A “Bancada do Despertar” é a nova atividade de Terapia Integrativa criada pela equipe de fisioterapeutas do Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio, em Ilhéus. O trabalho consiste em oferecer na Unidade de Terapia Semitensiva Neonatal (Ucinco) ações de fortalecimento de cervical, tronco e pescoço, alongamento, rolagem e utilização da bola suíça em bebês prematuros que não alcançaram marcos de uma gestação completa. Um outro destaque nesta ação é a participação efetiva da puérpera em todos os exercícios, ao lado das psicólogas e fisioterapeutas da instituição.
A coordenadora de Fisioterapia do HMIJS, Virgínia Marilena, explica que com este modelo de estimulação sensório-motora é possível aplicar técnicas que estimulem a percepção vestibular, visual e tátil dentro do limite de tolerância de cada criança, contribuindo para minimizar as possíveis desordens do desenvolvimento em prematuros internados por longo tempo. Depois de a equipe de fisioterapia apresentar os exercícios, a própria mãe os executa, com movimentos evolutivos e trocados toda vez que o RN adquirir a postura correta. Os exercícios são diários.
Evolução
Vitorya é a quinta filha de Maria Cristina dos Santos, de 27 anos. Residente em Uruçuca, o bebê nasceu prematuramente, em trânsito, dentro da ambulância durante o trajeto para a maternidade. Vitórya – que está há um mês na UTI – é um dos primeiros bebês a participar do novo projeto. “A evolução está ótima”, assegura Maria Cristina. “E estar aprendendo a executar esses exercícios me deixa mais segura. Inicialmente a gente tem mais medo pelo tamanho dela, mas depois a gente percebe que pode ir além e que vai ser bom para o desenvolvimento da criança”, completa.
A psicóloga Danielle Mattos lembra que o fato de estar acompanhando por um período acima da média a filha no hospital – e mais especificamente na UTI -, deixa Maria Cristina fragilizada. “Então, nesse momento específico, não se trata de um agrado psicológico. Mas uma forma de fazer com que ela participe da condução e que traga tranquilidade pra ela. Por que esse é o objetivo”, afirma. A psicóloga destaca ainda que esta também é uma forma em que as mães se sentem ainda mais acolhidas pela equipe. “Elas percebem que a equipe tem um comprometimento que ultrapassa a barreira do hospital e que, além do cuidado aqui dentro, esses laços permanecerão por um longo prazo”.
Limitação do serviço
É que os bebês prematuros dependem de fisioterapia ambulatorial após a alta. Mas em algumas cidades não há atendimento gratuito do serviço na rede pública e as distâncias até o ambulatório do HMIJS, onde o serviço continua sendo prestado, são grandes. A equipe pensou no déficit de desenvolvimento neuropsicomotor do bebê, trazendo a mãe para participar deste cuidado. “Quando ensinamos a mãe como ela deve executar os movimentos não é dizer que ela será a fisioterapeuta do bebê, mas que ela saberá como posicionar melhor, brincar, estimular mesmo dentro de casa”, afirma a fisioterapeuta Lorena Santana, também integrada ao projeto.
A coordenadora Virgínia Marilena também destaca que existem bebês que, por conta da prematuridade, “serão bebês atípicos e aí esse cuidado deverá ser redobrado e esse caminho para a fisioterapia tem que ser mais bem feito ainda”. E explica que a ideia de convidar a equipe de Psicóloga para agregar-se à iniciativa – que já contava com o apoio da Enfermagem – surgiu por entender que o trabalho na UTI não é feito apenas com o bebê internado. “A família vem junto. A gente cuida de uma família inteira. Quando vem um bebê, vem uma mãe, um pai, acompanhando”.
Perfil do paciente
A “Bancada do Despertar” é destinada aos RNs com menos riscos, internados na UTI Intermediária, com peso superior a 1.200 Kg. O tempo de tolerância dos exercícios está diretamente relacionado à capacidade do bebê suportar os movimentos. Para além deste novo projeto, a equipe de Fisioterapia do HMIJS já promove outras ações humanizadas, a exemplo do Polvo Terapêutico (que auxilia na oxigenação do RN), da Redeterapia e do Banho de Ofurô (que trazem a sensação de permanência no útero materno), ações que auxiliam na recuperação do bebê.
Rede pública
Única maternidade 100 por cento SUS do sul da Bahia, o Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio foi inaugurado em dezembro de 2021 dezembro pelo Governo da Bahia. Desde então, é administrada pela Fundação Estatal Saúde da Família (FESF SUS). Possui 105 leitos para obstetrícia, partos normal e de alto risco, pediatria clínica, UTIs pediátrica e Neonatal e já ultrapassou a marca de seis mil bebês nascidos na unidade.