A passarela e os flashs que há 10 anos acompanham o modelo e tatuador soteropolitano Carlos Henrique Santos Netto hoje fazem parte apenas das lembranças. Há dois meses, ele viu transformado em pesadelo o sonho de trabalhar por um período em Istambul, a capital da Turquia. Aos 28 anos, o rapaz é um dos 120 brasileiros que estão no país, cujo aeroporto foi fechado devido ao coronavírus.
Em um apelo desesperado que enviou à família pelas redes sociais, ele pede socorro às autoridades do Brasil em busca de repatriação. Afinal, conta, foram frustradas todas as tentativas de apoio junto à embaixada e ao consulado brasileiros.
Sobre os compatriotas, explica que muitos foram ao território turco como turistas e tiveram cancelados os voos de retorno. Outros lá aterrissaram a trabalho e foram deixados à mercê pelas empresas que os contrataram. A cada dia sem perspectiva de voltar à terra natal, aumenta o desespero.
“Muitos de nós temos o dinheiro contado, em breve não poderemos comprar comida, alguns têm data para sair de onde estão residindo e não podem pagar mais. Já preenchemos os formulários que o Itamaraty enviou, preenchemos o formulário da Embaixada, não tivemos nenhum retorno, preenchemos formulário de Repatriação, mas não estamos tendo uma resposta efetiva e muitas vezes nos enviam apenas respostas automáticas!”, relatou.
Pandemia e assédio
Acuado, Henrique roga por esclarecimento sobre caminhos que o grupo possa buscar. Além de saber que as fronteiras da Turquia estão fechadas, o jovem teme diante do avanço dos casos do novo coronavírus naquele país. “Hoje a Turquia é considerada a primeira colocada no Oriente Médio e nona colocada no mundo em casos de Covid-19”, lamenta.
Sobrinho da corretora itabunense Cleide Leandro, o rapaz também se compadece com a situação de mulheres brasileiras que estão conhecendo a face do assédio e preconceito naquela nação. “Já existem relatos de brasileiras que estão sendo assediadas onde procuram se hospedar. Três árabes tentaram invadir o quarto de uma brasileira durante a noite, ela reportou ao dono do hotel, que a tratou com indiferença”, exemplificou, ainda fazendo referência aos episódios de xenofobia sofridos durante idas ao mercado.
Pela passarela do lar
O modelo soteropolitano também contou sobre um brasileiro que está “encubado” por conta do vírus e que o próprio consulado considera com poucas chances de sobreviver. “Quando informei isso ao Itamaraty, apenas me responderam que estão acompanhando o caso. Porém, já estamos nessa situação há quase DOIS MESES!!! (…) Quero saber até quando vai ficar esse descaso com a gente, pessoas de bem, que estão aqui com familiares, apenas querendo voltar para casa, para seu país!”, postou, num verdadeiro grito de socorro divulgado pelos parentes dele.
Os familiares do modelo também tentaram contato com a embaixada e até então não receberam uma perspectiva de data para a repatriação do grupo. Esta reportagem é mais uma tentativa de fazer chegar às autoridades competentes um enésimo apelo para resgatar brasileiros reclusos em terras estrangeiras.
A exemplo de tantos que estão em outros países, o apelo de Henrique é para ter o direito de desfilar pela passarela do regresso, entrar no lar e poder seguir um verdadeiro mantra disseminado no nosso país, para escapar dos crescentes registros de contaminados e mortos pelo coronavírus: #FiqueEmCasa.