Mariana Benedito*
A notícia de maior repercussão na mídia mundial, na última semana, foi a execução da vereadora carioca Marielle Franco. Sabe-se como ocorreu, em quais circunstâncias, o que ela defendia, o que denunciava. Sabe-se da participação da legisladora nos movimentos sociais e na defesa dos Direitos Humanos. Sabe-se da sua história de vida, de lutas em prol de minorias, do trabalho de valorização e resgate da autoestima das mulheres negras, e não só. Porém, a sua morte traz à tona não somente sua história e engajamento social, mas também denota um peculiar – e alarmante – comportamento de massa: a necessidade de apontamento das falhas alheias.
Não trataremos aqui do caso Marielle e suas vertentes investigativas, muito embora sejam de suma importância para a construção do cenário sociopolítico do país. Mas o que pode ser observado em todo esse contexto é que, para o julgamento popular, tudo que é feito, sugestionado, abordado nunca é o suficiente. Existe uma egrégora de que o outro sempre deve fazer mais, se doar mais, se expor mais, mostrar mais sua verdade; em contrassenso ao que eu, como indivíduo atuante na minha vida e na sociedade, pouco faço. Aquele conhecido comportamento de criticar quem faz, sem nada fazer. Reclamar que faltou reboco em um tijolo para quem se predispôs a construir a ponte. Crítica, julgamento, externalização e cobrança para o outro por algo que eu não estou disposto – ou não sou capaz de fazer.
Existe uma gritante e avassaladora necessidade de diminuir o outro, denegrir, ofuscar o brilho. É uma busca pela falta, pela negatividade, pela falha, pelo percalço; em que todos se tornam juízes ferrenhos dos defeitos e imperfeições alheios, na tentativa de camuflar os seus próprios; colocando o foco e atenção no outro, esquece-se de olhar para suas próprias falhas, suas faltas e imperfeições.
Projeção. Um mecanismo de defesa muito comum e bastante utilizado por todos, em certa medida. Consiste em projetar, de fato, seus próprios pensamentos, desejos, sentimentos, motivações, visões de vida e mundo que são indesejáveis, inaceitáveis, vergonhosos, perigosos em outra pessoa ou em um grupo delas. Enxerga-se no outro aspectos próprios, mas que não se tem a preparação, estrutura psicológica, disposição ou coragem para percebê-los em si. Uma fuga feita pelo ego para que não se lide com suas próprias demandas e conteúdos.
É o velho, e não tão bom, dedo em riste. Que quando apontado, volta-se para aquele que aponta os outros quatro.
- Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.
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