A impressão que ficou na última entrevista de Luiz Henrique Mandetta é que o ministro da Saúde chegou no limite com o presidente Jair Messias Bolsonaro, que não vai mais suportar o comportamento do chefe do Executivo diante da gravíssima crise provocada pelo novo coronavírus.
Em conversas reservadas, pessoas mais próximas do ministro já admitem que ele pode deixar o governo se o comandante do Palácio do Planalto tornar a desprestigiá-lo de público, obviamente se referindo ao infeliz e desastroso pronunciamento de Bolsonaro em rede nacional de televisão.
Bolsonaro costuma, ao seu estilo, de maneira açodada e sem medir as consequências, constranger seus auxiliares, desfazendo medidas já em curso e tornadas públicas, como aconteceu com Sérgio Moro, ministro da Justiça e Segurança Pública.
Segue abaixo algumas declarações de Mandetta interpretadas, tanto pela oposição como pelo governismo, como um teste para ver se o presidente Bolsonaro iria novamente desautorizar o ministro da Saúde, criando mais um constrangimento.
1) “A pandemia de coronavírus não é uma “gripezinha””.
2) “Estamos preparados para o pior cenário, com caminhões do Exército transportando corpos pelas ruas?”.
3) “Daqui a duas semanas, três semanas, os que falam em fazer carreatas para que o comércio funcione, vão ser os mesmos que ficarão em casa”.
4) “Estamos na pista, mas os estudos são muito incipientes”. (se referindo ao uso de medicamentos no combate ao coronavírus).
Mandetta, que é filiado ao DEM, partido presidido nacionalmente pelo prefeito de Salvador, ACM Neto, defendeu incisivamente o isolamento social e ainda aconselhou o chefe a não menosprezar a gravidade da situação. Disse também que Bolsonaro precisa “criar um ambiente favorável para um pacto entre União, Estados, municípios e setor privado”.
Das declarações de Mandetta, a que mais chamou atenção, a mais provocativa no sentido do limite a que me refiro no título do editorial, foi a de que “o coronavírus não é gripezinha”. Poderia muito bem substituir “gripezinha” por “resfriadinho”.
Que o presidente Jair Messias Bolsonaro ouça o ministro Mandetta, sob pena de ser responsabilizado por uma catástrofe sem precedentes na história do Brasil.