O PT tem o costume de criticar os acordos políticos, seja nas eleições para prefeito, governador ou presidente da República. A missão é desqualificar, desdenhar e atacar qualquer aliança que possa prejudicar o partido. Farinha pouca, meu pirão primeiro, diz a sabedoria popular.
É um Deus nos acuda quando uma legenda de esquerda (ou centro-esquerda) conversa com outros segmentos ideológicos ou lideranças políticas que não seguem a cartilha do chamado lulopetismo.
Só o PT pode se aliançar visando seus interesses, suas conveniências e o melhor caminho para conquistar o poder. O maquiavelismo do PT é aceitável, faz parte do jogo. O das outras agremiações partidárias é abominável.
Que coisa, hein! As articulações do petismo são interpretadas como sabedoria política, jamais como oportunismo, incoerência ou desvio de rumo. As dos outros partidos são ridículas, deploráveis, um desrespeito à militância.
Assim que surgiram os primeiros indícios de que o PDT poderia se aproximar do DEM em torno da sucessão de Salvador, na disputa pelo comando do cobiçado Palácio Thomé de Souza, o PT só faltou dizer que a sigla era de extrema direita.
Esquecem os petistas que seu ídolo maior, Luiz Inácio Lula da Silva, chegou à presidência da República com uma vasta e plural aliança. “O PT é como uma galinha que cacareja para a esquerda, mas põe os ovos para a direita”, dizia o saudoso Leonel de Moura Brizola.
O segundo turno em Feira de Santana, o maior colégio eleitoral do interior, é a prova inconteste de que o PT não pode jogar pedra no telhado do vizinho, já que o seu, além de ser também de vidro, é muito frágil, não aguenta sequer um caroço de umbu.
Ora, o candidato Zé Neto (PT), para enfrentar o atual gestor Colbert Martins (MDB), que busca o segundo mandato consecutivo via instituto da reeleição, está fazendo alianças tidas como improváveis, reunindo políticos do DEM de ACM Neto e do PSL, que elegeu Bolsonaro, no mesmo balaio.
A deputada federal Dayane Pimentel, que dizia horrores do PT e dos petistas, aparece até na propaganda eleitoral pedindo votos para o agora neoaliado Zé Neto. Vale lembrar, pelo menos para os incautos, que a parlamentar se elegeu com um discurso antipetista e dizendo que o então candidato Bolsonaro era a salvação do Brasil.
Tem também o deputado demista Targino Machado, que com um piscar de olhos virou um entusiasmado cabo eleitoral de Zé Neto. Esse deputado, em decorrência de abuso de poder econômico na campanha de 2018, teve seu mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Portanto, para finalizar o editorial de hoje, cuja intenção é chegar ao número 1000, digo que o PT precisa deixar a soberba de lado, calçar as sandálias da humildade e reconhecer que sua hegemonia no campo da esquerda é coisa do passado, de priscas eras. Não existe o “Lula acima de tudo, Deus acima de todos”.