Vamos sair do castelo?


Coluna de Mariana Benedito - “riqueza imensa em abrir as cortinas para o real”


 

Olha, meu amado leitor, eu acredito plenamente que a maior ilusão que a gente pode carregar nessa vida é a de que temos de ser perfeitos. A perfeição humana, por si só, já é uma ilusão, meu caro! Ser humano significa ser imperfeito e ser imperfeito significa que a gente sempre tem – e terá – alguma coisa a desenvolver, aprimorar, aperfeiçoar. Imagine que coisa mais sem graça se não existissem os desafios, as questões para serem trabalhadas. A gente não sairia do lugar. E isso é a vida acontecendo! A vida é essa caminhada em direção à perfeição, com a consciência de que a gente não vai chegar no ponto final. E que, mesmo assim, está tudo certo porque o que importa é a direção e se manter na caminhada.

Agora repare, se nós não somos perfeitos, se todo mundo na face deste planeta chamado Terra tem aspectos a serem desenvolvidos, por que cobrar perfeição dos outros? Qual a lógica nessa equação? Desenha para mim, por favor, já que eu nunca fui boa em matemática.

Meu amado ser que me lê aí do outro lado, pegue aqui na minha mão e acompanhe meu raciocínio. As relações, em sua grande maioria, desandam quando a realidade entra em cena. A gente conhece alguém e cria uma idealização na cabeça. É isso mesmo. A gente cria um personagem no nosso mundo da imaginação que vai suprir o que a gente deseja, que vai ser em cada mínimo detalhe como a gente quer, que vai ter o comportamento que a gente acha que precisa, que vai andar exatamente em cima da linha que a gente traçar. Só que a gente se esquece de um detalhe, meu bem. Pequenininho, quase nada, coisa pouca… o personagem só existe na cabeça da gente! Quem está ali, na nossa frente, diante dos nossos olhos, é um ser humano feito de carne, osso e erros. E aí, eis que quando a gente se dá conta disso e a idealização e fantasia saem de cena para a realidade ser a estrela principal, a gente corre léguas, porque não sabe lidar com o real. Na verdade, no fundo, a gente até foge do real. É muito mais fácil lidar com a fantasia, com a nossa idealização. Mas enquanto vivermos somente neste universo da imaginação, não estaremos vivendo o que a vida nos oferece. Não estaremos no aqui e no agora.

E existe uma riqueza imensa em abrir as cortinas para o real. É justamente quando a gente conhece a realidade deste outro ser, que a gente enxerga a sua humanidade, suas falhas, seus erros, seus medos é que a relação de fato acontece, que ela se consolida. Ninguém troca com um personagem, ninguém recebe de uma fantasia. O personagem precisa morrer para dar espaço à pessoa de verdade que está ali. E a gente precisa aprender a lidar com isso.

Só assim que dois iguais se relacionam. É aí que dois adultos se entregam e constroem juntos.

Saímos do castelo da idealização e vamos rumo à construção de bases sólidas para um relacionamento saudável e duradouro.

É aí que o amor real é chamado para fazer morada.

 

* – Psicanalista em formação; MBA Executivo em Negócios; Pós-Graduada em Administração Mercadológica; Consultora de Projetos da AM3–Consultoria e Assessoria.

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