Por Evellin Fagundes
Existe idade para exercer a solidariedade? A iniciativa de Maria Fernanda Moutinho, de 7 anos, é uma evidência de que não. Natural de Teixeira de Freitas e moradora de Itabuna desde o primeiro ano de vida, a pequena escolheu comemorar o aniversário fazendo uma festa com seus colegas do 1º ano do fundamental, no Colégio Adventista de Itabuna. O fato seria comum se não fosse pelo tema e propósito da celebração. Maria Fernanda abriu mão de ganhar presentes e preferiu que seus colegas levassem leite em pó, que depois seriam direcionados para uma finalidade especial.
“A minha festa eu escolhi ‘colheita de amor’ porque a gente tem o maior amor pra poder ajudar as crianças que têm câncer, ajudar as crianças que estão dodóis. A gente pode ajudar todo mundo, então eu pedi esse pacote de leite para doar pro Gacc [Grupo de Apoio à Criança com Câncer]”, explicou Maria durante a festa, que aconteceu no dia 22 de agosto.
Raffaella Moutinho, mãe de Maria Fernanda, contou de onde surgiu a ideia. “Estávamos organizando o quarto dela e separamos brinquedos repetidos para doar. Conversando, surgiu o assunto ‘aniversário’, quando ela disse que tem muitos brinquedos e não precisa de mais e que poderia pedir algo aos colegas para ajudar as crianças do Gacc “, relatou.
A decoração repleta de corações deixava evidente que o aniversário era de alguém, mas o centro da festa era o amor. A ação altruísta chamou a atenção de colegas e da professora. Acostumada a acompanhar as atividades sociais promovidas pelo Colégio, como entrega de brinquedos para crianças moradoras do lixão, a professora, Claudia Vivas, achou interessante a atitude espontânea da aluna. “Como professora, me sinto honrada em notar que os valores ensinados em sala de aula têm feito parte das vivências de Maria Fernanda. Importante destacar também o papel da família, sempre parceria da escola”, disse.
Plantando amor
O Gacc Sul Bahia é uma instituição que acolhe, especialmente, crianças e adolescentes de 0 a 18 anos que vêm a Itabuna fazer tratamento da doença. Atualmente, atende, em média, a 20 famílias por semana, abrangendo uma área de mais de 200 municípios. Por ser uma iniciativa sem fins lucrativos, sobrevive de doações. Segundo a coordenadora da Casa, Juliana Silva, toda doação é importante e explicou que o atendimento da entidade vai além da oferta de abrigo às famílias. “A demanda não é só a da casa de apoio, mas nós também damos assistência na alimentação de pacientes internados e seus acompanhantes e, em casos específicos, auxiliamos com cestas básicas”, explicou.
No dia 5 de setembro, com apoio do Colégio, Maria, seus pais e colegas foram até a Casa de Apoio do Gacc, que fica no bairro São Judas, e fizeram a entrega dos pacotes de leite em pó. “É uma ação muito bonita, ainda mais se tratando de uma criança. Já mostra que ela tem uma excelente consciência social. Nós sabemos o que as famílias passam e sabemos que essas doações farão diferença. Elas ficarão muito agradecidas”, completou a coordenadora Juliana.
Com felicidade, Raffaella conta que a empatia é uma característica presente na filha. “No início do ano perdemos uma tia muito amada com câncer e isso mexeu e ainda mexe muito com ela, ela tem saudades, fala que será médica cientista pra descobrir a cura de muitas doenças. Ela é muito sensível e, quando vê pessoas carentes, se movimenta pra ajudar de alguma forma, pedindo suporte a mim e aos avós. Como pais, ficamos felizes em ver nossa filha com coração inclinado para ajudar ao próximo. Realizamos o sonho de Nanda e despertamos o amor ao próximo na vida de muitas pessoas”, finalizou.