O prefeito de Salvador, ACM Neto, já colocou para a cúpula nacional da sua legenda, o Partido do Democratas (DEM), as condições para disputar o governo da Bahia.
É evidente que a boa colocação nas pesquisas de intenções de voto tem o peso maior, mostrando que a candidatura do alcaide é competitiva.
Neto sabe que pode até perder a eleição para a reeleição do governador Rui Costa (PT). Correr o risco de uma derrota é inerente ao jogo político.
Não pode é entrar em uma aventura no escuro, sem perspectiva e nenhum ponto de luz que possa clarear uma possibilidade de vitória.
Neto espera que as articulações palacianas, tendo na linha de frente o demista Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, em torno do PR e do PP, sejam concretizadas.
O gestor soteropolitano quer o PP e o PR apoiando sua candidatura, ocupando duas vagas na chapa majoritária.
A preocupação-mor da oposição não é um eventual insucesso das manobras de Brasília para fortalecer ACM Neto, e sim com o julgamento de Lula no TRF-4, próximo dia 24.
Se Lula for liberado para disputar a sucessão presidencial, as coisas se tornam mais difíceis para o oposicionismo baiano. No Nordeste, principalmente na Bahia, Lula é um “Deus”.
Diria até que a elegibilidade de Lula é o fato mais incisivo para que ACM Neto não enfrente Rui Costa na sucessão do cobiçado Palácio de Ondina.
Geraldo, Josias e 2018
Só Geraldo Simões, ex-prefeito de Itabuna, pode esclarecer a informação de que vai trocar sua candidatura a deputado estadual por uma secretaria no governo Rui Costa.
As opiniões estão divididas, não só no staff do diretório municipal do PT, como também entre as legendas que integram a base aliada do governismo.
Tem os que acham que é uma “fake news”, mais uma notícia falsa entre centenas que vêm inundando as redes sociais. Outros admitem a negociação.
Como contrapartida, o ex-alcaide apoiaria as candidaturas de Rosemberg Pinto, para o parlamento estadual, e de Josias Gomes a federal, ambos na busca da reeleição.
A maioria dos geraldistas acha que Simões deve manter sua candidatura, mas tem uma parte considerável defendendo a sua nomeação para um cargo de primeiro escalão.
Os que querem Geraldo Simões em Salvador justificam com o argumento de que é o melhor caminho para restabelecer sua força política, hoje destroçada pelo próprio petismo.
Os que comungam com a opinião de que Geraldo seja candidato, acham que seria uma humilhação aceitar um acordo envolvendo “companheiros” responsáveis pelas sorrateiras articulações para enfraquecê-lo.
Outro problema é que Geraldo Simões teria dificuldades para convencer uma boa parte da militância em apoiar Rosemberg Pinto e, principalmente, Josias Gomes.
Enquanto o ex-prefeito de Itabuna não esclarecer de público o disse-me-disse, por enquanto como uma “fake news”, a dúvida vai permanecer.
É uma decisão que precisa de muita reflexão, já que as partes não merecem um cheque em branco.
Tudo na dependência de Lula
O processo sucessório presidencial só vai tomar um formato mais definido com o julgamento do ex-presidente Lula no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, com sede no Rio Grande do Sul.
O PT, como sabe que a decisão caminha para ser desfavorável ao líder, torce para que o petista-mor tenha um voto, que o placar seja de 2×1.
Esse único voto proporciona, com mais força e substância, os recursos, não só no próprio TRF-4, como no STJ e na Corte máxima, o STF.
De agora em diante, até o próximo dia 24, dia do julgamento, a expectativa é dia a dia. Cada dia com sua agonia, como diz a sabedoria popular.
Essa indefinição atinge todo os estados da Federação. Aqui na Bahia, por exemplo, a candidatura de ACM Neto ao Palácio de Ondina fica na espera da elegibilidade ou não de Lula.
No staff oposicionista, mais especificamente na sua cúpula, o que se comenta, muito reservadamente, é que o prefeito de Salvador não disputará a eleição se Lula for liberado pela Justiça.
Essa ansiosa dúvida em torno da candidatura de Lula afeta também o jornalismo político. Os senhores comentaristas têm que fazer suas análises com Lula e sem Lula na disputa.
O problema é que mesmo com uma derrota no TRF-4, até mesmo por unanimidade, a esperança de Lula disputar a sucessão vai continuar acesa.
O que se espera é uma “briga” entre a Lei da Ficha Limpa, que impede a candidatura de políticos condenados em segunda instância, com os tribunais.
A batalha final será no Supremo Tribunal Federal. É bom lembrar que foi o STF quem ampliou o alcance da Lei da Ficha Limpa no país.
Os políticos, corrupção e a fidelidade
Temos dois tipos de fidelidades: a partidária e a pessoal. A primeira é uma farsa, empulhação. A outra, obviamente entre pessoas, é mais, digamos, confiável.
O exemplo maior da infidelidade pessoal, da ingratidão entre os políticos, ocorre quando a criatura trai o criador, aquele que o colocou na política.
A revolta é mais acentuada quando a criatura, tida como um “poste”, se elege pelo esforço do criador, como aconteceu com João Doria, prefeito paulistano.
Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, foi o responsável pela eleição do alcaide, que logo depois passou a trabalhar para ser o presidenciável do PSDB.
Hoje, o “João traidor”, depois que percebeu que o eleitorado não aceitou a ingratidão com Alckmin, quer ser o pré-candidato a governador do tucanato.
Quanto a fidelidade partidária, o instituto, como já disse, não passa de um engodo, de uma inominável tapeação. O que prevalece é o toma-lá-dá-cá.
Os partidos estão desmoralizados, são instrumentos para satisfazer os interesses exclusivamente da classe política. É cada qual cuidando do seu quintal e o resto que se dane.
Chegando perto de mais uma eleição, o que se esperava era uma discussão programática. Que nada! Coisa nenhuma! A prioridade é o dinheiro público do fundo partidário, como distribuí-lo entre eles.
Justiça seja feita: somente o postulante do PDT, Ciro Gomes, vem percorrendo as universidades de todo o Brasil mostrando seu programa de governo.
A repercussão do bom programa de Ciro Gomes não ressoa mais porque a chamada grande imprensa boicota, já que tem seus candidatos.
O Estadão faz campanha para Henrique Meirelles, ministro da Fazenda de Temer. A Folha de São Paulo tem uma inclinação por Alckmin. As organizações Globo torcem pelo global Luciano Huck.
O sistema político-eleitoral ficou podre, cada vez mais fétido. É triste, muito triste, se deparar com a declaração de que “político é sinônimo de corrupto”.
Não é bem assim. Temos bons homens públicos, infelizmente poucos. O eleitor tem sua parcela de culpa quando não separa o joio do trigo.
Caiu a ficha
O PSB parece que acordou em relação à exclusão da senadora Lídice da Mata na composição da chapa majoritária do governismo, protagonizada pelo PT.
Depois de emitir uma incisiva nota de que não aceitará de braços cruzados a defenestração da parlamentar, a legenda já faz plano para lançá-la como candidata avulsa ao Senado.
O governador Rui Costa, que busca o segundo mandato e tem tudo para conquistá-lo, tem sua parcela de culpa nessa desarmonia na base aliada.
É que Rui, com receio de perder o apoio do PP e do PSD, fica dizendo, de maneira até contundente, que esses dois partidos são prioridades na formação da majoritária.
A reeleição de Rui fica cada vez mais dependente do PSD do senador Otto Alencar, que espera como contrapartida ser o candidato ao Palácio de Ondina na sucessão de 2022 com o apoio do PT.
Nos bastidores, principalmente da oposição, o que se comenta é que o começo do desentendimento entre Otto e o PT vai acontecer quando o senador perceber que ele não será o candidato do petismo em 2022.
Uma coisa é inquestionável: a exclusão de Lídice da chapa majoritária é um desrespeito ao seu bom mandato.