da América. Ainda que o cenário político ainda tenha divisões (próprias da democracia, diga-se de passagem), não há como negar que o Brasil testemunha a postura (e a articulação) de um líder mundial.

Obviamente, estamos falando de uma seara que desperta amor e ódio, manifestações em diferentes níveis de racionalidade (aliás, muitas vezes, total irracionalidade). Há teóricos que classificam a política como “ópio do povo”. Entretanto, a la Hegel, por que não reconhecer? “Nada existe de grandioso sem paixão”.