“Eu vi o menino correndo/ eu vi o tempo/ brincando ao redor do caminho daquele menino”. Com versos da música “Força Estranha”, os moradores do Mangabinha, em Itabuna, bem poderiam lembrar-se de um vizinho que subiu e desceu muitas vezes as ladeiras do bairro, em busca de espaço para custear a sobrevivência. Estamos falando do cantor e compositor Elivandro Cuca, hoje conhecido como Mister Cuca.
Neste 2019, no mês de outubro, ele completará 25 anos – as bodas de prata! – no bem-sucedido casamento com a música. Vamos a uma breve viagem pelo caminho percorrido por Cuca até aqui. De ouvido apurado, leitor contumaz e observador do cotidiano, ele reconhece ter abraçado um trabalho que exige atenção ao que está em volta. “Temos que buscar temas. Não é só inspiração; é também transpiração”, garante.
O compositor procura sempre seguir a “cartilha” do que as pessoas gostam de ouvir naquele momento. Agora, por exemplo, “surfando na onda” do que está na moda e teve canções gravadas por duas das duplas mais comentadas do chamado sertanejo universitário: Henrique e Juliano (“Cupido desastrado”) e Matheus e Kauan (“Cupim de coração”).
Noutro estilo, também tem assinatura dele, junto com Crystian Lima, a música “Man”, que deverá estar no “Cabaré do brega”, novo CD do cantor Chimbinha. O músico itabunense também já teve a experiência de compor todas as músicas de um CD; tudo conforme a demanda e com o que lhe é encomendado. “Eu não paro, estou sempre em movimento. Nem sempre acerto, mas tenho que buscar porque o mercado é muito competitivo”, conta.
Aqueles 62 reais
Para se ter uma ideia, o primeiro pagamento que Mister Cuca recebeu por uma música foi de R$ 62,00, em 1996. “Se eu fosse abrir um crediário e dissesse que sou compositor, as pessoas riam. Aí dizia que era cantor”, recorda. Mas na prática, ele decidiu mesmo soltar a voz. Teve a experiência cantando como backing vocal da banda Cacau com Leite, onde ficou até 1999. E dali seguiu, de 2001 a 2003, com o grupo Forró na Cuca.
Só que nosso inquieto sul-baiano decidiu tomar outro rumo. “Fui compor por necessidade”, lembra, citando a chegada do filho mais velho, Davi, hoje com 18 anos. Do casamento de 20 anos, veio também Samuel, agora com 16.
Com a música “Paixão”, composição de Cuca, a banda Cacau com Leite ganhou projeção nacional. Em 2004, teve canções gravadas pelas bandas Vera Cruz, Forró do Karoá e Lordão. Para este grupo, inclusive, escreveu sucessos como “Yo non vivo sem você”. Bingo! O espaço junto a bandas famosas na região deu aquele empurrãozinho pra o compositor grapiúna buscar espaço com um grande nome na capital.
Daí, ele passou meses em Salvador, na tentativa de apresentar uma composição à cantora Ivete Sangalo. Quando pôde falar com ela, em 2005, a cantora gravou “Galera” e “Zumzunhê”. “Sou grato a ela pelo resto da vida”, afirma, emocionado.
Os contatos em Salvador também renderam outras composições gravadas por estrelas do axé. Teve, por exemplo, músicas na voz de Netinho (“Balanço Legal” e “Muito bom”), Ara Ketu (“Pavê), Cheiro de Amor, Asa de Águia, Terra Samba, Margareth Menezes, Babado Novo e Psirico. “Busco o que tá no gosto da galera. Compor é trabalho. Não tenho que esperar; tenho que buscar”, define.
Ah! Para além do que rola nos trios Bahia e Brasil adiante, o trabalho deste itabunense pra lá de determinado também chegou ao cinema, através da música “Caldeirão”, na trilha do filme “Ó Paí, Ó”, e “Piriri piti” na novela “Cobras e Lagartos”, com a banda Babado Novo.
Agente de gravadoras
O sucesso como compositor [que também pode ser acionado pelo telefone (73) 98822-8009] mostra que o itabunense mira nos dois sentidos: olhar atento para atender às necessidades dos artistas e, ao mesmo tempo, com o cotidiano, captar os interesses do público. Esse movimento fez com que ele tenha sido compositor exclusivo da gravadora Universal Music e hoje continue com a Sony Music.
O compositor é, ainda, agente da gravadora Somlivre, levando artistas e outros compositores, e compõe, inclusive, com parceiros em algumas músicas – um gesto nobre de quem deseja plantar uma semente também entre outras gerações. “Nada é para sempre; temos que ter humildade”, justifica.
Perguntado sobre o patamar financeiro a que o sucesso como compositor lhe permitiu chegar, o artista preferiu resumir: “Deu para organizar a vida”. Chegando a 25 anos de carreira, dos 42 de vida, e com tantos episódios de sucesso, perguntamos se está realizado. “Eu vou vivendo. Enquanto eu estiver vivo, estarei compondo. Sou realizado pela família, pelos filhos”, reflete.
Quando quisemos saber se ele se considera um grande compositor, Cuca responde: “Não. Eu sou um operário da música”. Porém, por todo esse caminho relatado e pela sagacidade de um empreendedor, posso acrescentar: “Elivandro Cuca é, de fato, um Mister – um Senhor – empresário da música. Em bom baianês, por que não dizer? De música em música Brasil afora, Mister Cuca “bota pocando”.