Minha trajetória na área de tecnologia iniciou cedo, quando eu tinha apenas 17 anos ingressei na graduação de Ciência da Computação, em uma turma de 40 colegas onde apenas 5 eram mulheres. Logo no início já me deparei com essa disparidade e algo muito diferente das colegas de ensino médio que eu convivi ao longo dos anos anteriores. Confesso que no começo achei um pouco estranho conviver com um público muito masculino, porém durante os 7 anos de graduação fui me acostumando.
Durante a graduação iniciei a minha trajetória docente ministrando aulas para alunos do ensino médio de um curso técnico em informática onde a grande maioria eram alunos do sexo masculino. E confesso que sempre parava e me fazia uma pergunta: por que temos tão poucas mulheres na área de tecnologia? Será que isso é devido a característica dos cursos dessa área? O que eu, enquanto profissional dessa área posso fazer para incentivar as meninas a ingressarem nessa área?
Estou há mais de 20 anos em sala de aula e posso garantir que quanto mais heterogeneidade tivermos nos grupos, mais discussões e enriquecimento teremos nas nossas relações e o quanto isso pode agregar na construção do nosso perfil. Atualmente trabalho em grupo de pesquisa para criação de sistemas, composto por 3 mulheres e 3 homens e posso acompanhar de perto as características diferentes, onde as mulheres se preocupam mais com detalhes e estética em relação do desenvolvimento dessas soluções e os homens muito atentos a como essas soluções irão funcionar, quais os problemas que devem ser resolvidos.
Atualmente vejo um movimento surgindo por parte das mulheres querendo tomar esse espaço na área de tecnologia, mesmo que essa área seja na sua grande maioria composta por homens. Um exemplo: Durante o último mês tivemos a eleição do novo diretório acadêmico da computação na Unilasalle e para minha surpresa e alegria a chapa vencedora era composta por 6 mulheres, ou seja, estamos fazendo a diferença, querendo trabalhar para o bem da área de computação.
No primeiro mês do mandato delas ocorreu o evento da Escola Regional de Computação do RS (ERCompRS 2022) e elas participaram firmemente na organização do evento, inclusive incentivando os colegas a participarem, e aumentando expressivamente as inscrições para as palestras e para o workshop na área de Robótica e Inteligência Artificial. Com isso vejo um comprometimento por parte delas em querer fazer parte do processo, em querer deixar o curso com a identidade delas, com isso mostrando para os colegas que é possível contribuir para o desenvolvimento e divulgação dos cursos da área de computação.
Outro ponto que gostaria de comentar é o fato de que os anos em que trabalhei em empresas na maioria das vezes os gestores eram homens e isso se deve ao fato de que temos um problema de base, ou seja, nos cursos de graduação o número de mulheres matriculadas é menor que o número de homens o que leva ao fato de que teremos menos gestoras do que gestores, porém como comentei anteriormente esse cenário está mudando.
Outra situação que ocorre é que culturalmente vivemos ainda em uma sociedade machista que por muito anos as mulheres não eram vistas como independentes, ou por que os homens não aceitavam ser comandados por mulheres ou por que se acreditava que elas eram incapazes de assumir cargos de responsabilidade, mas nas últimas décadas este cenário vem se alterando, em passos ainda lentos, com os movimentos em pró das igualdades de gênero, mais mulheres tem se inserido e assumido papéis importantes para a sociedade. Sabemos das dificuldades que não somente as mulheres ainda encontram, mas por sua combinação de raça, gênero e classes sociais (pobres e ricos).
E por fim, acredito que esse baixo interesse das mulheres pela tecnologia possa vir da educação em nível médio, onde muitas vezes esses cursos da área de computação não são tão conhecidos ou procurados, quando comparados aos cursos relacionados a administração, direito e nas áreas da saúde, como enfermagem e medicina. Talvez seja necessário desenvolver um trabalho de base, a exemplo da mudança da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) da Educação Infantil ao 9° ano do Ensino Fundamental, que em dezembro de 2017 foi homologada com a inclusão do termo: “Pensamento Computacional Diretamente Relacionado ao Aprendizado da Matemática e da Álgebra”. Associado ao pensamento computacional, cumpre salientar a importância dos algoritmos e de seus fluxogramas, que podem ser objetos de estudo nas aulas de Matemática, com isso aproximando os alunos do ensino fundamental a área de tecnologia.
Existem muitas áreas a serem trabalhadas na tecnologia, a exemplo do design de interfaces, experiência do usuário dentre outras.
Deixo aqui dois questionamentos para que possamos refletir: Por que as mulheres têm menos interesse do que os homens pela área de tecnologia? O que podemos fazer para aumentar o interesse das mulheres por essa área?
Esse artigo foi desenvolvido pela Prof. Me. Aline Duarte Riva