Por Celina Santos
O médico Antonio Mangabeira, conceituado oncologista de Itabuna, parece perseguir um objetivo que nada tem a ver com os desafios da profissão: ser prefeito. Ele demonstra ainda acreditar na possibilidade de um revés jurídico que lhe permita sentar-se à cadeira de mandatário-mor da cidade. Com voz pausada e um tom até didático, indica paciência – ou tentativa de persuadir o interlocutor.
Nesta entrevista ao Diário Bahia, Mangabeira revela planos na política, na condução do diretório municipal do PDT (Partido Democrático Trabalhista), no qual é presidente, e mais: faz críticas ao governador Rui Costa, a quem atribui a responsabilidade de o prefeito Fernando Gomes ter sido liberado pela Justiça Eleitoral, para assumir o cargo.
Após uma estreia com mais de 19 mil votos, quais serão seus próximos passos na política?
Continuar atuando no partido. O PDT de Itabuna hoje é constituído por um diretório próprio, que tem se reunido constantemente com os correligionários e definido os rumos políticos do partido. Sabemos que o momento político brasileiro e em Itabuna também é muito difícil, com diversos problemas vistos, e o PDT sai como um partido diferente dos que estão aí. Por não ter pessoas envolvidas em corrupção, em Lava Jato. Então, tem certa lisura ao longo desse tempo; graças à semente plantada por Leonel Brizola, temos um partido com certa coerência e certa atuação na política brasileira.
Quando foi entrar no PDT, o senhor disse que só iria se lhe dessem autonomia para fazer o que acreditava. O partido lhe deu essa autonomia?
Deu e provou isso ao longo do tempo. Na pré-campanha a prefeito de Itabuna, ninguém acreditava na minha candidatura. Diziam que tal pessoa vai tomar o partido, que ‘eles não vão conseguir e vão ter que apoiar tal candidato’… E nós provamos que tínhamos autonomia, que foi garantida pelo deputado Félix Júnior. Essa garantia veio com nossa candidatura, com nosso crescimento e nossa vitória. Nós não perdemos a eleição; nós só perdemos para a Justiça. A Justiça enganou Itabuna, não fez o que deveria ter feito. Mas a população de Itabuna soube escolher o seu representante.
Já que está falando da questão judicial, como sua defesa se comportou em relação às ações contra o prefeito Fernando Gomes?
Olhe, a questão judicial é que existe certa tendenciosidade no Tribunal Regional Eleitoral em conduzir os julgamentos de acordo com interesses políticos, quando as questões jurídicas são deixadas de lado. Quer dizer: aquele indivíduo que foi condenado, que já era sabido que tinha uma condenação no Tribunal de Contas da União contra o prefeito atual… isso já era sabido por todo o colegiado de juízes e eles resolveram não considerar isso.
Sobre sua defesa…
Na verdade, nossa defesa não tem como agir, porque o julgamento não é jurídico. Nossa defesa foi feita, nós interpusemos dentro do processo, mas nada foi aceito. Nós acabamos perdendo por um julgamento que independe do que é certo e do que é errado; depende da vontade política de quem manda no Tribunal.
E quem manda?
O governador [Rui Costa]. Ele determinou que era pra ser liberado o prefeito e foi liberado. Isso foi uma atuação ruim para a imagem do governador. Porque nós entendemos que não era a coisa correta, a população entendia que não era isso que se esperava e terminamos perdendo uma oportunidade de modificar a política de Itabuna.
O senhor ainda tem expectativa de afastamento do prefeito pelo TSE [Tribunal Superior Eleitoral]?
Temos, temos! Eu acho que o TSE vai julgar de forma diferente; o julgamento no TSE vai ser jurídico. Quando for jurídico, nós sabemos que há possibilidade de condenação dele. A defesa não sabe quando, porque tudo depende dos trâmites do Tribunal. A qualquer momento pode ser julgado ou pode ser que demore um, dois, três anos. Juridicamente, está colocado que tendo o afastamento dele, tem que ser convocada nova eleição. A gente está colocado para realmente sair candidato à prefeitura novamente. Esse é o objetivo maior. O foco é ser prefeito e vamos perseguir nesse caminho.
Para além dessas questões, como o senhor pretende se colocar? Por exemplo, vem aí Mangabeira para deputado estadual?
Olha, eu não tenho interesse em sair candidato a deputado estadual. Entretanto, o partido vai ter que conversar, discutir essa situação. Nós precisamos ver como vamos discutir essa indicação minha para deputado. A princípio, não quero, não sou político profissional. Não quero viver de política, eu gosto de ser médico. Meu interesse maior é ser prefeito de Itabuna, fazer uma administração séria, organizar Itabuna, e não político profissional, como todos os outros que estão aí. Nós vamos persistir nesse caminho.
O senhor disse entretanto…
Aí nós temos que ouvir o partido, ouvir a executiva estadual, a local, pra ver se é importante que eu saia ou não. Às vezes, você participa de uma agremiação e por ser um líder, não pode
tomar decisões puramente pessoais. Tem que ouvir as pessoas e ver qual o interesse maior do partido. Se acharem que é importante eu sair como candidato, posso fazer um sacrifício e sair.
Essa decisão será tomada quando?
Nos próximos dois meses, a gente deve ter uma definição.
Caso seja candidato, o senhor já chega como oposição ao governador, candidato natural à reeleição…
Essa é uma situação que quem escolheu o caminho para se associar a Fernando Gomes e ao DEM foi o próprio governador. Não foi a gente que se excluiu nessa situação. Quem escolheu ser aliado de Fernando Gomes foi ele. Então, nós não podemos marchar com o governador. Nós seremos uma candidatura contra essa situação. Inclusive, temos a possibilidade de ter um candidato próprio do PDT a governador da Bahia.
Quem seria?
Não tem ainda a escolha, mas existe a possibilidade.
Qual a orientação do PDT ao vereador Enderson Guinho frente ao governo Fernando Gomes?
Que ele seja em benefício da população de Itabuna. Votar em tudo aquilo que for favorável à população e contrário a tudo que seja prejudicial. Isso é uma orientação, não é uma determinação. Ser contrário a tudo que estiver errado; e tem muita coisa errada.
Por exemplo…
Existem contratos sendo feitos de forma aleatória. Todo dia um contrato de emergência do lixo; diversos advogados de Salvador sendo contratados, quando temos uma procuradoria jurídica competente para assumir os processos da prefeitura. Existe uma quantidade absurda de aluguéis, inclusive de casas em que o próprio dono fica à disposição para gerir o aluguel. Temos a perspectiva de construção de uma passarela num local onde passam poucas pessoas; não está sendo feita em outro local mais adequado, onde passa muita gente. A gente não entende isso. Existe uma falta de lisura na administração pública; as coisas são feitas às escondidas. A população está ansiosa, querendo saber.