“Temos a desestruturação integral do atendimento em saúde mental em Itabuna”



Por Celina Santos

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Raimundo Santana

A crise no atendimento psiquiátrico em Itabuna vem numa crescente há anos e a situação afeta um raio de mais de 100 municípios. Para o coordenador do Sintesi (Sindicato dos Trabalhadores em Saúde de Itabuna e Região), Raimundo Santana, não há como acreditar que só o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) dá conta de assistir os pacientes com problemas mentais. Sobre este assunto ele fala na entrevista a seguir.

 Como o senhor analisa a situação de Itabuna neste momento, no que se refere ao atendimento psiquiátrico?

Bastante precária. Mas eu iria além: não só Itabuna, mas o sul, baixo-sul e extremo-sul estão desassistidos de uma unidade de internamento psiquiátrico. E o resultado disso já é visível. Você pode enxergar, nas praças e ruas de Itabuna e região, doentes mentais perambulando.

 Até que ponto os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) suprem a necessidade de atendimento?

O projeto dos Caps é bastante ambicioso, mas só funciona bem para o paciente ambulatorial que tenha uma família estruturada e com um mínimo de interesse de assistir o paciente. A grande maioria sequer vive no seio da família e acaba ganhando as ruas. Esses os Caps não alcançam.

 Qual seria uma solução alternativa neste momento para Itabuna?

Os Caps não substituem as unidades de internamento. Os tempos mudaram, mas essas unidades têm que existir. Têm que ser humanizadas, fiscalizadas, acompanhadas e dar condições dignas para os pacientes. Temos críticas, mas entre ter críticas e extinguir há um abismo.

Então, o caminho seria a reabertura do Hospital São Judas?

Sabemos que saúde não tem preço, mas tem custos. Os doentes psiquiátricos são de alto custo. Tem medicação, alimentação; precisa de uma equipe multidisciplinar para assisti-los, com psiquiatra, enfermeiro, terapeuta ocupacional, psicólogo. Aqui em Itabuna, os munícipes e a sociedade não entenderam a importância do São Judas. Algo há de se fazer para ter uma unidade em condições de receber os pacientes e tirá-los das ruas, onde são tratados com desrespeito.

 Só o município teria condição de providenciar a reabertura desse hospital?

Hoje a situação do São Judas não é simples. Há dezenas de ações na Justiça de trabalhadores querendo receber os tempos. Existe a indisponibilidade do patrimônio por conta das dívidas; são cerca de 80 ações.

 E o caminho seria…

Quando o poder público entender o problema como prioridade e reunir os municípios da macrorregião sul, o estado, a Sesab, os conselhos municipais de saúde dessas cidades [o Hospital São Judas atendia a mais de 100], eu não entendo que seja impossível.

Foi mesmo o fechamento do São Judas que desencadeou a crise no setor?

Além do fechamento, houve uma derrocada dos serviços que funcionavam. Por exemplo, Dr. Neme atendia num ambulatório no Sesp. Depois que ele se aposentou, não foi substituído. É como se a doença mental não existisse. A unidade para internamento no Hospital de Base, que tinha quatro leitos, foi desativada há cerca de seis meses. Temos a desestruturação integral do atendimento em saúde mental em Itabuna.