Materno-Infantil de Ilhéus utiliza a Língua Brasileira de Sinais para auxiliar mãe que possui deficiência auditiva


O primeiro contato de Mateus com a Libras foi no contexto religioso


Há 10 dias a manicure e cabeleireira Genildes Santana de Jesus, de 30 anos, passa a maior parte do tempo na UTI Neonatal do Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio, em Ilhéus, acompanhando a evolução da pequena Keila, sua primeira filha, que nasceu prematura. Genilde possui deficiência auditiva. Desde a chegada à UTI ela conta com o apoio do enfermeiro Mateus Alves, que vem lhe mantendo informada sobre a evolução do quadro da filha e oferecendo orientações sobre a melhor posição para amamentação. “Doía muito ao amamentar. Ela se queixava demais”, lembra o enfermeiro. Em comum acordo com a equipe, a puérpera passou a usar marcadores para posicionamento e pontos para o bebê abocanhar. Usando a Língua Brasileira de Sinais – e trocando informações – os profissionais encontraram a posição correta para a criança e mais confortável para a mãe.

A mãe de Genildes conta que durante a gestação, uma das maiores preocupações da filha era justamente como deveria – e poderia – se posicionar e estabelecer diálogos com os profissionais do hospital quando chegasse a hora do parto. Mas Ivanildes lembra que, tempos atrás, ao precisar passar 13 dias com ela internada na unidade, foi possível perceber que não haveria motivo algum para tamanha insegurança. “Me senti feliz, à vontade. O tempo todo ela foi bem cuidada aqui”. Surda desde o nascimento, Genildes estudou numa escola tradicional. “Ela foi oralizada, o que aprendeu foi sem uso de sinais. Por isso, os contatos feitos são classificadores, como a gente chama em libras, para facilitar o contato com a língua gestual”, explica o enfermeiro.

Especialista

O primeiro contato de Mateus com a Libras foi no contexto religioso. A igreja que frequenta trabalha com tradução e interpretação da língua de sinais. Técnico de enfermagem durante nove anos e há pouco mais de três graduado em Enfermagem pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) ele também fez uma pós-graduação em linguagem de sinais e formações na área da saúde. “A libra é uma língua. Porém, se difere nos contextos usados. O da saúde, por exemplo, é muito específico. Você precisa se aprofundar onde vai atuar”, assegura.

Para Mateus, esse acolhimento feito a Genildes é um passo importante que o Hospital Materno-Infantil dá para valorizar ainda mais a sua política de humanização. “Muitas vezes a gente apaga a pessoa surda e ouve apenas a pessoa que está intermediando. Termina o sujeito mais interessado no debate, não estabelecendo a sua própria comunicação e fica em segundo plano. Você perde a questão da individualidade, do sigilo, porque você transfere essa responsabilidade para quem não está diretamente vivenciando a história. Faço esse trabalho para garantir à pessoa surda o direito que ela tem a acessibilidade”, assegura.

*Salvar vidas*

O enfermeiro lembra que existe um Projeto de Lei em tramitação no Congresso Nacional determinando que todas as unidades hospitalares públicas do País devam ter tradutor à disposição do paciente. “A doença se expressa muito mais na comunicação em que ela estabelece. Expressar o que a pessoa que possui deficiência auditiva sente é extremamente valoroso e pode salvar vidas”, afirma Mateus. “Em nosso caso, as famílias estão presentes, dentro da unidade neonatal, mas elas querem algo mais. Querem a aproximação, participar do cuidado e falar sobre. Temos que dar direito a mãe participar”, assegura.

A direção do hospital já estuda a ampliação deste trabalho, assegurando a utilização da Língua Brasileira de Sinais nos principais setores da instituição. Desde a recepção, que é a porta de entrada dos pacientes, passando por maqueiros, seguranças, técnicos e enfermeiros, com quem são estabelecidos os primeiros contatos ao chegar na unidade. O Núcleo de Educação Permanente já elabora um calendário do curso, que será iniciado ainda neste primeiro semestre de 2025.

Referência

Única maternidade 100 por cento SUS do sul da Bahia, o Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio foi inaugurado em dezembro de 2021 pelo Governo da Bahia. Desde então, é administrada pela Fundação Estatal Saúde da Família. Possui 105 leitos para obstetrícia, partos normal e de alto risco, pediatria clínica, UTIs pediátrica e Neonatal e já ultrapassou a marca de nove mil bebês nascidos na unidade. É, também, a única unidade hospitalar do estado especializada no atendimento aos Povos Indígenas do estado.