O PSDB, que surgiu de uma dissidência no PMDB, tendo na linha de frente os rebeldes Franco Montoro, Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso, vive o pior momento político desde que foi fundado. A insatisfação com o então peemedebismo veio à tona com o surgimento do Movimento de Unidade Progressista (MUP).
O tucanato tem um bom tempo que governa o Estado de São Paulo, o mais rico da federação e maior colégio eleitoral. Na última sucessão para o comando do cobiçado Palácio dos Bandeirantes, quase 26 milhões de eleitores foram às urnas, o equivalente a 78% do eleitorado paulista.
Hoje, a legenda, que já teve um presidente da República reeleito, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, sem dúvida o tucano mais exótico, com vistosas plumas coloridas e bico reluzente, luta para recuperar a boa imagem de priscas eras.
Suas principais lideranças, dois ex-governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin e José Serra, também ex-ministro da Saúde do então governo FHC, estão sendo denunciadas, no âmbito da Operação Lava Jato, por esquemas de lavagem de dinheiro, corrupção e caixa dois. Como não bastasse, tem Aécio Neves, ex-gestor do Estado de Minas e ex-presidenciável, com problemas na Justiça, envolvido até o pescoço, como diz a sabedoria popular.
O que chama atenção é a mudança de comportamento do PSDB em relação a Lava Jato. O tucanato era só elogios a operação que conseguiu colocar o ex-presidente Lula na prisão e deixá-lo inelegível por força da Lei da Ficha Limpa.
Agora, o PSDB, tendo como porta-voz o ex-deputado federal Bruno Araújo, presidente nacional da sigla, diz que a Lava Jato está cometendo “excessos”. No tocante a Serra e Alckmin, age da mesma maneira que o PT agiu com Lula e José Dirceu. O dirigente-mor anda dizendo que Serra e Alckmin “gozam de plena confiança do partido”, que tudo não passa de mais uma intriga da oposição.
PSDB e PT, na defesa de seus filiados mais ilustres, são iguais, seguem a mesma cartilha do corporativismo. Jogam a sujeira para debaixo do tapete. Os “peixes” miúdos não têm o mesmo tratamento dado aos “graúdos”. O companheirismo não é democrático, tem suas preferências.
Resta ao PSDB torcer para que o prefeito Bruno Covas seja reeleito, fortalecendo assim a pré-candidatura do governador e colega tucano João Doria à sucessão de Bolsonaro. A não-reeleição do alcaide de São Paulo enfraquece a legítima pretensão palaciana do ex-bolsonarista.
A conquista do segundo mandato consecutivo de Bruno Covas é a tábua de salvação do PSDB.