Luta contra câncer de mama tem barreiras em Itabuna e região


Entrevista com fundadora do Grupo Se Toque mostra cenário na pandemia


Sueli Dias: “especialistas comentam possível explosão de novos casos em 2021”

Todas as orientações para detecção e tratamento precoces do câncer de mama vêm encontrando barreiras neste cenário imposto há meses pelo coronavírus. Prestes ao encerramento da campanha “Outubro Rosa”, o Diário Bahia ouviu a ativista Sueli Dias, fundadora do Grupo Se Toque.

A entidade tem reconhecido trabalho em Itabuna e região, para amparo às mulheres que se deparam com o desafio de lutar contra tumores malignos nos seios – um dos principais ícones no universo feminino. Sueli menciona as dificuldades encontradas pelas pacientes, bem como a estimativa para evolução da doença.

Com 15 anos de atuação, o referido Grupo fica na rua Monsenhor Moisés, nº 181, bairro Pontalzinho (Mais informações pelo WhatsApp (73) 98819-1344). Além do apoio emocional e orientações médicas, tem se dedicado a outras ações para suporte às pacientes.

 

Como está sendo a procura pelo apoio do grupo neste tempo de pandemia?

Durante a pandemia, as pessoas buscaram o Grupo Se Toque principalmente em busca de orientação. Inicialmente, a campanha sanitária “fique em casa” levou muitos pacientes, principalmente de outras cidades, a interromperem seus tratamentos. Não só o medo da pandemia foi responsável por essa interrupção, mas, também, a suspensão do transporte público. Nem todo paciente SUS possuía, nesse período, condições de arcar com os custos de contratação de um veículo para vir a Itabuna para uma etapa do tratamento. As secretarias municipais de saúde não conseguiram dar conta desse desafio. Havia e ainda há, para muitos pacientes, dificuldade de comunicação. Na falta de certeza se os serviços médicos estavam funcionando, teve paciente que optou por não vir, não arriscar. O universo de pessoas que se tratam em Itabuna inclui pessoas, por exemplo, que não possuem um “smartphone”, que moram na zona rural, o que dificulta o acesso à informação e o encaminhamento de algumas soluções.

E o tipo de amparo que vocês seguem oferecendo?

Ao longo desse período temos atuado na orientação aos pacientes e seus cuidadores em suas principais necessidades, principalmente em relação à conduta nesses tempos de pandemia. Acompanhamos e orientamos pessoas com dificuldades em relação ao seu dia a dia: a princípio, dúvidas sobre o cadastro do auxílio emergencial, dúvidas sobre as perícias médicas e o agendamento on-line de serviços da Previdência Social, sobre a realização ou não de exames, consultas, cirurgias, curativos, aquisição de medicamentos de alto custo, alimentação e sintomas pós quimioterapias etc. No Grupo Se Toque temos voluntários com diversos dons que se revezaram, ao longo desse período, para, mesmo à distância, oferecer algum suporte emocional a quem nos acionou via telefone ou através das redes sociais. Por intermédio desses voluntários, foram confeccionadas máscaras artesanais, com tecidos que nos foram doados por uma loja e que foram distribuídos na quimioterapia, radioterapia, hemodiálise e CEPRON. Foram realizados, em casos pontuais, socorro emergencial para algumas pessoas em situação de vulnerabilidade, através da entrega de alimentos, medicamentos e fraldas. Continuamos disponibilizando prótese artesanal para quem precisou retirar toda a mama, bem como lenços e toucas para aqueles que perderam os cabelos.

Pode nos situar com números relativos a câncer de mama, seja nos 10 meses deste ano ou em 2019?

Registramos que apesar de a estimativa de novos casos de câncer de mama, segundo o INCA (Instituto Nacional do Câncer) ter sido de 3.460 novos casos que seriam diagnosticados na Bahia em 2020, por conta da pandemia, muitas mulheres não tiveram oportunidade de realizar exames clínicos, de imagem e por conseguinte punções e biópsias para confirmar diagnósticos. O que os próprios especialistas comentam, com preocupação, é a possível explosão de novos casos em 2021, alguns em estágios avançados. A título de ilustração, lembramos que a Fundação Lourdes Lucas, que realiza exames de mamografia pelo SUS para diversos municípios da Bahia, teve que interromper seus serviços desde o início da pandemia.

A Santa Casa superou as dificuldades para oferecer quimioterapia e radioterapia, apontadas meses atrás?

A oncologia em Itabuna passou a funcionar precariamente em maio de 2019; em 2020, regularizou seus atendimentos e as queixas que ouvimos nesse ano, de alguns poucos pacientes, dizem respeito ao prazo para realização de consultas eventuais com oncologista para aqueles que já concluíram seus tratamentos e que apresentaram alguma intercorrência. Nesse primeiro semestre, ouvimos alguns relatos em relação ao funcionamento do equipamento de radioterapia, seja por lentidão ou interrupções para manutenção, mas voltando em seguida ao pleno funcionamento.

Com relação aos pacientes em cuidados paliativos, acompanhamos algumas situações em que o paciente ou familiar se mostravam receosos em buscar atendimento médico por conta do medo da pandemia, o que levou a maiores sofrimentos.

Ainda sonhamos com o diagnóstico precoce e tratamento no menor tempo possível, mas não sabemos o que nos espera no ano de 2021, com o possível aumento de casos, sem o consequente aumento de recursos para financiamento da saúde.

Como ativista pela prevenção e tratamento do câncer de mama, o que pode dizer às mulheres que se deparam com a doença?

Para cada mulher que se depara com um sinal de alerta, peço encarecidamente que não deixe de investigar. Que esteja sempre atenta a seu corpo e a qualquer alteração, e que priorize e valorize sua vida! Para quem recebeu um diagnóstico de câncer, me coloco à disposição para ouvir, trocar experiência e caminharmos juntas. Há sempre um caminho, uma solução, sendo necessário enfrentar o medo, aceitar a notícia e seguir em frente com muita fé!