Mariana Benedito*
O termo autoconhecimento está sendo amplamente difundido, e você, caro leitor que me lê desde o início desta coluna, sabe o quanto eu falo aqui sobre ele e bato na tecla da importância de se olhar para dentro. Mas, muito embora o termo pareça estar na moda, te digo que a ideia de se conhecer, se investigar e se entender é mais antiga do que supõe a nossa vã filosofia. Aliás, é justamente a partir dela que vamos iniciar essa jornada de entendimento do que, afinal, é autoconhecimento. Na prática.
A filosofia busca, desde os primórdios da humanidade – cerca de 500 a.C. –, compreender as questões gerais e fundamentais relacionadas à natureza humana, ao conhecimento, à verdade, à mente, à linguagem e todo o universo em sua totalidade. Para estabelecer um conceito e significado, a filosofia é, segundo o Dicionário Aurélio, um pensamento inicialmente contemplativo, em que o ser humano busca compreender a si mesmo, e uma investigação da dimensão essencial do mundo real, indo além da opinião do senso comum que se mantém presa à realidade empírica e às aparências. Trocando em miúdos, conhecer a si mesmo não é um convite, uma busca e uma prática tão novas assim.
E nunca é tarde para começar essa caminhada. Nunca é tarde para dar o primeiro passo rumo a esta viagem interna. Eu, particularmente, acredito que o primeiro passo seja observar aquilo que incomoda. Parar de apontar o dedo para o defeito do outro e parar de reclamar que fulano age assim enquanto deveria agir assado. E a maneira que nós estamos agindo? Observar por que nos incomodamos – ou que parte dentro de nós se incomoda – com o comportamento do outro é chave de acesso a esse labirinto do fauno que é a nossa mente. Quando temos um problema com alguém, acredite, esse problema é totalmente nosso do que da outra pessoa. Que parte dentro de nós queria que o outro fosse diferente? É a parte controladora, que tem medo de não saber reagir ao novo e desconhecido; é a parte que gostaria de ser igual ao outro, mas não tem coragem; ou é, trazendo mais uma possibilidade, a parte dentro de nós carente e que criou uma ilusão de que o outro deveria suprir a expectativa que nós criamos para ele? Hein?
Olhar para esses incômodos e entendê-los como nossos nos dá ferramentas importantes para que possamos perceber as máscaras que utilizamos no nosso cotidiano. Os personagens que criamos para sermos aceitos, acolhidos, amados. Os aspectos que escondemos a sete chaves dos outros – e de nós mesmos – porque em algum momento da nossa vida assimilamos que mostrar tais aspectos não era legal, não era satisfatório, não seríamos bem vistos. Usamos, ao longa da vida, vários tipos de máscaras que camuflam quem somos de verdade, em essência. E essa máscara nem sempre é de bonzinho, de lobo em pele de cordeiro. Na grande maioria das vezes, camuflamos fraquezas e vulnerabilidades com uma máscara de fortes e autossuficientes. Escondemos sensações de desafeto, de carência com uma máscara de agressividade. E fugimos. Fugimos de identificar o que estamos tentando esconder. E o tempo passa, as máscaras ficam cada vez mais moldadas ao nosso rosto e mais nos identificamos com elas e mais fica doloroso tirá-las. Mas, como disse lá no comecinho, nunca é tarde para dar o primeiro passo.
Compreendendo a nós mesmos, os nossos incômodos e o que buscamos tanto esconder, fica mais fácil desenvolver a empatia pelo caminhar do outro, pelos processos de identificação que o outro utilizou, pelas máscaras que vestiu. Passamos a viver de uma forma mais leve, porque entendemos que estamos todos no mesmo barco. E estamos mesmo, amado leitor. Não é conversa clichê, não! Estamos todos aqui buscando fazer as coisas da melhor maneira que podemos, com as ferramentas que nos foram apresentadas. A grande questão é que alguns aperfeiçoam as ferramentas: calibram, afiam, limpam, afinam. Trocam ferramentas antigas por outras mais novas e melhores.
E para identificar essas ferramentas que precisam ser trocadas ou aperfeiçoadas, só há um caminho e eu acredito que você já saiba qual é.
Siga em frente!
– Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.
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