A Major Denice Santiago tornou-se um dos símbolos do combate à violência contra a mulher, criando na Bahia a Ronda Maria da Penha. Iniciada em 2015, a ação policial busca ser um instrumento para o cumprimento da Lei Maria da Penha, já no 13º ano em vigor em todo o país. Homenageada com o Título de Cidadã Itabunense, proposto pela vereadora Charliane Sousa, a policial conversou com o Diário Bahia sobre o cenário que permeia a sequência de agressões à figura feminina Brasil afora.
Questionada sobre como analisa o “boom” que a violência contra a mulher está tendo – ou, pelo menos, a visibilidade dessa projeção, Major Denice elaborou: “Eu sempre explico que a lei Maria da Penha é um ventilador gigantesco. Toda essa violência tava escondida embaixo de um tapete; quando essa lei chegou, a gente ligou esse ventilador e levantou o tapete”.
Para ela, é um marco ver tantas mulheres denunciando crimes, apontando as violências que elas sofrem. “Esse é um marco importante, é um dado para que nós avancemos nossas políticas públicas e possamos, de uma vez por todas, reconhecer que a violência existe para, a partir daí, atuar para a sua repressão”, completou.
Doença social
Sobre a maneira como a Justiça age após a mulher agredida denunciar, a major chamou a atenção para uma esfera mais ampla desse problema. Ela ponderou que a violência doméstica familiar não é apenas a Justiça, a Segurança Pública; a questão é social. “É uma doença social, que precisa ser tratada por todos os órgãos. O que a gente chama de uma Rede de Enfrentamento da Violência contra a Mulher, que vai da imprensa, do vizinho, do colega, do amigo ao policial, ao juiz, ao promotor, enfim, todos esses”.
E acrescentou: “Ninguém consegue coibir uma violência cultural como essa, que é socialmente aceita, socialmente autorizada, sem que haja uma mudança no comportamento de toda a sociedade”, alertou a policial.
Quando quisemos saber se ela entende que o cumprimento da Lei Maria da Penha na Bahia está no nível desejado ou estamos longe desse patamar, Major Denice explanou, num tom esperançoso: “Meu sonho é que a Ronda Maria da Penha seja desnecessária. Eu trabalho pra isso; trabalho pra que um dia se lembrem que houve violência doméstica na sociedade, mas que isso não existe mais”. E avisou: “Então, não sei se está longe ou está perto, mas o que eu sei é que a gente começou e a gente não vai parar”.