O mundo está passando por um momento turbulento. Todos nós sabemos perfeitamente disso. A necessidade de ficar em casa é expressa pelas autoridades competentes e nós, meros mortais, estamos forçadamente confinados.
Ficar em casa, para a maioria esmagadora da população mundial, é muito difícil. A gente mantém uma rotina cheia de compromissos, de trabalho, de tarefas que preencham o nosso dia para evitar que a gente ouça e observe o que se passa dentro da gente. Semana passada esta coluna trouxe algumas reflexões do que este momento pode trazer de aprendizados para as nossas vidas, algumas possibilidades de observação, mudança, percepção, identificação. A família está sendo basilar neste processo. As relações estão sendo prioridades neste processo. Acredito que esteja acontecendo um movimento de ressignificação coletiva. Nunca as pessoas estiveram tão distantes fisicamente e tão próximas emocionalmente. Creio que a gente nunca valorizou tanto um abraço, estar perto dos amigos e de quem a gente gosta. Creio que a gente nunca valorizou tanto o “ter para onde ir e para onde voltar”.
Mas, meu querido leitor, estamos apenas começando. Não chegamos nem na metade dos dias recomendados de isolamento social. E, como tudo nessa vida, passamos por fases neste processo. Primeiro a gente tem o ciclo de entendimento da pandemia. Iniciamos este processo negando a gravidade do problema, achando que é muito distante de nós e que com uma vitamina C todos os dias pela manhã, tudo se ajeita. Daí passamos a perceber que o negócio é real e está batendo à nossa porta de verdade. Ficamos histéricos! Ativamos o sistema psíquico mais arcaico e só pensamos na sobrevivência, no ficar vivo neste momento. Compramos e estocamos comida, remédio, álcool em gel. Pensamos em proteger os nossos.
Quando a histeria se ameniza e voltamos a pensar de forma equilibrada, nos bate a sensação de impotência, de tristeza, da incerteza do futuro. Passamos a pensar mais no coletivo e, muitas vezes, até sentimos vergonha de termos sido tão egoístas na fase da histeria. Depois a gente começa a refletir de que forma podemos contribuir, afinal de contas fazemos parte disso tudo, não é mesmo? Estamos diretamente inseridos neste contexto, fazemos parte do todo. De que forma posso me doar? De que forma posso contribuir para que a gente enfrente essa fase? Esses são os pensamentos que começam a surgir misturados com a tristeza e incerteza. O principal disso tudo, meu amado ser, é que ninguém é uma ilha. Ninguém é bom o suficiente que não precise de ajuda e ninguém é ruim o suficiente que não possa ajudar. Cada um a seu modo, do seu jeito, da maneira que pode. E nisso vale ligar para um amigo que mora sozinho e está se sentindo mais sozinho ainda. Vale participar ativamente das atividades da casa. Vale conversar com quem é próximo da gente e está sofrendo com o isolamento. Ninguém é uma ilha e este é o momento de unirmos forças.
Durante a quarentena, para preservar a nossa saúde emocional e mental, é bom que a gente busque manter, na medida do possível, o planejamento da rotina ou, até mesmo, incluir atividades que a gente não tinha tempo para realizar devido às atribuições do dia-a-dia. Mas nada pautado na cobrança, porque já são tempos difíceis demais.
As redes sociais e a tecnologia são ferramentas importantíssimas neste momento. Mas é fundamental que a gente também saiba filtrar os conteúdos que recebemos. Existe uma grande onda de pessoas falando sobre meditação, yoga, práticas que alimentem a nossa alma e nosso equilíbrio. E são realmente transformadoras! Mas, caso você, meu queridíssimo leitor, não esteja conseguindo implantar essas práticas durante este momento delicado, está tudo certo. Tudo tem seu tempo e cada pessoa é uma pessoa. Cada um de nós permeia pelas fases que conversamos aqui em cima de uma forma, com seu ritmo e suas reações. É preciso, mais do que nunca, respeitar as nossas emoções e sentimentos. Ouvi-los e acolhê-los. Com o máximo de amorosidade possível.
Vai passar.
* Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.
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